Um brinde à Ciência

Fiocruz Brasília 23 de maio de 2018


Nayane Taniguchi e Nathállia Gameiro

Entre um gole e outro de chope, o público brasiliense, pesquisadores da Fiocruz Brasília e da Universidade de Brasília (UnB) brindaram as três noites do Pint Of Science com rodas de conversa descontraídas, marcadas pela interatividade. A iniciativa, que reuniu um público de 1820 pessoas nos cinco bares que sediaram a atividade entre os dias 14 e 16 de maio, reforça que a ciência pode ser discutida em diversos lugares, como por exemplo, uma mesa de bar.


A edição de 2018 ultrapassou a marca do ano anterior, com um aumento de 53% em relação ao público participante. A Comissão de Divulgação Científica da Fiocruz Brasília coordenou a atividade em um dos bares localizados no centro da capital. Em três dias, reuniu mais de 400 pessoas para conversarem sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a Ciência da Ciência, que busca aproximar academia e sociedade a partir da sua compreensão, e o uso do canabidiol para fins medicinais. A Fiocruz Brasília foi representada pelos pesquisadores Wagner Martins, Tereza Campelo, Ricardo Sampaio e Sharmilla de Sousa.

Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, a participação no Pint of Science é uma ação que contribui para dar sentido às atividades científicas das instituições brasileiras de pesquisa. “Foi uma oportunidade de mostrarmos os resultados dos esforços que empreendemos e de dialogarmos de modo mais aberto, leve e descontraído com a sociedade”, afirmou Damásio.

“Participar do Pint foi uma excelente experiência para nós, da Comissão de Divulgação Científica da Fiocruz Brasília e superou nossas expectativas. Este evento é uma ótima oportunidade de promover o encontro da ciência com o público, de forma descontraída e só reforçou a certeza da importância de se promover a divulgação científica”, afirmou Ricardo Sampaio, membro da Comissão de Divulgação Científica.

Pint of Science é considerado um dos maiores eventos de divulgação científica no mundo, realizado, simultaneamente em 2018, em 21 países. No Brasil, o evento foi promovido em 56 municípios. O coordenador da atividade em Brasília, Eduardo Bessa (UnB), ressalta que o brasileiro se interessa por ciência, mas faltam oportunidades de contato direto entre o público e o cientista. “O evento encurta a distância entre os leigos e a prata da casa, alguns dos maiores cientistas de Brasília em um ambiente que estimula a informalidade e a comunicação aberta, a mesa do bar”. Bessa acrescenta que a edição de 2018 superou as expectativas e ultrapassou a meta prevista em termos de público.

Os temas possibilitaram a aproximação dos pesquisadores com os brasilienses, já que participação do público foi ativa nos três dias de atividade. O interesse nas diferentes temáticas foi expressado pelas dezenas de perguntas e comentários ao final de cada palestra.

A ciência está em todos os ambientes. Mas o que é ciência? Segundo o pesquisador Ricardo Sampaio, ciência é produzir conhecimento baseado em método científico, ou seja, utilizando regras básicas para a comprovação de dados. Como exemplo, classificou as crianças como grandes cientistas, explicando que elas fazem testes para conhecer o funcionamento de tudo.

“Entender o que está sendo realizado pela sociedade e entender o que está sendo produzido pela academia para aprimorar o que a gente faz, isso é ciência da ciência”, explicou Sampaio. A aplicação busca diminuir o distanciamento da academia com a sociedade se alinhando com o conceito de Ciência e Sociedade. Sampaio ressaltou, durante o segundo dia do Pint of Science, que o engajamento da sociedade no estudo científico é parte do processo de enriquecimento da sociedade, que se torna ator protagonista no estudo do seu próprio contexto histórico e social.

O engajamento da sociedade também foi citado pela pesquisadora Sharmila Sousa, que explicou quando e como a sociedade tem participado deste processo de desenvolvimento científico e tecnológico em todas as áreas do conhecimento. É a chamada Ciência Cidadã, do inglês Citizen Science, em que cidadãos unem-se a pesquisadores profissionais para o avanço de projetos de pesquisas de larga-escala. O objetivo é contribuir com pesquisas que salvam vidas e engajar-se com atividades relacionadas ao mundo da pesquisa acadêmico-científica. Durante o bate papo do Pint of Science, a pesquisadora apresentou algumas experiências já existentes, como aplicativos, em que o cidadão se engaja na ciência. Alguns exemplos são: Nanocrafter, Globo Observer, Patients like me, Gamify your PhD, FoldIt, Making and Science, Research Kit e Science Journal.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: como transformar o mundo em 17 passos

A produção de conhecimento para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) norteou as discussões sobre como a ciência e a sociedade podem contribuir para o cumprimento dos 17 ODS da Agenda 2030 estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e 193 países. Tal agenda baseia-se nos princípios de que a sustentabilidade só é alcançada quando o econômico, o social e o ambiental são atendidos, e prevê, entre outras questões, a erradicação da pobreza, o acesso à energia limpa e busca assegurar saúde e bem-estar para todos. No primeiro dia da programação do Pint of Science, os pesquisadores Wagner Martins e Tereza Campello refletiram sobre a atual de crise financeira internacional, e de que forma este contexto influencia o alcance dos ODS.

Maconha medicinal: uma revolução milenar

O terceiro dia do Pint of Science destacou-se pela presença de pais, familiares e grupos interessados em esclarecer dúvidas sobre o uso do canabidiol para tratamentos de autismo, epilepsia e Parkinson. Durante sua apresentação, o neurocientista e professor da UnB Renato Malcher fez um resgate histórico do uso medicinal da substância para tratamentos diversos. Segundo Malcher, desde 1843 as propriedades anticonvulsivantes da Cannabis são conhecidas pela ciência ocidental. “Em 1980, ensaios clínicos demonstraram que canabidiol possui atividade antiepilética em pacientes de epilepsia refratária, sendo sonolência o único efeito colateral”, afirma. O pesquisador defende que o embargo imposto pela proibição do uso medicinal da Cannabis, no entanto, prejudicou o desenvolvimento científico e a exploração dessas propriedades.

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