O consumo de drogas e as trajetórias de usuários e familiares preocupam e desafiam, há muito tempo, estudiosos, técnicos e pesquisadores de todo o mundo a buscarem respostas éticas e socialmente legitimadas. Foi com essa motivação que o pesquisador Lucas Teixeira Alecrim, mestre em Políticas Públicas em Saúde pela Escola de Governo Fiocruz – Brasília, se dedicou ao estudo das estratégias de prevenção ao uso de drogas em face das evidências científicas disponíveis a nível mundial. Para o estudo, ele utilizou um software de mineração de texto, que realiza um levantamento de dados dos artigos científicos de forma semelhante à análise textual.  

Nesta entrevista da série de divulgação científica “Fala aê, mestre”, ele comentou os resultados da pesquisa e a formulação de políticas públicas no enfretamento ao uso de drogas, bem como as práticas de prevenção e controle.

O que motivou a realização do estudo?  

Lucas Alecrim: Ao longo da minha atuação em saúde do trabalhador, me deparei com o uso de drogas não somente entre trabalhadores, mas também em seus núcleos familiares. Diante dessa demanda, ao buscar formas de enfrentamento, verifiquei um conjunto de possibilidades metodológicas e ferramentas, mas nenhuma certeza da eficácia de cada uma delas. 

Com base nas evidências científicas, quais estratégias poderiam reduzir as chances do início do uso de drogas?  

Lucas Alecrim: O que se identificou no estudo é que não há uma prática que seja mais eficiente e eficaz em si, mas foi possível constatar a importância de instrumentos e ferramentas específicas, como informação, manejo de estresse, autoestima, treinamentos de habilidades de resistência e para a vida. Além disso, nas ações, existem etapas indispensáveis, como o planejamento e o monitoramento.  

Quais políticas têm sido mais eficazes no combate ao uso de drogas?  

Lucas Alecrim: Não há como indicar um único método para responder a toda a complexidade da realidade, mas o estudo favorece a visualização panorâmica das lacunas, limitações e potencialidades das estratégias, tanto para prevenir como para reduzir ou cessar o uso. Com o estudo, foi possível identificar potencialidades com as práticas familiares e escolares. Mas foram os programas universais e aqueles envolvendo indivíduos com características em comum que obtiveram os efeitos mais positivos.  

Que outros aspectos a pesquisa evidenciou? 

Lucas Alecrim: As estratégias de prevenção ao uso de drogas evidenciam que as políticas públicas de saúde têm sua eficácia influenciada pelos contextos locais e suas determinações: por exemplo, se as estratégias são desenvolvidas em área central ou periférica do espaço urbano, se existe rede de apoio comunitário ou se o território conta com equipamentos públicos de saúde, previdência, educação e segurança pública, entre outros. Outro ponto de atenção é qual o tipo de substância que se pretende prevenir, o nível de dependência que ela causa e sua disponibilidade: substâncias e contextos com características diferentes requerem estratégias também distintas. Além disso, práticas preventivas com objetivos muito específicos não obtiveram êxito em seus resultados.

Quais setores, além da saúde, devem estar envolvidos neste processo de formulação de políticas públicas?  

Lucas Alecrim: Os estudos avaliados apontaram que a prevenção será mais eficaz se ela for intersetorial quanto aos aspectos de planejamento e operacionalização.  Além da saúde, os setores de cultura, meio ambiente, educação, segurança pública, assistência social, previdência e vigilância sanitária, bem como órgãos jurisdicionais e de defesa de direitos, devem estar envolvidos na elaboração de políticas públicas de prevenção e combate ao uso de drogas.  

Lucas Alecrim é assistente social e autor da dissertação “Estratégias de Prevenção ao Uso de Drogas: uma investigação sobre saúde informada por evidências”, defendida em 07 de maio de 2019, com orientação do professor Ricardo Barros Sampaio. 

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