Sem plateia, mas com muito diálogo: assim foi a Aula Magna 2020 da Fiocruz Brasília

Fernanda Marques 19 de março de 2020


Fernanda Marques

 

Exceto os palestrantes e a equipe técnica, ninguém compareceu à Aula Magna 2020 da Escola de Governo Fiocruz (EGF/Fiocruz Brasília), realizada na manhã desta quinta-feira (19/3). E a Aula foi um sucesso! Não, não é um contrassenso. Em tempos de pandemia, com a recomendação de evitar aglomerações, o evento presencial foi substituído por uma atividade à distância, com o tema “Coronavírus nas redes”, transmitida pelo canal da instituição no YouTube. Resultado: cerca de 6 mil pessoas puderam não só assistir às apresentações, com esclarecimentos sobre o tema, como também enviar suas questões, interagindo com os palestrantes em um bate-papo dinâmico. A Aula Magna marcou a estreia de um novo formato de atividade, o Conexão Fiocruz Brasília, e ainda o lançamento da página da instituição no Instagram (@fiocruzbrasilia).

 

“Vamos usar o espaço virtual de forma criativa, em permanente diálogo com nossos estudantes e toda a sociedade”, disse a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio. “A Fiocruz, que em maio completa 120 anos, ao longo de sua trajetória, já demonstrou seu papel estratégico em diversas emergências sanitárias. Neste momento, ela reafirma seu compromisso com a construção de ações coletivas para o enfrentamento do novo coronavírus e o fortalecimento do SUS”, acrescentou. Para a diretora executiva da EGF, Luciana Sepúlveda, o momento de distanciamento social requer maior conectividade, tanto afetiva como informacional. “Como Escola de Governo, buscamos aperfeiçoar nossos mecanismos de diálogo, escuta e resposta na formação de nossos profissionais”, ressaltou.

 

SUS estratégico

Além de Fabiana e Luciana, participaram da Aula Magna Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília, Eduardo Hage, médico epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Brasília, e José Agenor Álvares, ex-ministro da Saúde e assessor da Fiocruz Brasília. Em suas falas iniciais, Claudio e Eduardo ponderaram que ainda existem muitas incertezas em relação ao novo coronavírus. “Agimos por analogias, pelo que já conhecemos do vírus influenza e de outros coronavírus. Nos baseamos também nas vivências atuais, na avaliação rápida das medidas já tomadas em outros países e no Brasil, no que deu certo ou não. Buscamos essas evidências para a tomada de decisões”, explicou Claudio. Segundo ele, algumas medidas poderão parecer exageradas, mas pior seria subestimar o risco.

 

“O objetivo é proteger ao máximo as pessoas e conter o vírus. Para isso, contamos com uma estrutura robusta do SUS, que, infelizmente, vem sofrendo ameaças com a crise econômica e os limites orçamentários”, afirmou Claudio. Para Agenor, o SUS é uma responsabilidade cívica de toda a sociedade brasileira. “Não é propaganda enganosa, o SUS é a única alternativa, com base em seus princípios de igualdade, integralidade, de acolher todas as pessoas com dignidade. Ele também tem problemas, sim, mas que podem ser solucionados com o financiamento adequado”, destacou.

 

Incertezas

Ainda em relação às incertezas, Eduardo comentou sobre a letalidade da Covid-19 e a duração da pandemia. “Na média, considera-se que a letalidade no novo coronavírus está em torno de 2 ou 3%, mas existem variações. Na Itália, por exemplo, estava em 8% e também no Irã se registra uma taxa maior. A princípio, não há mutação genética do vírus que explique essas diferenças”, disse Eduardo. Segundo ele, talvez as variações estejam relacionadas aos grupos mais acometidos em cada país e também à organização de cada sistema de saúde para enfrentar a pandemia. Sobre a duração da epidemia, algumas projeções falam em três meses, mas não se sabe se o comportamento será o mesmo em todos os lugares. De acordo com Claudio, talvez seja melhor uma duração maior, mas com evolução mais lenta, sem aumento abrupto do número de casos e com menos pessoas doentes ao mesmo tempo.

 

Critérios para a realização de exames laboratoriais de diagnóstico, equipamentos de proteção individual, tempo de permanência do vírus no ambiente, uso de diferentes tipos de sabão e saneantes, restrição domiciliar, ventilação dos ambientes, cuidados com a população carcerária: estes e outros assuntos – colocados em pauta pelos internautas que acompanhavam o evento em tempo real – foram debatidos pelos epidemiologistas Claudio e Eduardo. “Os estudantes que estão assistindo a esta Aula Manga podem contribuir na vigilância, na avaliação e na investigação científica de várias dessas incertezas que ainda temos em relação à Covid-19”, incentivou Eduardo.

 

Confira aqui o vídeo completo da Aula Magna