Desenvolvimento da América Latina em debate

Fiocruz Brasília 14 de dezembro de 2017


O atual estilo de desenvolvimento da América Latina e Caribe é insustentável. Esta foi a análise feita ontem, 13 de dezembro, pelo diretor do escritório de Brasília da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Carlos Henrique Mussi, durante o Programa Pensamento Estratégico Nacional e Saúde (Pensa), na Fiocruz Brasília. Estudantes do Mestrado em Políticas Públicas em Saúde da instituição, profissionais de saúde e pesquisadores participaram da atividade. 

Segundo o economista, o modelo atual está associado a uma taxa declinante de crescimento da produção e do comércio, resultado da crise econômica mundial. Para  ele, o mundo está mais integrado, no entanto, mais desigual. As elevadas desigualdades sociais apresentam graves consequências sociais, políticas e econômicas. 

O surgimento da China como potência mundial foi destacado como principal mudança no cenário mundial, reestruturando a economia e o comércio. De acordo com o economista, ainda não se o grau de interferência da China, o que causa desconhecimento dos novos acordos políticos, espaços e estratégias na economia internacional. 

A região da América Latina e Caribe apresenta desigualdade, baixa arrecadação tributária, crescimento menor, desaceleração do comércio e pouco investimento em infraestrutura e capital humano, ficando para atrás em vários aspectos em relação ao mundo. Mussi destaca ainda a estrutura produtiva pouco diversificada, atraso no esforço e desempenho da inovação, pobreza e concentração de renda alta se comparada a outras regiões, vulnerabilidade a mudança climática e desastres naturais. 

O pesquisador destacou a revolução tecnológica, a diminuição do crescimento e o envelhecimento da população, a migração sul-norte e as mudanças climáticas como fatores a serem levados em consideração para o desenvolvimento sustentável. Para ele, as políticas públicas não levam em consideração os impactos no meio ambiente e as mudanças climáticas, podendo provocar uma deterioração ambiental com vários casos irreversíveis e consequências potencialmente desastrosas para o planeta. 

A resposta da comunidade internacional a esses desequilíbrios acumulados foi a criação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Os ODS surgiram de uma iniciativa latino-americana, como questionamento do modelo em que países ricos ditavam como os outros países deveriam atuar e oportunizam uma reflexão estratégica dos rumos que o Brasil e outros países precisam seguir. 
Os ODS são parte da Agenda 2030, acordada durante reunião com líderes mundiais na sede da ONU, em setembro de 2015. A agenda é um plano de ação para melhorar a vida das pessoas, do planeta e para a prosperidade. 

O pesquisador explicou que antes haviam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que contavam com 8 objetivos, 21 metas e 60 indicadores. Com a alteração em 2015, o número mudou para 17 objetivos, 169 metas e 241 indicadores, que servem para tentar medir se as metas indicadas possibilitarão o alcance do objetivo. 

Mussi apresentou o projeto Horizontes 2030 – A igualdade no centro do desenvolvimento sustentável, iniciativa da Cepal para alcançar o desenvolvimento sustentável na América Latina e no Caribe e cumprir os ODS dentro do prazo estabelecido.  “Percebe-se cada vez mais que é insustentável seguir pelo mesmo caminho. É uma responsabilidade de todos”, ressaltou Carlos. 
Como solução, o pesquisador defende a governança para criar bens públicos globais, fortalecer a ação e os acordos regionais, políticas nacionais para a mudança estrutural progressiva e lidar com o tema da desigualdade para que as reformas não piorem a desigualdade. “O horizonte é a igualdade, a mudança estrutural progressiva é o caminho e a política é o instrumento”, finalizou.

PENSA
Esta foi a quinta e última edição deste ano do Ciclo de Debates do Programa Pensamento Estratégico Nacional e Saúde – PENSA, que teve início em agosto. Para a vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira, os debates são sementes que trazem novos avanços e elementos importantes para que os alunos possam refletir aspectos além da saúde e necessários para o desenvolvimento do SUS.

O evento, promovido pela Escola Fiocruz de Governo, o Movimento 2022-O Brasil que queremos e o Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília, busca desenvolver ações futuras para superar a crise política e econômica e refletir sobre a consolidação definitiva do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os temas discutidos estão geopolítica, ciência e tecnologia, saúde e novo desenvolvimentismo.   

Clique nos links para assistir os outros debates: 
Novo-Desenvolvimento, com José Luis Oreiro
2022 – Painel Pensamento Estratégico Nacional e Saúde com Roberto José Bittencourt
2022 – Painel Pensamento Estratégico Nacional e Saúde com embaixador Samuel Guimarães

Fotos: Sergio Velho Junior