Especialização forma epidemiologistas de campo para responder às necessidades e emergências em saúde

Fernanda Marques 16 de dezembro de 2021


564 horas de curso, 60 horas de trabalho de campo e 753 especialistas formados em todas as regiões do país. Com este balanço, foi realizado nesta terça-feira (14/12) o encerramento da primeira turma da Especialização em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS (EpiSUS-Intermediário), ofertada pela Escola de Governo Fiocruz – Brasília (EGF-Brasília), fruto de uma parceria da Fiocruz com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS). “A realização deste Curso reafirma nosso compromisso com a vigilância em saúde e com o Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo respostas rápidas em cada realidade local. O Brasil é grande e diverso, e cada vez mais precisamos construir estratégias de formação. Precisamos continuar trabalhando e fortalecendo essa agenda”, disse a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.

 

Também participaram do evento de encerramento Arnaldo Correia de Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde (SVS/MS), e Daniela Buosi, diretora do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública da SVS/MS. “O Curso mostra a força do SUS e o comprometimento de seus profissionais. O EPISUS é muito precioso porque ele chega aos territórios e ano que vem deve chegar ainda mais”, afirmou Daniela. “É fundamental aumentar nossa capacidade de formação de epidemiologistas de campo para dar respostas às inúmeras necessidades e emergências do país. Apesar dos desafios, estamos avançando e fortalecendo o nosso SUS. Quando caminhamos juntos, vamos mais longe”, destacou Arnaldo.

 

Com duração de maio a dezembro de 2021, a Especialização – de abrangência nacional – foi realizada na modalidade híbrida, combinando educação a distância e momentos presenciais, com uma proposta de formação inspirada no CDC (Centers for Disease Control and Prevention), dos Estados Unidos. Em 2020, houve uma primeira experiência na EGF-Brasília, com uma turma de 20 alunos. O projeto deu tão certo que se assumiu o desafio de ampliá-lo – e muito.

 

“A pandemia aconteceu enquanto o Curso era planejado. E ele possibilitou oferecer resposta a uma dívida antiga, preenchendo uma lacuna de formação de trabalhadores para atuarem na vigilância epidemiológica aplicada aos serviços do SUS. É uma formação em serviço que deve ser cada vez mais fortalecida, com gente formada nos capilares do país, para que tenhamos um Sistema baseado na vigilância e cada município possa ter capacidade de identificar e resolver seus problemas”, afirmou o coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch, um dos coordenadores da Especialização.

 

Para a diretora da EGF-Brasília, Luciana Sepúlveda, o Curso representa acertos históricos: os investimentos no SUS e em ciência e tecnologia; a capacidade de trabalho em rede e de estabelecer parcerias; e a continuidade da construção desse trabalho ao longo do tempo. “São aspectos importantes para pensarmos o SUS e nosso papel como Escola de Governo. Pode até existir conhecimento na nuvem, mas ele não serve para nada se não for apropriado pelos profissionais e transformado em respostas e soluções para as questões de saúde pública em nosso país”, pontuou Luciana.

 

Segundo o ex-ministro da Saúde Agenor Álvares, também coordenador do Curso, a importância da Especialização se revela em todos os seus efeitos. “Um dado tem que acender nossa atenção e nossa capacidade de resposta, e resposta rápida”, enfatizou.

 

Conforme explicou Matheus Cerroni, da equipe do NEVS e do EpiSUS-Intermediário, a Especialização é baseada na orientação em cascata, envolvendo a coordenação, 14 mentores, 75 tutores e os estudantes. “Destes, grande parte atua em secretarias estaduais e municipais de saúde”, salientou Matheus. “Esse Curso revoluciona dentro do SUS, especialmente quando forma profissionais que vão atuar onde antes não havia especialistas em epidemiologia de campo”, completou Mariana Verotti, que também integra a equipe.

 

Divididos em 30 turmas, os estudantes realizaram trabalho de campo em 28 cidades brasileiras. A coleta dos dados foi feita nas semanas finais de outubro e as pesquisas tinham dois temas principais – Medidas de prevenção da Covid-19: conhecimentos, atitudes e práticas da população no segundo ano da pandemia no Brasil e percepção da população vacinada sobre eventos adversos pós vacinação possivelmente relacionados às vacinas para o vírus SARS-CoV-2. Ao todo, para o primeiro tema, foram realizadas 5.412 entrevistas. O segundo tema contou com 4.365 entrevistas.

 

Duas representantes dos alunos apresentaram os resultados de seus trabalhos de campo durante o evento de encerramento da Especialização. A turma de Paula Jácome desenvolveu o trabalho no bairro Brasília Teimosa, Recife, PE. Os 27 alunos aplicaram questionários e analisaram as respostas de 386 moradores sobre conhecimentos, atitudes e práticas de prevenção da Covid-19. Os entrevistados, em sua maioria, apresentaram um conhecimento adequado, embora os estudantes tenham identificado algumas lacunas em relação às formas de transmissão e prevenção da doença. Encontraram também moradores que não haviam sido testados e, portanto, não sabiam informar se tiveram Covid-19 ou não. Os estudantes verificaram ainda que, apesar de muitas pessoas se autodeclarem tranquilas, uma quantidade significativa relatou se sentir triste ou deprimida. Entre as recomendações do grupo, Paula destacou a oferta de materiais educativos e a ampliação da testagem.

 

Já a turma de Anelise Breier desenvolveu o trabalho no bairro Carianos, Florianópolis, SC. Os 29 alunos entrevistaram e analisaram as respostas de 306 moradores com o objetivo de descrever as percepções de pessoas vacinadas sobre sinais e sintomas apresentados após a vacinação para a Covid-19. Conforme os resultados do estudo, pouco mais de 40% dos entrevistados referiram sinais ou sintomas, principalmente após a primeira dose ou a dose de reforço. Dor no local da aplicação da vacina e dor de cabeça foram os eventos mais relatados, aparecendo, em geral, nas primeiras 24 horas após a vacinação, com duração entre um e três dias. Anelise destacou que a maioria das pessoas com apenas uma dose da vacina estava aguardando sua vez de receber a segunda, e tomaria novas doses, se necessário. “Não houve relato de não realização da segunda dose motivada por eventos adversos”, afirmou. Como recomendações do grupo, ela comentou a importância de um boletim sobre eventos adversos, bem como o fortalecimento das ações de atenção primária nos territórios e das orientações aos vacinados sobre esses possíveis eventos e sua notificação.

 

Para assistir à gravação do webinário, clique aqui.

 

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