O Jatobá cresce devagar, cria raízes profundas e atravessa o tempo oferecendo sombra, força e alimento. É a partir desse simbolismo que nasce o Coletivo Jatobá 60+, iniciativa lançada pela Fiocruz Brasília com o propósito de promover um novo olhar sobre o envelhecimento, reconhecendo a maturidade como potência, experiência e continuidade.
O coletivo surge em um momento em que o Brasil vivencia um acelerado processo de envelhecimento populacional, o que exige respostas estruturantes nas áreas da saúde, da educação, da pesquisa e da participação social. O objetivo é fortalecer redes de cuidado, estimular a troca de saberes e ampliar a participação social das pessoas com 60 anos ou mais, a partir de uma abordagem emancipatória que reconhece a pessoa idosa como sujeito de direitos, autonomia e protagonismo. A proposta dialoga com os princípios da saúde integral, da cidadania e da equidade, em consonância com a Constituição Federal, o Estatuto da Pessoa Idosa e as políticas institucionais da Fiocruz.
Durante o evento de lançamento realizado na Fiocruz Brasília na última segunda-feira (15/12), participantes compartilharam experiências e reflexões sobre a agenda do envelhecimento no país. Para Neilton Araújo, integrante do Coletivo, a criação do grupo representa um passo importante em um campo ainda pouco priorizado. “Isso não é pouca coisa em um país tão grande como o nosso, mas com uma temática tão diversa. A pauta das pessoas idosas muitas vezes aparece como algo periférico ou secundário, e a Fiocruz está chamando para si a responsabilidade de liderar esse movimento de mobilização e articulação”, destacou.
Segundo ele, o foco do coletivo não é apenas o envelhecimento em si, mas o fortalecimento do protagonismo das próprias pessoas idosas. “Nosso campo é o envelhecimento, mas nosso objeto é a mobilização e a articulação para apoiar diferentes trabalhos com pessoas idosas, buscando o protagonismo dessa população, que é cada vez mais numerosa e tem um bem preciosíssimo: o tempo”, afirmou.
A roda de conversa também evidenciou a importância da intergeracionalidade como estratégia transversal. “Fico muito feliz de ver pessoas jovens aqui, porque a educação, a inclusão digital e a troca entre gerações são estratégias comuns e fundamentais para todos os grupos de pessoas idosas”, ressaltou Neilton Araújo.
A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, destacou que o Jatobá 60+ nasce de um processo coletivo e com um olhar estratégico para dentro e para fora da instituição. “A pauta do envelhecimento é uma agenda de futuro. Precisamos olhar para as nossas ações nos territórios, para as políticas públicas, mas também para dentro da Fiocruz, para como a instituição envelhece e como garante equidade nos seus processos de trabalho”, afirmou.
Fabiana também ressaltou o caráter inovador da iniciativa. “O que estamos construindo aqui pode servir de referência para outras unidades da Fiocruz. Defender o envelhecimento na nossa instituição é também defender a equidade e os direitos humanos”, completou.
O secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Alexandre da Silva, também participou do encontro e destacou a importância de ampliar o debate sobre o envelhecimento para além da lógica estritamente biomédica. “Não dá mais para falar apenas em determinantes sociais da saúde. Precisamos avançar para a determinação da saúde, olhando para as condições reais de vida, para o território, para o acesso à alimentação saudável, à mobilidade, ao lazer e ao cuidado. Envelhecer com saúde passa por garantir direitos e enfrentar desigualdades”, afirmou.

Alexandre ressaltou ainda que práticas discriminatórias como o idadismo devem ser compreendidas como violações de direitos humanos, com impactos diretos na democracia e nos planos de cuidado. “Idadismo, racismo e machismo não são apenas questões culturais, são violações que modulam a sociedade, os serviços e o cuidado. Enfrentar essas desigualdades é central para qualquer agenda séria sobre envelhecimento”, completou.
Para Paulo Carvalho, integrante do coletivo, o nome Jatobá carrega uma forte dimensão simbólica e afetiva. “O Jatobá é uma árvore da minha infância, traz memórias muito fortes. É uma árvore longeva, presente em vários biomas do Brasil, e esse simbolismo dialoga diretamente com o que queremos construir com o coletivo”, destacou.
O lançamento do Coletivo Jatobá 60+ foi marcado por uma roda de conversa que reuniu trabalhadores de diferentes áreas da unidade, além da coordenadora-geral de Educação da Fiocruz, Cristina Guilam, promovendo reflexões sobre os desafios e as potências do envelhecimento no Brasil. Durante o encontro, foi realizada a assinatura da Portaria nº 88/2025, que institui oficialmente o coletivo no âmbito da Gerência Regional de Brasília da Fiocruz, formalizando sua criação e suas atribuições.
Na ocasião, também foi realizado o plantio simbólico de uma muda de jatobá no jardim da Fiocruz Brasília, gesto que reforça o compromisso institucional com uma agenda de longo prazo, baseada no cuidado, na valorização das experiências e na participação social das pessoas idosas.
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