Desafios e críticas ao jornalismo de saúde pautaram último dia de evento internacional

Fiocruz Brasília 14 de julho de 2017


A última mesa de debates do I Seminário Internacional e V Seminário Nacional As relações da saúde pública com a imprensa trouxe,  na manhã de sexta-feira, 14 de julho, posicionamentos distintos e complementares sobre a atuação da mídia durante as emergências de saúde pública relacionadas ao Aedes Aegypti. 


A pesquisadora de Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas da Argentina Paula Zoya apresentou a epidemia de dengue como sistema complexo, com base em notícias de jornais da Argentina.  Segundo a pesquisadora, há uma tentativa de controlar e governar a dengue e o discurso midiático trabalha com quatro temas: saúde publica, meio ambiente, biotecnologia e as condutas das pessoas.  Ela considera que  é preciso desenvolver uma metodologia de trabalho na imprensa  baseada na escuta da comunidade e dos diferentes atores, para pensar com eles e incluir todos nas coberturas: governo, pesquisadores, comunidade. “Tomando como problemas de pesquisa o que de fato é um problema social se pode pensar em uma pesquisa que mude a sociedade”, afirmou.


A assessora de comunicação do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, Adriane Cruz,  trouxe experiências como a do estado de Goiás, o ConectaSUS,  que atualiza os dados epidemiológicos dos municípios do estado diariamente . Há uma conexão online entre os secretários  e resposta rápida quando se aumentam os casos de infestação.  Em Pernambuco, houve preparação de porta-vozes para falar especificamente sobre zika de maneira acessível à população, para conter os alardes. Ela apontou também a dificuldade de interlocução com a comunicação do Ministério da Saúde, que em geral faz uma campanha para todo o Brasil, sem contemplar as especificidades de cada região do país. 


Janine Cardoso, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, da Fiocruz,  ponderou que qualquer cobertura midiática envolve uma escolha e a imprensa em geral nunca apresenta as condições sociais, políticas e econômicas que favorecem a presença do Aedes Aegypti, deixando para a população a responsabilidade no cuidado individual e a sua culpa pelo problema de saúde, o que  exime o governo de sua responsabilidade. Ela alerta, porém que há que se considerar a intensificação e aceleração da produção de narrativas midiáticas, que tem uma temporalidade distinta da produção científica, da gestão governamental e da sistematização de indicadores epidemiológicos. 


O editor do principal jornal da capital, o Correio Braziliense, Leonardo Cavalcanti, expôs as dificuldades de produção de informação jornalística de qualidade.  “A verba para viagens e investigações são muito menores  hoje, então a cobertura fica mais difícil ainda”, afirmou ele, ressaltando que a  informação não é produzida de graça, apesar de boa parte das pessoas acreditar que ela não tem custo. Com a internet, essa sensação se amplificou.  Ele problematizou os equívocos que vem da falta de profundidade e de investigação jornalística, citando os casos da eleição de Donald Trump, o Brexit na Europa e o plebiscito do desarmamento na Colômbia, cujos desfechos surpreenderam todas as previsões de analistas e da grande mídia. 


O pesquisador da Universidade São Caetano do Sul, Arquimedes Pessoni,  chamou atenção para o papel importante das assessorias de imprensa em um contexto no qual os jornalistas não tem especialização em saúde. Atuando na formação de jornalistas há 17 anos, dez deles só em cursos de graduação em jornalismo, ele apresentou preocupação com o nível baixo de leitura e compreensão de texto com que os alunos chegam à universidade.  Ele analisou as notícias sobre zika, publicadas no Portal Brasil na época da epidemia e observou certas tendências, como o uso de autoridades políticas na manchete e um discurso governamental bastante unificado, mas números controversos sobre a quantidade de casos de zika. O coordenador de comunicação do Fundo de Populações para as Nações Unidas, Ulisses Bigaton, apresentou a campanha Mais Direitos Menos Zika, alertando que durante a epidemia de zika, não bastou informação contra o mosquito, pois evidenciou-se que a transmissão poderia ser realizada também durante a relação sexual. Segundo ele, apenas um em cada cinco infectados demostram os sintomas, então o enfoque desta campanha alertava que, não bastava só usar repelente, mas também usar o preservativo. 


O coordenador da assessoria de comunicação da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos foi o moderador desta atividade que encerrou o evento. Ele avalia que o seminário superou as expectativas de público e discussão, em especial por envolver a imprensa e os pesquisadores nacionais e internacionais e conquistar um bom  público participante, não só composto por pesquisadores mas também por profissionais e estudantes da área de saúde e da comunicação de Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo, além dos participantes do Distrito Federal. Ele atribui o bom êxito do evento a três fatores: a sua continuidade, já que é a quinta edição realizada, o que comprova que é uma atividade que de fato, faz parte do calendário de atividades oficiais da Fiocruz Brasília, a conquista de edital pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, que possibilitou o financiamento do evento e coloca a assessoria de comunicação como um dos novos espaços para busca de fomento à realizaçaõ de atividades de pesquisa e o fato de estar em sua primeira versão internacional, o que possibilitou que se apresentassem estratégias e o contexto da saúde na mídia da Espanha e da Argentina.  

Em breve a gravação completa do I Seminário Internacional e V Seminário Nacional As relações da saúde pública com a imprensa estará disponível no canal da Fiocruz Brasília no youtube.  Clique aqui para acessar parte do conteúdo apresentado pelos palestrantes ao longo dos três dias de evento. 

A cobertura fotográfica está disponível neste link.

 Clique nos links abaixo e saiba mais sobre os três dias de evento: 
O papel da comunicação diante das epidemias  
O panorama das arboviroeses transmitidas pelo Aedes  

Aedes Aegypti na pauta jornalística brasileira e internacional
Desafios e críticas ao jornalismo de saúde