Criatividade e inventividade marcam participação de estudantes no Fórum Ciência e Sociedade

Fiocruz Brasília 14 de novembro de 2016


Dança, teatro, poesia e até a simulação de um telejornal marcaram o último dia do Fórum Ciência e Sociedade, realizado no auditório do Instituto Federal de Brasília do Gama, nessa sexta-feira (11/11). Após 4 semanas de vivência, nas áreas da agroecologia, segurança alimentar, nutrição e do desenvolvimento sustentável, os alunos do Centro de Ensino Médio 02, Centro Educacional 6, Centro de Ensino Médio Integrado e do Instituto Federal de Brasília (IFB) se dividiram em quatro grupos: Agrosan, Solários, Sapere Aude e Team Azul e apresentaram uma síntese do que aprenderam ao longo das últimas quatro semanas.

Para falar sobre a agroecologia e o impacto dos agrotóxicos nas plantações, os integrantes do grupo Agrosan encenaram um telejornal, que contou com apresentadores de bancada, a moça do tempo, repórter de rua, cinegrafista e entrevistados. Na ocasião, os alunos aproveitaram para entrevistar a colaboradora da Fiocruz Brasília, Maria Regina Padrão, que falou sobre sua experiência no Fórum Ciência e Sociedade.

Para Isabelly Borges, 16 anos, estudante do 2º ano do IFB, o seu olhar sobre a natureza mudou. “Aprendi que devo cuidar e utilizar os recursos da natureza com consciência e responsabilidade. Além disso, gostei de conhecer novas pessoas, pois fiz amizades aqui que levarei para o resto da minha vida”, contou.

A professora do CEMI, Lorena Mendonça Tavares da Oliveira elogiou o Fórum e contou que a sua tia também participou do projeto, anos atrás. “O Fórum é uma tecnologia inovadora de educação, que eu acredito fazer a diferença na vida dos alunos. A proposta de levar o estudante para fora da sala de aula e fazer com que ele se aproprie de um determinado tema é muito valiosa, pois na prática eles assimilam melhor o conteúdo. Assim como aconteceu com minha tia, que hoje é professora aposentada, mas anos atrás teve a oportunidade de participar do Fórum, para mim essa foi uma experiência inesquecível”, comentou.

Segundo grupo a se apresentar, o Solários fez uma nova versão da canção “Beijinho no Ombro”, música que ficou famosa na voz da cantora Valesca Popozuda. Os alunos fizeram passos de funk e colocaram os colegas e professores para dançar ao som da nova letra que dizia “a agroecologia vai salvar nosso país”.  Depois da animação, os alunos apresentaram um protótipo de um sistema de irrigação autônomo, criado por Igor Cândido de Souza, 17 anos, 2º ano do CEM 02, e por Gabriel Alexandre Lanza, 15 anos, 1º ano, do CEM 02.

“Nós perguntamos aos nossos vizinhos o motivo de eles não produzirem seus alimentos e a maioria disse que não tinha tempo de cuidar da horta, então, pensamos que esse sistema de irrigação poderia facilitar esse trabalho, já que também criamos um aplicativo de celular, no qual eles podem monitorar o sistema, onde quer que estejam”, disse Igor, que também explicou que o sistema de irrigação é acionado automaticamente sempre que o sensor detectar que a umidade do ar está abaixo de 50%. De acordo com Igor e Gabriel, o valor do protótipo saiu por R$ 209,00 e um produto real sairia por R$ 500,00, 10 vezes mais barato que os já existentes no mercado. O preço mais em conta, segundo os alunos, deve-se ao fato de utilizarem 90% da matéria-prima nacional.

O grupo Sapere Aude apresentou um panorama de tudo o que aprenderam durante o Fórum e exibiram cartazes com frases e trechos de poesias que falam de alimentação saudável, perseverança, agrotóxicos e saúde. A integrante do grupo, Ingrid Pereira dos Santos, 18 anos, do 2º ano do IFB, disse que irá se reunir com seus vizinhos para dividir o que aprendeu. “Não adianta nada eu ficar com esse conhecimento somente para mim, quero compartilhar com meus vizinhos e pensar em ações voltadas para a agroecologia”, afirmou.

No dia anterior, a pesquisadora da Ensp/Fiocruz Karen Friedrich surpreendeu  os alunos ao compartilhar que o maior conhecimento da agroecologia está nas coisas mais simples, dos povos tradicionais, o que contrariou o senso comum dos estudantes, que compreendiam os saberes científicos como mais importantes que a tradição. Ela denunciou o uso de agrotóxicos como problema de saúde pública e promotora de injustiça ambiental. “O Brasil é um mercado de descarte de agrotóxicos que estão proibidos em outros países e há um projeto de lei para limitar o trabalho da vigilância sanitária ou do Ibama no registro e proibição desses agrotóxicos, ” disse.  Segundo ela, se o investimento em agroecologia fosse próximo do investido em agronegócio, haveria alimento de qualidade para todos.

O pesquisador da Embrapa Hortaliças Vicente Almeida também alertou sobre o direito a conhecer o risco da tecnologia dos transgênicos, que não são sementes melhoradas, mas construídas a partir da transposição de genes de um ser vivo a outro. E mais, que o direito à alimentação não é só ter o que comer, mas poder escolher o que comer e saber se aquele alimento tem ou não agrotóxicos. “Não basta só saber que o alimento é orgânico, pois mesmo na produção orgânica, pode ter tido exploração desenfreada e abusiva da mão de obra dos pequenos produtores, ”, afirmou ele.

No último dia, encerrando as apresentações, o grupo Team Azul também fez uma síntese da experiência vivida pelos integrantes e destacou a importância de inserir no cotidiano o que foi aprendido no Fórum. Finalizaram a participação cantando uma música que enaltecia a agricultura familiar e o fim do uso de agrotóxicos.

Emocionada, a estudante Lidya Bianca Martins dos Santos, 17 anos, do 2º ano do IFB, agradeceu pelo aprendizado e pelo carinho. “Eu aprendi bastante em todas as etapas do Fórum. Aprendi com os novos colegas que conheci aqui, com os professores e com a equipe da Fiocruz, mas eu quero agradecer, principalmente, pelo afeto que recebi de todos vocês”, agradeceu.

Em seguida, a coordenadora do Programa de Educação, Cultura e Saúde (PECS), Luciana Sepúlveda Koptcke falou sobre a história do Fórum e comentou sobre a peculiaridade de cada edição. “Cada Fórum é um processo vivo e tem suas características. Esse ano, eu achei muito interessante a forma como os professores se integraram ao projeto e abraçaram todas as ações. A juventude não é o nosso futuro, é o nosso presente e eu espero que esses jovens levem o Fórum para a vida deles e o para o mundo”, concluiu.

De 09 a 11 de novembro, cerca de 80 estudantes de ensino médio da região do Gama selecionados nas escolas públicas e no Instituto Federal de Brasília participaram da última etapa do Fórum Ciência e Sociedade, iniciativa realizada pela Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Educação, Cultura e Saúde.

O Fórum acontece anualmente há dez anos e, em 2016, o tema foi Segurança Alimentar e Agroecologia. Este ano foi organizado em três momentos distintos: inicialmente, foi realizado um curso de formação sobre segurança alimentar e nutricional, agroecologia e comunicação para os professores, que devem replicar os conhecimentos em sala de aula.  Na sequência, seus alunos participaram de atividades de campo para vivenciar o conhecimento científico na prática, como as visitas ao sítio Gerânium de agricultura orgânica, ao mercado de alimentos da Central de Abastecimento do DF (Ceasa) e à Embrapa Hortaliças. A terceira e última etapa contou com a participação de diferentes pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições, em debates sobre agroecologia, segurança alimentar e comunicação da alimentação saudável.

Confira mais fotos do último dia do Fórum Ciência e Sociedade aqui: https://flic.kr/s/aHskNSVHGJ