O fogo que protege o Cerrado

Fiocruz Brasília 3 de setembro de 2024


No dia 31 de julho o Brasil passou a ter uma política chamada Manejo Integrado do Fogo. Mas como o fogo pode proteger a devastação ambiental de biomas como o Cerrado? O Jornal da Criança e a Rede Biota Cerrado convidaram a Helena Pellizzaro para explicar como podemos usar o fogo de forma correta, para proteger biomas como o Cerrado, da mesma forma que comunidades tradicionais e povos indígenas já faziam com seus conhecimentos ancestrais.

 

Por Helena Pellizzaro / Revisão: Isabel Schmidt (IB/UnB e Rede Biota Cerrado)

 

O Cerrado é um bioma brasileiro que tem as queimadas como parte do seu cotidiano. Tanto as queimadas naturais, provocadas por raios, por exemplo; como os incêndios, que são os fogos fora de controle e, infelizmente, muitas vezes provocado pelo ser humano.

 

Atualmente o Cerrado ultrapassou a Amazônia como o bioma mais devastado do Brasil e já perdeu mais da metade de sua vegetação original. Mas existem algumas formas da gente proteger e cuidar desse bioma tão importante para nosso país. Uma delas é o “manejo integrado do fogo”. 

 

Para entender como funciona essa forma de proteção é preciso primeiro entender onde se encontra o Cerrado e as possíveis origens do fogo.

 

O Cerrado tem duas estações do ano bem definidas: verões chuvosos e invernos secos. As secas são rigorosas e, por causa de uma característica natural do bioma, a sua vegetação se acostumou a sobreviver mesmo com pouquíssimas chuvas.

 

Existem duas possibilidades para as queimadas no Cerrado. As queimadas antropofágicas são as tiveram participação do ser humano. Ou seja, quando alguém propositalmente inicia um incêndio sem autorização e/ ou supervisão de um órgão de conservação ambiental. Isso, inclusive, é uma prática criminosa, que pode dar prisão e multa.

 

Mas existem também as queimadas que se iniciam de forma natural. Aliás, a única forma de se iniciar um incêndio naturalmente é pela queda de raios. Isso pode acontecer na transição entre o inverno e o verão, porque a vegetação ainda está completamente seca, por causa de um longo período sem chuvas. Aí cai um raio e as faíscas que ele forma dão início ao fogo.

 

Por causa disso é que existe o “manejo integrado do fogo”, que é uma técnica usada por diversas unidades de conservação brasileiras, na qual profissionais iniciam um fogo controlado propositalmente, em forma de mosaico, variando entre áreas queimadas e áreas preservadas, para que quando se iniciar a estação dos incêndios ele não se alastre. Isso acontece porque o fogo já não vai mais encontrar uma área totalmente seca. A vegetação que ele encontrará, e que já foi anteriormente queimada, não servirá de combustível e o fogo vai acabar se apagando.

 

Desta forma, o manejo com fogo, assistido por profissionais chamados brigadistas, é uma forma eficaz de prevenção às grandes queimadas do Cerrado, controlando os danos, evitando quadros mais graves e cuidando para que tudo corra como planejado.

 

 

Texto originalmente publicado na Edição 48, de setembro de 2024, do Jornal da Criança (https://jornaldacrianca.com.br/), e reproduzido pela Fiocruz Brasília para a exposição Cerrado: do que temos ao que queremos, durante a 21ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) na unidade, de 14 a 18 de outubro.