Febre amarela é tema de audiência pública no Congresso Nacional

Fiocruz Brasília 6 de abril de 2017


Pesquisadora da Fiocruz apresentou dados atuais sobre a doença

A proximidade de pastagens em beiras de matas, um período de seca forte e o aumento de temperatura – em fins de 2016 – em um trimestre e um mês muito quentes. A soma destes e outros fatores pode ter favorecido o atual surto de febre amarela, conforme observou a coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fundação Oswaldo Cruz, Marcia Chame durante audiência pública para “ Discussão da situação da febre amarela e da malária no país“ convocada pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. A audiência aconteceu no dia 06 de abril, quinta feira.

Foram apresentados mapas cedidos pela NASA mostrando a ocorrência de temperaturas altas nas áreas onde há registro de casos de febre amarela atualmente e apontando que o mesmo fenômeno ocorreu em 2009 no Rio Grande do Sul, estado onde foi registrado o surto anterior. O Ministério da Saúde acompanha o registro de casos da doença desde 1980 e verifica-se um registro de surtos a cada período de sete anos.

A Importância das vigilâncias – em saúde e ambiental – trabalharem em conjunto com pesquisadores para explicar e entender o surto atual de febre amarela foi destacada pela pesquisadora. Na oportunidade foi apresentado o Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo) da Fiocruz, aplicativo gratuito e disponível para aparelhos com os sistemas Android e iOS. Pensado para ser utilizado por qualquer pessoa, o aplicativo se baseia no conceito de ciência cidadã, no qual a participação de voluntários é fundamental para recolher e processar informações. Um dos objetivos da iniciativa é fornecer dados sobre a possível emergência de doenças relacionadas à fauna silvestre. http://www.biodiversidade.ciss.fiocruz.br/como-usar

Para a pesquisadora, o atual surto de febre amarela aponta alguns desafios para o país, tais como a necessidade de aperfeiçoar a informação, fazer uso do geo-referenciamento, capacitar e treinar pessoas para não perder a qualidade dos dados, investir em pesquisas de longo prazo, ficar atento às questões ambientais como a urbanização acelerada e outros.

Renato Vieira Alves, da Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, informou que 101 municípios notificaram casos suspeitos de febre amarela.  Até hoje (06/04) somam 1987 casos notificados, 586 confirmados, 450 em investigação e 951 descartados. Com relação aos óbitos, são 190 confirmados, 49 em investigação e 43 descartados. Até o momento, o Ministério da Saúde distribuiu 21,6 milhões de doses da vacina contra febre amarela produzida pelo Laboratório Biomanguinhos da Fiocruz.

Também participaram da audiência Kandice Falcão, do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde e Oriana Bezerra, do Conselho Nacional de Saúde. Kandice destacou que os municípios têm desafios como fazer o bloqueio vacinal (vacinar todos que moram em áreas com suspeita de casos) e preparar unidades básicas para diagnosticar precocemente os casos e manter a vigilância de epizootias (morte de macacos).  Elogiou a atuação da Secretaria de Saúde de Franciscópolis (MG) que,  ao observar mortes de macaco em dezembro de 2016,  vacinou todos os seus 5.800 habitantes das zonas rurais e urbana, evitando casos de febre amarela em humanos.

A convocação da 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde para os dias 21 a 24 de novembro deste ano feita pelo Conselho Nacional de Saúde resulta da atual situação epidêmica, conforme observou Oriana Bezerra. Já estão ocorrendo pré conferencias municipais e estaduais reunindo trabalhadores em vigilância ambiental, epidemiológica, sanitária, saúde do trabalhador etc.

Durante dos debates, o deputado Adelmo Leão (PT-MG) indagou se haveria relação  entre o desastre de Mariana/Samarco/ Vale do Rio Doce  com o atual surto de febre amarela.  Márcia Chame esclareceu não haver, até o momento, dado cientifico relacionando a febre amarela com o desastre na área.