Por Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)
Entre os dias 20 a 22 de outubro, o município de Breves, na Ilha do Marajó (PA), recebeu o III e último módulo do Curso de Formação-ação em Saúde e Participação Social desenvolvido pelo Projeto Territórios de Cuidado. A iniciativa reuniu educadores/as e educandos/as de diversos territórios marajoaras em uma rica experiência de formação, troca de saberes e valorização das comunidades locais.
As atividades tiveram início com uma mística de integração e acolhimento buscando fortalecer os laços entre os/as participantes. Em seguida, ocorreram momentos de reflexão sobre o livro do módulo anterior, com destaque para a valorização das vivências a partir das comunidades ribeirinhas e extrativistas. Cada educando compartilhou histórias e vivências de sua comunidade, ressaltando a cultura, as tradições e os modos de vida da região.
Foram várias falas que compartilharam reflexões e sentimentos coletivos desse momento. Como o relato de um nascimento de uma criança antes da data esperada: “Se o Sistema Único de Saúde (SUS) chegasse na comunidade dela, não aconteceria esse transtorno, mas quem somos nós para chegar e levar para lá?.. A gente precisa de mais atenção”. Apontaram bem os limites do Sistema na região: “O SUS tem um sistema de difícil acesso, principalmente aqui no nosso Marajó para quem mora nas comunidades ribeirinhas e quilombolas”; “Se depender do SUS, vou morrer”. Mas, também ressaltam a importância de um acesso digno: “Ainda bem que consegui chegar no posto de saúde a tempo.”
De acordo Thamiris Oliveira da Silva, do Ministério da Saúde, o Projeto Territórios de Cuidado é um espaço de escuta que faz a qualificação e formação das lideranças comunitárias e da população local, no sentido de agregar os conhecimentos, tanto tradicionais quanto os conhecimentos acadêmicos, na área da saúde.
“Nessa escuta a gente pode incorporar todas essas demandas para qualificação da implementação das políticas públicas que já existem no Governo Federal, mas também há a possibilidade de produzir novas políticas públicas para que possa atender essa população que convive em um ambiente de tão difícil acesso e com várias dificuldades. O Ministério da Saúde reconhece e busca cada vez mais complementar esse cuidado e qualificar a assistência à saúde dessa população”, ressaltou Thamiris.
Já no que se refere aos temas abordados, a turma navegou pela trajetória histórica e atualidade do SUS, assim como a trajetória da promoção da saúde e os desafios atuais, conduzidos pelo educador e médico, Leandro Araújo. As discussões proporcionaram novas perspectivas sobre o fortalecimento da participação social e os caminhos para a promoção da saúde no contexto amazônico.
“É importante a organização popular para dizerem: nós queremos esse recurso destinado para essa política aqui, queremos um ar que está com problema, queremos uma ambulância… Isso é participação popular com o recurso que se tem”, explicou Araújo.
Feira de Saberes e Sabores
Este módulo também foi marcado pela realização da Feira de Saberes e Sabores, um espaço metodológico construído para celebrar e partilhar a cultura dos territórios presentes.
Durante o evento, foram apresentadas produções realizadas ao longo da formação, como os materiais de comunicação (boletim, podcasts e vídeos), além da socialização de produtos regionais específicos, que depois se culminou em uma noite cultural repleta de alegria, integração e expressões artísticas.
Por um lado, a Ilha do Marajó leva consigo mais aprendizados e memórias de uma jornada que fortaleceu laços, saberes e práticas em saúde e cidadania. Por outro, a realização do Projeto Territórios de Cuidado, segue demonstrando a importância de reafirmar o compromisso coletivo com um SUS cada vez mais participativo, inclusivo e enraizado nas realidades locais.
Sobre o Projeto Territórios de Cuidado
O projeto “Territórios Saudáveis e Sustentáveis na Promoção do Cuidado”, é uma iniciativa da Fiocruz Brasília e do Ministério da Saúde, por meio do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) e do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde (Depros/Saps).
A iniciativa, que abrange 15 territórios estratégicos em todo o país entre 2025 e 2027, atua especialmente em regiões de alta vulnerabilidade social e ambiental. O Projeto é voltado para lideranças de organizações e movimentos sociais que atuam na promoção da saúde com uma metodologia que permite articular o SUS com saberes e práticas culturais e ambientais dos próprios territórios.
A proposta realiza uma agenda de Oficina de Articulação sobre a temática da promoção da saúde, além de um Curso de Formação-ação, que aborda temas como: determinação social da saúde, territórios e modos de vida, cultura e saúde, promoção da saúde e participação social. Além de investir em comunicação popular como uma possibilidade de documentar as experiências locais.
Entre os resultados de 2025, o projeto já alcançou 76 municípios do Norte e Nordeste, com 474 participantes diretos em processos formativos realizados em cidades como Mossoró (RN), Cachoeira (BA), Codó (MA) e Breves e Marabá (PA). Para 2026 e 2027, novas etapas levarão a iniciativa a Boa Vista (RR), Vitória (ES), Petrolina (PE), Piranhas (AL) e Cavalcante (GO).
Fotos: Juliana Chagas
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