Mulheres fortalecem saberes e práticas de Cuidado no II Módulo de Formação-Ação em Marabá (PA)

Fiocruz Brasília 28 de novembro de 2025


Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)

 

Entre os dias 24 e 26 de novembro, Marabá, no Pará, recebeu o II Módulo de Formação-Ação em Promoção da Saúde e Participação Social. O encontro foi marcado pela troca de experiências, reafirmação de identidades e fortalecimento das lutas dos povos e do cuidado em saúde.

 

Durante os três dias de atividade, mulheres de diferentes comunidades, aldeias e organizações, criaram um espaço vivo de aprendizagem coletiva, onde o território se configurou como raiz e caminho para entendê-lo não apenas como espaços geográficos, mas como uma trama de relações que sustenta a vida. Ficou nítido o quanto território é memória, corpo, história e resistência para os povos do campo, das águas e das florestas.

 

É o que refletiu Maria José, educanda da Formação-ação, ao abordar a questão de que, para se pensar o território, requer olhar para dentro, para o corpo e para as vivências. “Território não é só a terra em si, mas também o nosso corpo, a nossa vida. Fortalecer a comunidade é entender como é importante falar de território e saúde”, afirmou.

 

Na mesma perspectiva, a educadora popular, pedagoga e defensora dos direitos humanos, Gilvânia Ferreira, analisou desigualdades, cultura e políticas públicas de saúde na região e, durante o encontro, aprofundou a relação entre território, desigualdades sociais e práticas de cuidado. Para ela, o território é uma construção viva e cotidiana, marcada tanto por violações quanto por resistências.

 

“O território é construído cotidianamente, coletivamente, pelos sujeitos que lutam e ali resistem. E esse território é permeado por realidades diversas que compreende todo um processo de desigualdades, mas também de lutas permanentes para combatê-las”, ressaltou.

 

Gilvânia explicou, ainda, que essas desigualdades aparecem de forma evidente no acesso às políticas públicas — especialmente na saúde. “A política de saúde é um direito. A população que vive nos territórios precisa conhecer seus direitos para acessar o SUS e, assim, enfrentar desigualdades no cuidado.”

 

A região de Marabá e adjacências possui uma grande diversidade de culturas que têm influências indígenas e africanas. Essa herança é o que constitui os saberes e fazeres tradicionais vigente até os dias atuais, como a cerâmica, a culinária, o uso das ervas, a carpintaria artesanal de rabetas/barcos, entre outras, em sua maioria confrontados pelo saber científico e tecnológico da atualidade.

 

A educadora Gilvânia dialogou com essa perspectiva ao destacar que a cultura é parte essencial da saúde nos territórios. “A cultura permeia a vida, as ações e as manifestações simbólicas. São as parteiras, rezadeiras, os chás, as trocas de experiências que transformam o território em espaço de cuidado, vida e sociabilidade.”

 

Para ela, reconhecer essas práticas é reconhecer a centralidade das pessoas que constroem o cotidiano comunitário. E ainda alertou sobre o equívoco de se ignorar esses saberes, pois compromete a efetividade das políticas públicas. “Negar políticas públicas é negar o direito à vida. Os territórios têm saberes construídos coletivamente ao longo de décadas, e as políticas precisam reconhecer e atender suas demandas.”

 

Em situações em que práticas tradicionais e normas institucionais entram em conflito, Gilvânia defende que sejam realizadas ações articuladas e respeitosas. Dessa forma, o espaço de Formação-ação em saúde reforçou uma compreensão compartilhada entre as mulheres: não existe cuidado em saúde sem cuidado com o território. As falas, vivências e reflexões que atravessaram os dias de encontro reafirmaram a força da organização coletiva e o papel central da cultura na promoção da vida.

 

É o que Tipepew Suruí, da etnia aikewara, aldeia Yetá, reforçou ao compartilhar o sentido de pertencimento e responsabilidade compartilhada. “É muito importante estar participando com as mulheres aqui. Um território é uma terra boa. Voltar para a aldeia e conversar com meu povo sobre território e saúde e tudo o que está acontecendo faz parte da nossa luta.”

 

O Projeto Territórios de Cuidado segue fortalecendo as raízes e as asas de cada um e cada uma — raízes no território e asas para que cada mulher leve consigo a potência das trocas e aprendizados, fortalecendo suas comunidades e ampliando a luta por direitos, saúde e bem-viver.

 

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