Relato de Emanuelly Barbosa (Outubro/2025)
Sou Emanuelly da Silva Barbosa, mulher negra, cria do Sol Nascente, atualmente uma das maiores favelas do Brasil, enfermeira de formação e residente da primeira turma do Programa de Residência Multiprofissional em Vigilância em Saúde (PRMVS) da Fiocruz Brasília. Quando se fala em enfermagem, ainda é comum que a profissão seja associada apenas ao cuidado assistencial, realizado em leitos, postos de saúde ou hospitais. No entanto, a prática da enfermagem vai muito além: ela pode e deve estar presente em todos os espaços que promovem e defendem a saúde da população.
Ao longo da residência, tenho vivenciado uma experiência intensa de crescimento profissional, técnico e humano. Ingressar nesse programa foi uma conquista enorme, tanto por integrar a primeira turma do programa quanto por atuar em um campo muitas vezes invisibilizado: a vigilância em saúde. Poder contribuir para a sua valorização e defendê-la, especialmente junto às populações negligenciadas, é motivo de grande orgulho.
Durante minha trajetória, transitei por diferentes áreas da vigilância. Na vigilância epidemiológica, no Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) do Distrito Federal, acompanhei o monitoramento de doenças, a coleta e análise de dados, a produção de indicadores e as ações de comunicação em saúde, ferramentas essenciais para antecipar e enfrentar riscos. Já na vigilância sanitária, no Núcleo de Inspeção Sanitária de Águas Claras, participei de vistorias e, principalmente, de ações educativas com a população, aproximando o saber técnico do cotidiano das pessoas. Finalizarei a residência na Gerência de Informação e Análise de Situação em Saúde (GIASS), onde venho acompanhando e desenvolvendo investigações sobre dados de mortalidade e natalidade informações vitais para a formulação de políticas públicas.
A Vigilância em Saúde é essencial para a qualificação contínua dos profissionais, promovendo aprendizado constante diante de novos desafios à saúde pública, como o surgimento de doenças, as mudanças climáticas e os riscos ambientais. Assim, contribui para a formação de profissionais mais preparados, sensíveis e resilientes, capazes de lidar com a complexidade da saúde pública e de promover uma saúde mais equânime e sustentável.
Essas experiências me ajudam a enxergar o Sistema Único de Saúde (SUS) de forma mais ampla, complexa e potente. A cada dia vivido nesse processo, reafirmo a importância de ser enfermeira em territórios muitas vezes negligenciados, de atuar na vigilância como estratégia fundamental de cuidado e proteção coletiva, e de seguir contribuindo para a construção de uma saúde pública de qualidade, comprometida com a vida e com a equidade.
“Dê Letras à Sua Ação” busca divulgar artigos assinados por colaboradores e estudantes da Fiocruz Brasília sobre iniciativas relacionadas a seus trabalhos ou de seus colegas. Os relatos são de responsabilidade de seus autores.
Fotos: Acervo Pessoal