Fiocruz Brasília lança Painel Interativo – Banco de Soluções

Mariella de Oliveira-Costa 20 de maio de 2021


Já imaginou conhecer quase 300 diferentes soluções para a saúde a partir de um clique?

 

A Fiocruz Brasília disponibiliza, em formato online,  informações sobre todas as ideias inovadoras apresentadas nas quatro edições da Feira de Soluções para a Saúde, realizadas desde 2017, nas cidades de Salvador, Bento Gonçalves e Fortaleza (esta última recebeu duas edições – uma delas virtual, devido à pandemia). As Feiras contam com a participação de trabalhadores, gestores, empresas e movimentos sociais de todo o país.  

 

O Painel Interativo Banco de Soluções é uma inovação organizacional, pois substitui as tradicionais planilhas por um ambiente online de acesso público e que possibilita o cruzamento de dados das diferentes soluções para a saúde apresentadas nas Feiras.  Os dados estão organizados de forma interativa e podem ser atualizados em tempo real, sempre que novas informações forem coletadas junto aos responsáveis pelas soluções em saúde. A partir desses dados, um financiador, alguém interessado em replicar a solução, um parceiro público ou privado, e o público em geral conseguem visualizar cada solução no contexto geral do projeto.

 

As soluções cadastradas nas Feiras têm diferentes utilidades para a saúde. Vão desde uma palmilha para as mãos, que contém material antibacteriano e antimicrobiano (e pode eliminar o vírus da Covid-19), até um aplicativo digital que auxilia as famílias na estimulação precoce de seus bebês com microcefalia, por exemplo. O Painel online não foi criado só para fins de pesquisa: ele vai possibilitar a construção de redes de interação entre as pessoas que participaram da Feira a partir de um mesmo estado ou com tecnologias semelhantes, por exemplo, conectando as propostas e facilitando a implementação de parcerias. Os dados podem ser filtrados por estado, cidade, tipo de solução, tema e meio de divulgação da solução, entre outras características úteis para gestores, trabalhadores, usuários do SUS, estudantes, pesquisadores e também investidores.

 

Uma das classificações, específica para as soluções industriais, é chamada Nível de Maturidade Tecnológica, e segue os mesmos padrões utilizados pela Administração Aeronáutica e Espacial dos Estados Unidos (Nasa), para identificar o estágio de desenvolvimento da proposta. Se é algo no nível 1 e 2, significa uma ideia ainda incipiente, de pesquisa básica, limitada aos conceitos da aplicação, sem a prática e, portanto, que não ultrapassou ainda a zona de risco, o que torna mais difícil conseguir fomento. A partir do nível  3, há as pesquisas pré-clínicas, estudos clínicos de fase 1, 2 e 3, até chegar ao registro da solução, que é o maior nível de maturidade tecnológica (nível 9). Este critério é também usado pelo Ministério da Saúde, para avaliar o financiamento dos projetos. Classificar as soluções industriais das Feiras dessa forma amplia as possibilidades de negociação e implementação dessas tecnologias. Pouco mais da metade das 23 soluções industriais foi enquadrada com o maior nível de maturidade, tendo em vista que os produtos já estão sendo comercializados ou possuem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 

Para o coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, as Feiras têm potencial de apresentar inovações concretas exatamente pelo trabalho desenvolvido antes delas, com a prospecção de tecnologias relacionadas ao tema dos eventos e já integradas aos processos produtivos ou muito próximas desse momento. “Não é uma Feira de conceitos, mas para apresentar respostas para problemas de saúde e isso pode ser conferido no Painel”, afirmou.

 

A sistematização dos dados foi realizada no primeiro trimestre de 2021. Uma das responsáveis pela iniciativa do Painel Interativo, a farmacêutica Gabriela Oliveira Silva, explica que foi possível identificar os tipos de soluções fomentadas, territórios mais ou menos promissores, instituições mais evidentes para parcerias e soluções, temas mais frequentes, obstáculos e possibilidades de financiamento, bem como fazer uma análise prospectiva relacionada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à Agenda 2030. “Apresentamos também a replicabilidade e o escalonamento das soluções, de forma que uma ideia implementada em localidade menor possa ganhar abrangência nacional”, disse.

 

Durante essa integração dos dados das quatro Feiras, os questionários utilizados para o cadastro das soluções foram revistos, com harmonização e padronização das categorias, pois alguns formulários não tinham as mesmas questões, conforme as soluções mudavam de categoria (elas podem ser industriais, de serviços ou sociais). “Um campo aberto para respostas livres é possível, mas é fundamental também uma categorização simples, para que se tenha um entendimento mais uniforme e seja possível a comparação e avaliação”, afirmou Gabriela, primeira mestre em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília.

 

Para além dos dados quantitativos, já existentes no cadastro de cada solução, a Fiocruz buscou também dados qualitativos, para conhecer mais profundamente os desafios para a implementação e expansão das soluções. Ao todo, 47 soluções foram verificadas em seu estágio atual de implementação, com mensuração dos resultados após as Feiras. Essa etapa de análise levou em conta não só o título e a descrição da solução, mas também a variedade de soluções inscritas entre os oito eixos estratégicos das Feiras (vetor, prevenção, diagnóstico, tratamento, cuidado, vigilância em saúde, gestão e outros). Levou em conta, ainda, a análise do potencial de inovação e replicação  para outras realidades, e a conexão com os ODS, entre outras características. Foram priorizadas as soluções que continham aspectos relacionados à comunicação em saúde, temática não explorada nos formulários originais, mas importante para a implementação prática.

 

Esses novos resultados serão inseridos na plataforma digital. Os pesquisadores observaram que quase metade dessas 47 soluções já está em fase de implantação ou aplicação, e mais de 70% delas têm alguma parceria para seu desenvolvimento. De acordo com a responsável pela etapa qualitativa de pesquisa, Cinthya Vivianne de Souza Rocha Correa, foi significativo mapear junto aos responsáveis as dificuldades encontradas e perceber o que mais impede a implementação: a falta de recursos financeiros e administrativos, mesmo para soluções com custo baixo, de até 10 mil reais.  “É necessário trazer visibilidade e somar forças para implementar essas soluções e o Painel é uma iniciativa importante para isso”, avaliou.

 

A doutoranda Kellen Rezende, da Universidade de Brasília (UnB), criou uma matriz correlacionando os resultados das Feiras, a partir do Painel, e propondo melhorias para as próximas edições do evento. Segundo ela, qualquer pessoa interessada no tema pode propor aos pesquisadores novas atualizações para aprimorar a visualização dos dados. “Medidas como a organização de equipe para atuar no território antes das Feiras, mapear e estimular a participação no projeto, bem como monitorar as soluções após o evento, para acompanhar a maturidade comercial e de uso dessas soluções, são ações importantes para a continuidade do projeto”, ressaltou.

 

Um importante diferencial das Feiras, visível no Painel, é a participação social, pois elas são mais inclusivas, em comparação aos grandes eventos de saúde pública do país. “A gente junta a sociedade, a academia e o gestor, e consegue ver a quantidade de soluções sociais, 77 propostas que saíram da cabeça de pessoas comuns e não diretamente ligadas a uma instituição”, afirmou o coordenador Wagner Martins, lembrando que a primeira Feira de Soluções para a Saúde, realizada em 2017, foi a dinamizadora do projeto. A proposta era abordar só a temática da zika, mas o êxito foi tão grande que a atividade, realizada em Salvador, agregou outros eventos, dois deles de caráter internacional, promovidos pela Unesco e o UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas). “Naquela época, juntamos muitas iniciativas de caráter popular – e isso foi o grande achado. Percebemos, na prática, como a população estava constituindo redes de solidariedade para amenizar os impactos da zika e suas consequências. Foi bonito ver as mães com seus bebês discutindo com os cientistas e gestores”, afirmou Wagner.

 

O Painel possibilita agregar novos dados sempre que eventos como a Feira forem realizados. E, dada a efetividade das Feiras, elas podem ser transformadas em atividade permanente da Fiocruz, com estrutura e orçamento próprios, para possibilitar a articulação das pessoas em uma rede de cooperação, ou até mesmo a formação de uma incubadora de base tecnológica para apoiar essas inovações de maneira efetiva. “Os projetos dependem de financiamento e podem ser ampliados, com investimento. Transformar uma ideia em inovação é difícil, então há perspectiva de organizar essa incubadora, em especial para os projetos de caráter social”, adiantou Wagner.

 

As Feiras de Soluções para a Saúde fazem parte do projeto da Fiocruz que constituiu a plataforma de integração de conhecimentos da coorte epidemiológica com diferentes bases de dados da saúde e do desenvolvimento social para acompanhamento de longo prazo das condições de vida da população acometida com microcefalia e pelo vírus da zika. As Feiras atendem ao objetivo de fortalecer propostas de cooperação e colaboração na rede do complexo produtivo da saúde, e buscam ser espaço para diálogo regional, socialização e disseminação do conhecimento, bem como ativar redes cooperativas para apresentação e difusão de inovações tecnológicas e sociais aplicadas à zika, dengue e chikungunya, e à síndrome congênita da zika.

 

A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, destaca que a Fiocruz Brasília participou ativamente das quatro Feiras, reiterando a atuação da unidade em consonância com as necessidades e prioridades da Presidência da Fiocruz. “Buscamos, por meio das Feiras, disponibilizar dados em acesso aberto ao público na Plataforma Ágora, acessíveis para pesquisadores, estudantes e público em geral interessado em produzir conhecimento e novas conexões a partir das soluções em saúde”, afirma.

 

Para acessar os dados, clique aqui: agora.fiocruz.br/bi