Beatriz Muchagata (CTIS/Fiocruz Brasília)
Atividade pré-Abrascão utilizou metodologia de inteligência de futuro para construir cenários e orientar estratégias de fortalecimento do sistema de saúde
Nos dias 28 e 29 de novembro, a oficina “Diálogos Prospectivos: SUS em tempos de crise”, realizada como atividade pré-Abrascão [14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2025)], reuniu gestores, trabalhadores, pesquisadores e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) para analisar desafios atuais e projetar caminhos possíveis para o futuro do sistema diante de crises sanitárias, climáticas, econômicas e informacionais. A condução da oficina foi feita pelo pesquisador Wagner Martins, coordenador do CoLaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade (CTIS) da Fiocruz Brasília, com coordenação-geral do bioquímico, sanitarista e ex-ministro da Saúde, Agenor Álvares, e participação da diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.
A atividade teve como principal objetivo promover, por meio da Metodologia de Diálogos Prospectivos, a colaboração entre diferentes atores do ecossistema da saúde para a construção de cenários e de uma agenda de ações voltada ao fortalecimento do SUS. A proposta foi articular diferentes perspectivas — do poder público à academia e à sociedade civil — para pensar respostas estratégicas aos desafios contemporâneos.
A metodologia utilizada integrou enfoques situacional e prospectivo, combinando análise estrutural, identificação de fatores e incertezas críticas, geração de hipóteses e elaboração de cenários possíveis. Os participantes trabalharam com ferramentas da inteligência de futuro e da gestão comunicativa, o que permitiu a criação de narrativas coletivas orientadas para a ação.
Inspirada na Teoria do Jogo Social, de Carlos Matus, e em conceitos da prospectiva estratégica de Michel Godet e Schwartz, a oficina conduziu os grupos a refletirem sobre o presente do SUS, anteciparem tendências e definirem um cenário-foco considerado plausível, factível e viável. A partir desse cenário, foram delineadas direções estratégicas para a implementação de ações futuras.
“Essa oficina foi um importante momento de reflexão sobre as tendências impulsionadoras de futuro que impactarão o sistema de saúde, o nosso SUS. Os cenários criados durante esse processo, para um horizonte temporal de 15 anos, poderão servir para uma consulta social mais ampla cujo resultado ajudará as decisões estratégicas dos atores sociais que atuam no campo da saúde”, destaca Wagner Martins, coordenador do CoLaboratório CTIS.
Martins destaca, ainda, que um evento de probabilidade alta que consta no cenário provável é o domínio de um modelo híbrido público-privado, marcado pela crescente presença empresarial nos municípios e pela influência da classe média e do setor privado nos conselhos de saúde. “Penso que isso pode ser visto como uma possível ameaça ao SUS público e universal e que exige estratégia intersetorial para afasta-lá”, afirma o pesquisador.
Ao final do processo, o espaço se consolidou como ambiente de escuta, diálogo e construção coletiva, reforçando a importância do pensamento estratégico e da participação social na defesa e fortalecimento do SUS em contextos de crise e transformação.
LEIA TAMBÉM