Pesquisa destaca importância dos profissionais do SUAS no trabalho social com famílias vulneráveis

Nathállia Gameiro 24 de agosto de 2020


Nathállia Gameiro

 

Trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) de diversos municípios do Brasil participaram na última sexta-feira, 21 de agosto, do webinário “Trabalho Social com Famílias: olhares, reflexões e construções colaborativas”. O evento foi organizado pelo PesquisAr SUAS, grupo de pesquisa fruto de parceria entre a Fiocruz Brasília e trabalhadores da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF, cujo objetivo é melhorar o cotidiano de trabalho da Assistência Social, por meio de pesquisas e estudos.

 

A importância da educação permanente foi lembrada pela coordenadora da pesquisa e colaboradora da Fiocruz Brasília, Anna Pontes. “É pela educação permanente que desenvolvemos nosso trabalho, e a Escola de Governo Fiocruz – Brasília tem essa preocupação na capacitação dos profissionais para o SUS e para o SUAS”, afirmou.

 

O grupo foi criado em 2018 e, desde então, estuda temáticas ligadas à Assistência Social, buscando criar ferramentas metodológicas e de reflexão para melhorar a atuação desses profissionais. A pesquisa envolve várias fases e busca a contribuição de trabalhadores da assistência social de todo o Brasil, a partir de suas experiências. O projeto é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).

 

A assistente social Daiana Brito se apresentou lembrando o local onde nasceu e foi criada: Ceilândia, região administrativa do DF. “O meu território de vivência é também o território de vivência das famílias que atendo”, afirmou, destacando que o trabalho social com as famílias não é neutro e que é essencial não as estigmatizar no cuidado. “As experiências dos trabalhadores se relacionam com a forma como traduzem as teorias que vão estudando, não existe neutralidade nessa atuação”, completou.

 

Durante evento, foram debatidas situações de risco e vulnerabilidades que as famílias atendidas enfrentam, e a necessidade de o profissional conhecer as especificidades e os serviços presentes no território. “Um olhar simples no território, mas com cuidado e acolhimento, muda a forma como vamos atuar, a partir do que ele vive e das relações que essas pessoas têm”, disse Daiana.

 

Para ela, as desigualdades sociais, escancaradas ainda mais na pandemia, agravando a vulnerabilidade social e trazendo novas famílias para o risco social, fizeram valer a necessidade de continuar a pesquisa. Entre as desigualdades, destaca-se a de conexão à internet, que dificulta o acesso à previdência social, por exemplo, já que o sistema é todo informatizado.

 

A assistente social Regina Célia Mioto, professora e integrante do Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, Família e Políticas Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (NISFAPS/UFSC), acrescentou que a pandemia revela as desigualdades regionais, de classe, raça e gênero, e mostra os problemas relativos à difícil convivência familiar decorrente dos costumes e tradições. Para ela, a família se apresenta como central no amortecimento dos impactos da pandemia.

 

A pesquisadora apresentou ainda aspectos históricos que inseriram o trabalho social com famílias no Brasil, a partir da estruturação do SUAS e da Política Nacional de Assistência Social. De acordo com Regina, essas mudanças trazem o lugar da família na proteção social e quanto cabe a ela a provisão social. Ela afirmou que, neste momento, em que os profissionais de todas as áreas estão expostos a diversos desafios, os trabalhadores do SUAS têm convivido com o desmonte da Política Nacional de Assistência Social e com a premência de cada dia mais operar com menos recursos. “Antes nunca problematizado, o campo da política social brasileira traz também a relação entre Estado e família, considerando que a política social é um dos canais privilegiados de intervenção nas famílias e nos atenta ao controle social”, explicou.

 

Regina acredita que essa grande crise pode gerar um momento muito importante para uma nova forma de escuta e abordagem especializada, além da provocação e diálogo sobre antigos e novos desafios. Para a professora, a qualidade do serviço depende da relação entre o profissional e o usuário; por isso, destaca que é preciso pensar em alternativas com os recursos disponíveis no momento e incorporar demandas identificadas nas famílias atendidas. Segundo Regina, entra em questão o conhecimento do território e das famílias que nele vivem, independentemente de estarem vinculadas ou não aos atendimentos. Assim, é possível levantar indicadores como acesso à água e quantidade de idosos moradores do local, por exemplo, o que ajudaria a pensar em novas ações, chegar a essas pessoas e, ainda, interferir em outros espaços. “Temos que ser os grandes porta-vozes dessa população no plano da esfera pública. Não importa a situação ou a família, mas costurar uma série de questões que devem fazer parte da agenda pública”, disse.

 

A assistente social destacou a relevância do PesquisAR SUAS, que, de acordo com ela, nasce do encontro de profissionais comprometidos com a busca de respostas, a qualidade dos serviços e a sustentação do SUAS. “O grupo busca romper com a dicotomia entre teoria e prática, academia e trabalho. Ele transforma a prática do trabalho no dia a dia em desafios intelectuais e, vinculado à educação permanente, faz com que se revele a inovação da pesquisa”, definiu.

A live completa pode ser assistida aqui.