Territórios da Construção de Si: Políticas Públicas da Juventude e processos formativos de participação social

Adrielly Reis 30 de outubro de 2025


Fernanda Severo (Nusmad/Fiocruz Brasília)

 

Em alusão ao mês em que se celebra internacionalmente a Saúde Mental (10 de outubro), a Fiocruz Brasília reafirma seu papel estratégico na construção de políticas públicas voltadas à saúde mental, cultura, educação e inclusão social de adolescentes e jovens em situação de acolhimento institucional e egressos. As ações realizadas neste mês consolidam respostas concretas e processuais às demandas de saúde mental coletiva apresentadas durante a Comissão Geral “Desafios e Caminhos para a Desinstitucionalização de Adolescentes e Jovens pela Maioridade”, promovida pela Fiocruz Brasília, por meio da pesquisa-ação Territórios da Construção de Si — desenvolvida pelo Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad), em parceria com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) — e realizada na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em outubro de 2024.

 

Naquela ocasião, adolescentes e jovens que vivenciaram o acolhimento institucional ocuparam o plenário da CLDF e, em ato inédito, apresentaram seus relatos e reivindicações sobre moradia, trabalho, saúde, educação e preconceito, marcando um marco histórico de escuta pública e participação social. A partir desse encontro, a Fiocruz Brasília e seus parceiros se comprometeram com a construção de respostas interinstitucionais permanentes, capazes de transformar a escuta em ação e a vivência em política pública.

 

Entre os principais desdobramentos, destacam-se a consolidação dos diálogos formativos e amadurecimento das práticas participativas em ambientes universitários com equipes compostas por docentes, pesquisadores e estudantes de Comunicação Social da Universidade de Brasília (UnB) e do Direito do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), parceiros que atuam nos movimentos sociais do campo.

 

Na UnB, o subprojeto Protagonismo Jovem – Feiras, Hortos, Saúde Integral, Cultura, Comunicação e Mobilização Social, as oficinas de educação midiáticas, iniciadas neste mês de outubro de 2025, representam um novo ciclo de formação cidadã e profissional, com ênfase em audiovisual, fotografia, mídias digitais e comunicação comunitária. Voltada a adolescentes acolhidos, jovens egressos e estudantes campesinos, a iniciativa amplia oportunidades de qualificação e o acesso a espaços públicos, culturais e de expressão, promovendo saúde mental, pertencimento e inclusão social de forma horizontal. As oficinas e atividades se estenderão até dezembro na UnB, nos assentamentos na área rural e feiras, vinculam-se aos debates sobre a agenda ambiental, aos mananciais de água no Cerrado e à produção sustentável de economia colaborativa.

 

No Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), a retomada dos diálogos ocorreu no dia 4 de outubro de 2025, com o encontro “Políticas Públicas da Juventude: da cartografia dos sonhos ao Direito”. A ação formativa integra os adolescentes em acolhimento, jovens egressos, estudantes de Direito e pesquisadores em um espaço de aprendizado mútuo e produção de conhecimento comprometido com os direitos humanos. O encontro marcou um passo importante no fortalecimento da cooperação voltada à formação profissional, à reflexão jurídica e à aproximação com o mundo do trabalho, tensionando a teoria e a prática por meio da escuta ativa das experiências concretas das juventudes e da potencialização da reescrita de modo acessível dos conteúdos das políticas públicas destinadas aos jovens.

 

Dentre os jovens egressos que compartilharam suas experiências, David Alcides dos Santos Cunha, de 19 anos, contou: “eu, dentro de casa, via muitas coisas. (…) E nos lugares de acolhimento, para aqueles que estão da porta para fora é uma vivência diferente. Se um dia vocês tiverem a oportunidade de conhecer uma unidade de acolhimento, qualquer uma que seja, acho muito bacana aquelas pessoas que se aprofundam na ideia de conhecer, vocês vão ver coisas que nunca viram, é cada vivência que vocês não têm noção”.

 

O diálogo foi orientado pela nota técnica “Cidadania plena e autonomia incertas: impactos da desinstitucionalização para jovens acolhidos e oriundos de Unidades de Acolhimento do Distrito Federal”, elaborada pelo Nusmad/Fiocruz Brasília e pela Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude (PJIJ/MPDFT), que analisa os impactos da desinstitucionalização e propõe diretrizes para a proteção integral da juventude. Os encontros e produção de materiais comunicacionais serão cocriados entre outubro e dezembro, sendo incorporados pelos próprios jovens, pesquisadores sociais nos canais de comunicação do projeto e nas atividades de multiplicação com adolescentes que ainda vivem nos serviços de acolhimento.

 

Esse conjunto de práticas colaborativas compõem uma estratégia integrada e intersetorial de cuidado, que une ciência, educação, cultura e trabalho como dimensões inseparáveis da saúde mental coletiva. A presença da UnB nas formações reforça o papel da extensão universitária como prática de transformação social, enquanto a parceria com o UniCEUB consolida a articulação entre pesquisa, ensino e justiça social em que a produção das balizas legais se fortalece com as escutas da população.

 

Ao promover a circulação dos jovens pela cidade, o acesso à cultura e o diálogo com instituições de ensino superior, a Fiocruz Brasília e o MPDFT contribuem para romper o isolamento histórico das trajetórias de acolhimento e criar condições reais de autonomia, pertencimento e futuro.

 

Assim, no mês em que o mundo volta seus olhos para a saúde mental, a Fiocruz Brasília reafirma seu compromisso com uma agenda pública de cuidados compartilhados, participação social e emancipação juvenil, demonstrando que a articulação entre saúde, cultura, educação e qualificação profissional é um dos caminhos mais potentes para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e saudável.

 

Histórico da pesquisa-ação

Entre 2021 e 2023, a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Brasília e a Promotoria de Justiça da Defesa da Infância e da Juventude do MPDFT promoveram o Projeto “Territórios da Construção de Si: Processos de desinstitucionalização de jovens e adolescentes pela maioridade” junto aos serviços de acolhimento do DF. Durante o período, cerca de 100 acolhidos entre 14 e 19 anos foram ouvidos sobre temas fundamentais como a construção da autonomia, a ampliação das trocas sociais e a garantia de acesso a direitos básicos e fundamentais (saúde, moradia, educação, trabalho e renda).

Avançando para além da escuta, esses adolescentes e jovens chegaram a lugares de construção de políticas públicas, como ouvintes, como pesquisadores sociais e como delegados de Conferências Nacionais, em uma prática que visa estimular o controle social dos seus direitos. Desde o princípio a pesquisa possuí um Comitê de Acompanhamento de Pesquisas e Práticas e a partir de abril de 2024, um Conselho Consultivo que reúne periodicamente para deliberações, visibilização dos resultados da pesquisa em eventos técnico-científicos, debates com especialistas e conselho editorial das publicações multimídias provenientes dos diálogos relacionados à garantia de direitos da juventude.

 

Assista ao mini documentário “Virada Democrática”

 

Ocupando as Conferências de Saúde e da Criança e do Adolescente entre 2023 e 2024  com seus corpos, vozes e olhares, esses pesquisadores sociais do projeto “Territórios da Construção de Si”, realizado em parceria do Nusmad/Fiocruz Brasília com o MPDFT, participaram de oficina de Comunicação Comunitária com a TV Pinel e provocaram reflexões sobre a presença de adolescentes em locais de políticas públicas, descobriram seus talentos e enxergaram possibilidades de futuro. Alcançaram diálogos com parlamentares e dão seus primeiros passos no controle social.

Conheça mais sobre o Territórios da Construção de Si

LEIA TAMBÉM