Live debateu ações e inovações para o enfrentamento da Covid-19 nos territórios

Fernanda Marques 13 de julho de 2020


Fernanda Marques

 

Já disponível no YouTube da Fiocruz Brasília, evento realizado neste sábado (11/7) trouxe reflexões, debates e proposições para o enfrentamento da Covid-19 nos territórios, com a potência da vigilância popular em saúde. Acompanhada por internautas do DF e de vários estados brasileiros, a live “Vigilância Popular em Saúde: potencializando os territórios no enfrentamento da Covid-19” apresentou ações e inovações que têm sido colocadas em prática no DF com o objetivo de reduzir o contágio, promover a saúde de forma integral e responder aos desafios que o novo coronavírus impõe nos diferentes aspectos da vida.   

 

Diante das desigualdades sociais que se aprofundam com a pandemia, “precisamos reunir nossos esforços, nossas áreas, trajetórias e experiências para organizar e potencializar uma ação conjunta, colaborativa e articulada para a melhoria das condições de vida e saúde da população do DF”, disse a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, na abertura do evento, organizado pelo projeto Radar de Territórios Covid-19, junto com a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para o Enfrentamento da Covid-19 (PICAPS). Conforme destacou a diretora, a construção da PICAPS é representativa da força dessa ação coletiva, que, desde o início da pandemia, contou com a participação dos alunos dos programas de residência da Fiocruz Brasília.

 

Escuta popular

Para o coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho da Fiocruz Brasília, Jorge Machado, a Plataforma – articulando a atuação dos residentes e as estratégias da atenção primária em saúde e da vigilância epidemiológica – forma um arcabouço que busca colocar no centro as demandas das comunidades e periferias. E, nesse sentido, são fundamentais a intervenção e a ação organizadora e reguladora da vigilância popular em saúde. Entretanto, Machado também lembrou as lições aprendidas com os movimentos populares do semi-árido  que, na construção de territórios saudáveis e sustentáveis,  substituíram o foco no “combate à seca” por táticas de “convivência com a seca”. “Precisamos pensar em estratégias de convivência com a Covid-19, com interlocuções, ação popular e políticas públicas de base comunitária para reduzir a transmissão e criar oportunidades de cuidado, atenção e promoção da saúde nos territórios”, afirmou.

 

Machado lembrou também que a formação de agentes populares e comunitários de saúde é uma potência desde a Reforma Sanitária, pois a participação social foi estruturante na construção do SUS. Historicamente, porém, esses agentes têm recebido “muita tarefa e pouca voz”, criticou o coordenador, destacando ainda que “só se constrói uma solução se houver essa escuta popular”.

 

Vivências

Ao apresentar sua experiência em uma unidade básica de saúde em área rural durante a pandemia, a gerente de Atenção Primária da Regional Norte de Saúde do DF, Marcia Xavier, reforçou a importância de se conhecer o território e  reconhecer o seu saber  para uma intervenção mais imediata e efetiva. “A Covid-19 parecia estar longe, mas ela chegou rapidamente ao nosso território, e tivemos que rever nosso trabalho”, contou. Em um local onde as distâncias são um grande obstáculo, e os usuários, às vezes, precisam usar vários meios de transporte e ainda caminhar muitos quilômetros para acessar a unidade de saúde, a descentralização das ações é essencial. Nesse contexto, diferentes estratégias foram aplicadas no enfrentamento da Covid-19, desde o uso de carro de som e faixas até a comunicação por aplicativo de troca de mensagens, a produção e o compartilhamento de vídeos sobre formas de contágio e prevenção, e a coleta de dados por formulários on-line.

 

“O papel das novas ferramentas para o cuidado, inclusive o cuidado emocional, só reforçam a necessidade da educação continuada em saúde”, avaliou Marcia. A gerente também comentou a atuação dos residentes, que se envolveram e agregaram seus saberes aos do território. Apesar do cenário desafiador, Marta acredita que o SUS e, em especial, a Atenção Primária à Saúde estão sendo fortalecidos. “A gente percebe uma valorização do SUS pelos usuários”, disse.

 

Conectividade

De acordo com o coordenador de Gestão e Integração Estratégica da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, as vivências relatadas por Marta demonstram “a importância de organizar nossas capacidades em redes sociotécnicas para conter a disseminação do novo coronavírus”, e essa é a proposta da PICAPS. A Covid-19 traz problemas novos e complexos para os quais não existem respostas prontas. Construir as soluções requer “colocar uma lupa sobre o que acontece no território, entendido em suas especificidades”. Mas nem todos os dados necessários estão estruturados e disponíveis. Só a população que mora no lugar e os profissionais de saúde que ali trabalham conhecem os dados da realidade cotidiana, que, somados aos subsídios da ciência, possibilitam uma tomada de decisão eficiente com e para o desenvolvimento do território. “A PICAPS se baseia nessa inteligência cooperativa para diminuir as desigualdades e a vulnerabilidade”, resumiu Martins. “Saúde também é conectividade”, complementou.

 

Articulação e autonomia

Para Fátima Pivetta, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e debatedora do evento, os coletivos e a rede de informações locais são fundamentais para fazer frente à pandemia, sobretudo em territórios onde a presença do Estado, muitas vezes, só se faz por meio das forças de repressão. “Os moradores não são apenas informantes. Eles são especialistas locais, analistas primários dos dados”, comentou. “A vigilância popular em saúde é dinâmica e atua de forma horizontal. Ela precisa conservar a sua autonomia no diálogo com a vigilância institucional”, salientou. Juliana Rulli, colaboradora da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e outra debatedora do evento, também ressaltou a articulação local. “Pensar a base teórico-conceitual, os instrumentos e as experiências de implantação, como fizemos nessa live, contribui para o fortalecimento da vigilância popular em saúde”, sintetizou.

 

Assista aqui a íntegra da atividade, que teve o pesquisador da Fiocruz Brasília Osvaldo Bonetti como facilitador