Evento discute a importância da geopolítica para o crescimento do Brasil

Fiocruz Brasília 9 de novembro de 2017


A geopolítica do Brasil é inteligente e busca uma inserção pacífica e de cooperação no continente americano, sem disputas entre países. Esta foi a análise feita pelo brigadeiro Delano Teixeira Menezes, diretor do campus de Brasília da Escola Superior de Guerra, durante evento realizado ontem, dia 8 de novembro, na Fiocruz Brasília, na quarta sessão do Programa Pensamento Estratégico Nacional e Saúde (Pensa). 

No entanto, o país ainda enfrenta alguns nós geopolíticos que precisa desatar para um desenvolvimento crescente. São eles: inclusão social, educação e desindustrialização. A inclusão social inclui políticas que envolvem saneamento, abastecimento de água, saúde, moradia, renda e o índice Gini (utilizado para medir a desigualdade). Hoje, um dos maiores fatores de disputa territorial é a desigualdade social. Delano destacou programas que buscam diminuir essa diferença, como o Bolsa Família. 

Para o brigadeiro, a educação é o ponto fraco do país, já que ela traz resultados como cidadania, pesquisa, inovação, novas tecnologias e mão de obra especializada. Já a desindustrialização traz dependência na aquisição de produtos tecnológicos. De acordo com ele, a ciência, tecnologia e educação são essenciais ao crescimento, mas ainda são negligenciadas pelo país. Porém, destacou que apesar de tantas desigualdades, o país conseguiu muitos avanços e ressaltou a pesquisa na área de saúde que é realizada por instituições brasileiras, como a Fiocruz.

“Enquanto não desatar os nós, não conseguiremos almejar qualquer projeção mundial. O país precisa focar no que nos aproxima e não no que nos afasta. Estancar a desagregação social, buscar o bem comum e o compromisso da nação”, ressaltou. 

A geopolítica determina como o país é visto pelos outros e como quer ser visto, mas a ação coordenada que é o que faz diferença e orienta a atuação dos governos no cenário mundial. Segundo o palestrante, o Brasil não tem nenhum órgão ou área do governo que pense a geopolítica oficialmente. O agronegócio é o grande destaque do Brasil, mas para o país ser visto como potência deveria ter um crescimento geral e não a hipertrofia de uma área. 

De acordo com o palestrante, não é possível discutir a geopolítica sem olhar a posição do país no globo terrestre. O Brasil é o terceiro em tamanho e população no mundo, com uma grande presença no globo. Segundo o analista, o primeiro passo para pensar em uma geopolítica é formular uma direção, ações efetivas e compromissos. O segundo passo é traçar uma grande estratégia para o Brasil caminhar na direção escolhida. Ele ressalta que qualquer geopolítica que o país busque, precisa levar em consideração o oceano, já que 92% do comércio exterior do país vem do Atlântico. Áreas importantes do país configuram o cenário geopolítico brasileiro, como o litoral e as ricas reservas de petróleo, o ecossistema e as rotas aéreas e marítimas.

Geopolítica clássica e contemporânea

O brigadeiro Delano apresentou os conceitos clássicos e contemporâneos de geopolítica e destacou a importância para o crescimento do país. A geopolítica é um conjunto de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território, considerando a relação entre os processos políticos e características como localização, posição, recursos naturais, clima e população. 

As relações entre o poder político nacional e o espaço geográfico são formadas de acordo com as necessidades do momento e incorporam um subjetivismo de acordo com a política da época, segundo o palestrante. A mundialização da produção e do consumo, a dinâmica populacional, o desenvolvimento tecnológico e robotização do trabalho, o uso crescente dos recursos naturais com possível contaminação e destruição de territórios e as mudanças climáticas são fatores que afetam a geopolítica dos países. Para Delano, o próximo insumo que vai gerar disputas é a água.

O palestrante explica que a destruição dos valores do passado deixa os mais jovens com sensação de impotência e afeta todos os grupos sociais de um país. Já os avanços tecnológicos afetam todos os territórios pois os estágios da tecnologia não são igualmente distribuídos. “Esse gap de tempo entre a tecnologia e a utilização é cada vez mais curto, estamos vivendo uma grande mudança. Isso afeta os poderes de uma nação: militar terrestre, naval, aéreo, espacial e cibernético. São efeitos velozes que devem ser considerados e que pressionam os políticos. Já a mudança das mentalidade e cultura é mais lenta”, explica.

O projeto Pensa é organizado pelo Núcleo de Estudos sobre o Futuro (n-Futuros) da UnB e a Escola Fiocruz de Governo, da Fiocruz Brasília.  

Fotos: Sergio Velho Junior