Política, ciência e sociedade

Nathállia Gameiro 11 de outubro de 2019


Claudia Carpo (SE/UNA-SUS)

As interações entre ciência, políticas governamentais e sociedade foram discutidas durante o último dia do evento QE Symposium, I Simpósio sobre o Uso de Evidências Qualitativas para Decisões Informadas na Era dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: novas fronteiras e inovações. O simpósio ocorre na Fiocruz Brasília, com participação de pesquisadores de 26 diferentes países.

Durante a mesa sobre  a capacidade de obter evidências qualitativas robustas e relevantes, a professora do departamento de saúde ambiental da Universidade de São Paulo, Gabriela Di Giulio, falou sobre os desafios e oportunidades das interações entre ciência e política, com destaque ao uso de evidências qualitativas no processo de tomadas de decisão referentes às temáticas socioambientais tratadas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

A professora citou a publicação da revista da Fapesp, que traz dados sobre a percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil.  Ela ressaltou que os brasileiros estão mais críticos com relação às pesquisas científicas e sua usabilidade para a sociedade. Nesse contexto de crise de desconfiança da área, Gabriela destacou os desafios para a interação entre a ciência e a política. “É preciso reconhecer que o processo de apreensão, disseminação e difusão do conhecimento científico é dependente das relações sociais, políticas e culturais”. Nesse sentido, percebe-se que não basta a informação estar disponível para ser aplicada no processo decisório, depende muito da percepção que os tomadores de decisão têm sobre essa informação, de como esses conhecimentos se articulam, e da interação entre os pesquisadores e governantes.

Assim, a coprodução, interação entre ciência e política permeada por diferentes atores, facilitam o processo decisório. “Esse é o caminho mais apropriado, se quisermos ampliar o uso de evidências e informações científicas para garantir processos decisórios alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, finalizou.

A experiência com os modelos de colaboração entre academia e governo,  e  a coprodução aplicada por diversos atores, incluindo a sociedade civil, foram abordados por Harsha Dayal, da África do Sul e Laurenz Langer, do Centro de Evidências da Universidade de Johannesburg.

Harsha ressaltou a utilização de evidências para a tomada de decisões do governo, com bases em pesquisas mapeadas por áreas alinhadas com objetivos de sustentabilidade como saúde, educação, agricultura e energia.

Para ela, no modelo de coprodução utilizado o valor principal é formar novas políticas pautadas nas necessidades sociais. “Os ODS devem ser compreendidos nos diferentes contextos que serão implementados e devem ser adaptados à realidade de cada local”, afirma.  

Laurenz falou sobre como agências governamentais utilizam a coprodução para tomada de decisões com bases em evidências. Ele destacou que a coprodução possui diferenciais, como a interação entre os diversos atores, como sociedade civil, pesquisadores, economistas, professores e profissionais de saúde. As evidências científicas também podem auxiliar diretamente nas ações de emergência em saúde. Esse foi o tema da fala de Thereza Jones, da Anthrologic, organização de pesquisa em ciências sociais e saúde global. Ela destacou que para auxiliar os países nesses momentos de crise, é preciso entender a realidade de cada local e o comportamento desta sociedade. Para isso, deve-se considerar diversos aspectos, contando com uma equipe multissetorial. “Para responder às emergenciais, temos que incorporar conhecimentos de pesquisas, políticas sociais e ambientais”.