Ministério Público e Fiocruz Brasília se unem para falar sobre violência doméstica

Fiocruz Brasília 20 de março de 2017


Colóquio tratou do machismo e violência enfrentado pelas mulheres há tantos anos

De 2006 a 2016, foram registradas 33 mil denúncias de violência doméstica contra as mulheres e expedidas 93 mil medidas de segurança no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Esses dados foram apresentados pelo procurador geral de Justiça, Leonardo Bessa, durante Colóquio sobre Violência Doméstica contra a Mulher: reflexões sobre gênero, poder e atuação em rede.
O debate sobre os desafios vivenciados pelos profissionais da área psicossocial no enfrentamento à violência doméstica contra a mulher foi o tema que reuniu mulheres e homens no dia 16 de março, no auditório sede do MPDFT.  

A maneira como a mulher é retratada historicamente ajuda a compreender a violência contra a mulher que ainda persiste atualmente. Foi o que a mostrou a filósofa Márcia Tiburi durante o debate. De acordo com ela, a violência contra a mulher é um problema que está ligado aos aspectos culturais, com a condição simbólica de inferioridade da mulher. Citou Aristóteles ao falar de sua visão da natureza sobre o homem, que é considerado perfeito e detentor de alta capacidade de inteligência e força enquanto a mulher, segundo ele, vista como um ser fraco, frágil, sem poder, incapaz de se defender e feita para servir os homens. Algo repetido por séculos e com consequências na humanidade até hoje.

“Todas nós conhecemos de perto a violência doméstica. Somos, já fomos ou conhecemos alguém que já foi vítima direta e muitas se silenciam com medo de sofrer mais violência”, afirmou Tiburi. Para ela, a violência é tão constante que já foi naturalizada por algumas pessoas. “Às vezes consideramos uma sorte nunca ter acontecido conosco”, explica.

Para mudar essa situação e construir uma sociedade melhor e mais justa, a filósofa sugere que o caminho é ocupar os espaços, já que apenas 10% dos cargos políticos são ocupados por mulheres. “Precisamos mudar quantitativamente e qualitativamente o Congresso Nacional. O poder é a ação conjunta e as redes auxiliam”, destacou.

A colaboradora da Fiocruz Brasília Tatiana Novais apresentou o trabalho em rede realizado pela instituição. De acordo com ela, as redes facilitam fluxos, conectam pessoas e recursos e formam inteligência no território.

Ao todo, existem no Distrito Federal cerca de 18 redes sociais, que discutem assuntos relacionados aos locais de atuação, entre eles a violência doméstica. Para resolução dos problemas da comunidade, a rede conta com aspectos como: pauta construída coletivamente, trocas de experiências, grupos de trabalho, divisão de tarefas e ambiente colaborativo.

Tatiana apresentou também o Encontro de Redes em Brasília que é realizado desde 2013, com oficinas preparatórias para o encontro anual. “A rede não tem coordenação, por isso as reuniões são feitas de forma que todos fiquem em um círculo, mostrando a horizontalidade e que todos os presentes estão próximos ao poder.”

A Fiocruz Brasília vai capacitar o trabalho de redes do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios com a Procuradoria, Ministério Público e promotorias de justiça sobre o tema violência doméstica.