Mateus Quevedo (Angicos/Fiocruz Brasília)
Depois de formar cerca de 197 jovens como agentes populares da saúde no Distrito Federal em 2024, a Fiocruz Brasília sediou a aula inaugural do segundo ciclo do Curso de Formação de Agentes Populares da Saúde (AgPopSUS – Juventudes), no último sábado, 15/2. O evento, realizado no auditório externo da instituição, contou com a presença de diversas autoridades e representantes de movimentos sociais. A programação incluiu a mesa de abertura e a aula “Educação Popular e as Juventudes – Construindo ‘inéditos viáveis’ na formação de agentes populares de Saúde”.
O curso, desenvolvido pelo Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação em Saúde (Angicos), da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, é inspirado no Programa Nacional de Formação de Agentes Educadores(as) Populares – AgPopSUS, do Ministério da Saúde, e foi viabilizado por meio de emenda parlamentar da deputada federal Érika Kokay. Neste segundo ciclo, o curso possui 14 movimentos sociais envolvidos no processo, 27 educadores e educadoras formam a rede pedagógica com 438 jovens nos diversos territórios do DF.
“O curso tem como objetivo a formação de agentes populares junto a jovens dos territórios do Distrito Federal, o desenvolvimento de competências em educação popular em saúde, a construção de identidade de grupo e o fortalecimento da participação popular e do controle social na saúde. Além disso, busca incentivar práticas tradicionais e populares de cuidado, combater a fome e promover a segurança alimentar”, afirmou Rozangela Camapum, uma das coordenadoras do projeto, durante a mesa de abertura.
Além de Rozangela, a mesa de abertura foi composta por Osvaldo Bonetti, coordenador do Angicos, representando a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; a deputada federal Érika Kokay; o deputado distrital Gabriel Magno; o diretor de Articulação e Fomento de Programas e Projetos de Juventudes da Secretaria Nacional de Juventude, Guilherme Naves; o diretor de Educação Popular da Secretaria Nacional de Participação Social da Presidência da República, Pedro Pontual; e o assessor de Transparência e Controle Social da Secretaria de Saúde do DF, Ab-Diel Nunes de Andrade, que representou a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio.
Do Ministério da Saúde, participaram da mesa a coordenadora Nacional do Projeto Agentes Populares de Saúde – AgPopSUS, Lívia Milena Barbosa de Deus e Mello; e a coordenadora-geral da Articulação Interfederativa e Participativa, Maria Rocineide Ferreira da Silva, que representou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberger do Nascimento Barbosa. Maria Rocineide também foi uma das convidadas para conversar com as juventudes presentes sobre o tema da aula inaugural.
De forma geral, a mesa destacou a importância da experiência de educação popular envolvendo jovens, visando à aproximação com o Sistema Único de Saúde, além do fortalecimento das práticas de saúde e do cuidado em seus territórios. Pedro Pontual adiantou aos jovens que, neste processo de formação que iniciam, haverá quatro conceitos que os acompanharão em todo o período: território, participação social, educação popular e políticas públicas.
“Esses conceitos são uma caixa de ferramentas muito importante para o desenvolvimento do trabalho de vocês. Desejo um excelente curso e, sobretudo, muito sucesso nesse engajamento transformador que vocês estão fazendo ao optarem por atuar como agentes de educação popular aqui nos territórios do DF”, concluiu.
“Esse processo, esse curso são democracia pura, porque a democracia a gente constrói a partir da consciência de direitos, e direitos significam que temos a possibilidade de viver uma humanidade que pressupõe, dentre tantas coisas, o bem-viver, que é concepção de saúde”, apontou a deputada federal Érika Kokay, sugerindo também o conceito de democracia como ferramenta de trabalho dos jovens em formação.
Osvaldo Bonetti lembrou da importância de duas figuras históricas que devem ser usadas como inspiração para o trabalho dos jovens: Sérgio Arouca, que apontava para a saúde como sinônimo de democracia, e Paulo Freire, com a construção dos inéditos viáveis, tema da aula de abertura. “Esse curso é um inédito viável”, defendeu o coordenador do Angicos.
Juventudes construindo ‘inéditos viáveis’
Com o tema “Educação Popular e as Juventudes – Construindo ‘inéditos viáveis’ na formação de agentes populares de Saúde”, a médica Maria Rocineide e a educadora popular Vera Lúcia Dantas utilizaram formas criativas e animadas para apresentar os conceitos freirianos de ‘inéditos viáveis’ e ‘situação limite’.
Maria Rocineide apresentou dados sobre a juventude no Distrito Federal que apontavam para a desigualdade de distribuição de renda e como isto afeta diretamente a juventude negra. Segundo levantamento apresentado por ela, as regiões administrativas com maior renda possuem a menor prevalência de juventude negra, enquanto o maior percentual de jovens negros encontra-se nas regiões administrativas de baixa renda. “A gente, com uma formação como essa, pode começar a produzir a transformação necessária, porque as condições de possibilidade para produzir vida têm a ver também com renda, com escolaridade e ter acesso a formações como esta”, afirmou.
Vera Dantas abordou a importância da educação popular como um espaço em que é possível olhar a realidade, enxergar seus desafios e problematizá-la. “É o que Paulo Freire chamou de situação-limite, quando você encontra uma barreira e não se acomoda diante de sua intransponibilidade, mas busca estratégias a partir da nossa rebeldia e criatividade, nos percebendo como seres incompletos e que se fortalecem juntos, para buscar os inéditos viáveis, que é a possibilidade de mudança desejável”, explicou Dantas.
Confira abaixo a lista dos 14 movimentos sociais que vão fazer parte desta formação da Fiocruz Brasília:
Fotos: Tiago Rodrigues/AgePopSUS Juventudes.