Transfobia: imaginário social como desafio

Adrielly Reis 22 de agosto de 2024


Para dar início às aulas do segundo semestre letivo, a Escola de Governo Fiocruz – Brasília (EGF-Brasília) realizou uma atividade cultural integradora com o tema “Promover equidade enfrentando a transfobia nos ambientes de aprendizagem e de trabalho”. O evento ocorreu nesta segunda-feira (19/8), no auditório externo da Fiocruz Brasília.

 

O momento foi conduzido pela psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, professora do Departamento de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), com mediação do professor e pesquisador da Fiocruz Brasília Andrey Lemos. A mesa de abertura contou, ainda, com as presenças da diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, e da diretora da EGF-Brasília, Luciana Sepúlveda.

 

Fabiana ressaltou a importância de falar sobre diversidade em todos os espaços. “É preciso que a gente dialogue cada vez mais sobre temas que são tão caros para nós, como a defesa da diversidade e da equidade, com respeito, para a construção de um ambiente mais justo.” Sepúlveda abordou as iniciativas da instituição para a promoção de mais vagas afirmativas em todos os cursos da Escola. “Ainda há um longo caminho a ser trilhado, estamos trabalhando para construir uma realidade mais diversa, na qual as práticas inclusivas façam parte do nosso cotidiano”, assinalou.

 

Desafio

Romper com o imaginário social construído em relação à população trans, sobretudo nos anos 1980 e 1990, é o principal desafio para combater a transfobia, segundo a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus. A professora analisou a construção histórica de estereótipos, preconceito e discriminação, e traçou a relação entre ódio, repulsa e nojo, apatia e respeito.

 

“Só vamos conseguir efetivar a diversidade no nosso dia a dia quando existir inclusão. E a inclusão só é feita a partir do momento em que reconhecemos as competências e consideramos as diferenças, sem ter que mencioná-las todas as vezes como se fossem parte do crédito da pessoa”, ponderou Jaqueline.

 

Para Andrey, é preciso expandir o olhar: como instituição, profissionais da saúde e educadores devem apresentar propostas, fazer pesquisas e pautar a educação para que seja mais comprometida com a sociedade e suas diferenças. “Não podemos naturalizar a ausência de pessoas trans nos ambientes de trabalho e de ensino, muito menos pensar na população trans somente quando há cota ou na pessoa negra quando existir vaga afirmativa. A gente tem que olhar para essa diversidade, que é humana, e entender que ela tem que fazer parte do nosso dia a dia”, afirmou o mediador, que provocou a plateia com o questionamento: “quantas pessoas trans trabalham com vocês?”, no que apenas algumas poucas pessoas levantaram a mão.

 

Saúde mental

Jaqueline abordou, também, os cuidados específicos com a saúde mental da população trans, que sofre com isolamento social, depressão, alto índice de suicídio, discriminação familiar, dificuldades relacionadas ao reconhecimento legal da identidade de gênero (retificação do registro civil, reconhecimento do nome e gênero na escola, no trabalho etc.), de empregabilidade e, no caso de homens trans e pessoas transmasculinas, abuso de álcool e outras drogas, dentre outros.

 

Entre as propostas de cuidados apontados pela psicóloga no acolhimento à pessoa trans, estão a escuta sem julgamento; treinamento de primeiros socorros em saúde mental voltados a pessoas conselheiras populares e lideranças comunitárias, com informações básicas sobre a rede de saúde mental e indicação de apoio profissional apropriado; e criação de centros de atendimento em situação de crise com foco nas famílias para aumentar o apoio familiar.

 

Neste sentido, Jaqueline divulgou a pesquisa Brasil Smile, uma parceria entre a Fiocruz e o IFRJ, que visa realizar um levantamento sobre a saúde mental e o bem-estar da comunidade LGBTI+. A pesquisa está disponível neste link.

 

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