Erradicação do Câncer Cervical é tema de seminário internacional

Mariella de Oliveira-Costa 11 de março de 2019


Mariella de Oliveira-Costa 

Evento marcou o início da pesquisa envolvendo a Fiocruz Brasília e os institutos do câncer do Brasil e dos Estados Unidos

“Contem para mim, quem aqui tem HPV?”. Esta pergunta um tanto inusitada deu início à palestra do pesquisador do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NIC/NIH) Mark Schiffman, durante o Seminário Internacional Panorama Atual e Novas Estratégias para a Erradicação do Câncer Cervical, realizado na Fiocruz Brasília em 19 de fevereiro. O evento marcou o início do Projeto Manejo de Risco de Câncer Cervical: Avaliação de novas estratégias de rastreio e triagem baseadas em testes de HPV, conhecido como Projeto Marco, que envolve a cooperação internacional entre o NIC/NIH e a Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde e do Programa de Evidências em Políticas e Tecnologias em Saúde, e o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Mark Schiffman trabalha na Divisão de Câncer, Epidemiologia e Genética do instituto estadunidense e, na sequência da pergunta inicial, para surpresa dos participantes, informou que o papilomavírus humano (HPV), associado às lesões do colo do útero das mulheres é um vírus comum, com o qual boa parte da população teve, tem ou terá contato em algum momento da vida. Ele lembrou que o tipo HPV 18 foi descoberto no Brasil, e fez um histórico da pesquisa nesta área.

O projeto Marco vai coletar e analisar dados da citologia cervical de 40 mil mulheres brasileiras em Brasília e Manaus, cidades onde as taxas de câncer de colo do útero são acima da média nacional, de 17 casos para cada 100 mil mulheres. Estão previstos que os profissionais de saúde do SUS envolvidos no estudo recebam treinamentos adicionais para interpretação e comunicação dos resultados dos novos testes a serem utilizados na pesquisa. As mulheres que aceitarem participar da pesquisa vão fornecer duas amostras para os testes de HPV e estratégias de triagem, uma por meio da auto-coleta e uma segunda coleta por um profissional de saúde, além da citologia convencional.

As mulheres cujo teste de HPV e triagem sugerirem risco alto de lesões serão encaminhadas para colposcopia adicional e tratadas conforme as diretrizes do SUS. Todas realizarão ambos testes, a citologia e um dos dois testes de HPV e também será analisado o custo-efetividade dessas estratégias. O projeto Marco vai testar métodos eficazes de rastreio do câncer cervical, provocado por este vírus, para que possam prever a evolução do HPV. Mark Schiffman fez a ressalva de que serão testados testes comerciais de empresas, mas de fundações sem fins lucrativos. “Com a comparação dos testes de HPV, observaremos qual teste funciona melhor, ou seja, uma comparação da efetividade que tenha um bom custo-benefício.”

Ele compartilhou também sua meta pessoal, como pesquisador, que é controlar e se certificar de que esse câncer seja tão raro que não precise fazer rastreamento. “Este é um câncer do qual podemos nos livrar e salvar mais de 240 mil vidas por ano. As pessoas precisam que a gente aja rapidamente, e não fique só na teoria. Na saúde pública, podemos auxiliar quem nunca vai nos conhecer. Precisamos fazer pesquisas aplicadas à realidade, para que as mulheres não morram desta doença”, afirmou.

Durante o Seminário Internacional, a diretora da Escola Fiocruz de Governo, Luciana Sepúlveda, fez uma apresentação sobre a Escola e a Fiocruz Brasília e ressaltou que o acrônimo com o nome do projeto é muito bom, pois a implementação de novas tecnologias no SUS é um desafio e o projeto de fato, será um marco. A responsável pela Coordenação de Programas e Projetos da Fiocruz Brasília, Daniela Pereira, apresentou as atividades da coordenação e, em especial dos dois programas da Fiocruz Brasília à frente do projeto Marco e ressaltou as contribuições desta iniciativa para a cooperação internacional e também como possibilidade de novos acordos com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal e outras instituições de pesquisa.

A diretora do Instituto Nacional do Câncer, Ana Cristina Mendes ressaltou que o projeto representa uma oportunidade. Ela explica que a pesquisa vai mostrar as tecnologias que atendem às demandas do SUS. A autocoleta, por exemplo, expande a acessibilidade. “O estudo pode apontar estratégias que facilitem esse trabalho em rede”, explicou.

Ao longo de duas semanas (18-28/02) foram realizadas uma série de agendas dos pesquisadores com gestores e também em unidades de saúde do SUS/DF e de Manaus, as duas cidades em que o trabalho será realizado. A pesquisadora da Fiocruz Brasília e uma das responsáveis pelo projeto, Tainá Raiol avalia que o encontro foi importante para trazer a perspectiva internacional do trabalho que será feito, e reforça a parceria estabelecida entre as instituições, com o objetivo final de erradicação desse tipo de câncer e aumento da cobertura da prevenção nos territórios do DF e Manaus.

 

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