Covid-19: perguntas & respostas

Fiocruz Brasília 1 de fevereiro de 2022


Sintomas, diagnóstico, transmissão, risco, cuidados, vigilância, prevenção, vacina: se você tem alguma dúvida sobre Covid-19, compartilha com a gente em nossas mídias sociais (Facebook, Instagram e Twitter) e sua resposta será publicada nesta seção. Acesso à informação qualificada é uma importante forma de proteção.  

 

Qual a previsão da liberação da quarta dose para todos?

No momento, é ainda controversa a indicação de uma segunda dose de reforço (quarta dose) de uma vacina contra a Covid-19 para pessoas jovens e que não tenham imunodeficiências, como portadores de neoplasias malignas e transplantados. Embora diversos estudos indiquem uma queda dos níveis de anticorpos neutralizantes contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) com o passar do tempo, e que doses de reforço de vacinas voltem a elevar esses níveis, a proteção conferida contra formas graves da Covid-19 se mantém por tempo mais prolongado do que indicam esses anticorpos, provavelmente pelo papel desempenhado pela imunidade celular. É provável que reforços periódicos de vacinas contra a Covid-19, talvez anuais, venham a ser indicados para todos, ou para a maioria, no futuro, mas o intervalo de tais reforços, e que vacinas usar, ainda não está definido. Há muitas variáveis que podem influenciar tal decisão, entre elas o possível surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 e o desenvolvimento e disponibilização de novas vacinas ora em fase de investigação, que poderão ser superiores às disponíveis hoje em dia.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 13/04/2022.

 

Há previsão para vacinação de bebês contra a Covid-19? 

Não há ainda nenhuma vacina contra a Covid-19 aprovada para uso na faixa etária abaixo de 24 meses de idade, que são os lactentes ou bebês. Das quatro vacinas contra a Covid-19 disponíveis no Brasil (AstraZeneca, CoronaVac, Janssen e Pfizer), apenas a da Pfizer está sendo estudada em um ensaio clínico para a faixa etária de 6 meses a 4 anos de idade. A vacina que está sendo estudada para essa faixa etária tem 1/10 da dose utilizada em crianças a partir dos 12 anos e em adultos, e devem ser administradas três doses (ou seja, três injeções) desta vacina. Sua aprovação para essa faixa etária dependerá de uma avaliação dos benefícios (proteção contra a Covid-19, particularmente as suas formas graves) observados no estudo clínico em relação aos riscos (frequência de reações à vacina e ocorrência de eventos adversos graves). Dados preliminares sugerem que a vacina da Pfizer seja segura na dose preconizada para essa faixa etária. É possível que esta vacina seja aprovada nos Estados Unidos para uso entre 6 meses e 4 anos de idade a partir de meados deste ano (2022). A aprovação no Brasil pela Anvisa não deverá ocorrer antes disso.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 13/04/2022.

 

Existe algum estudo que ateste maior eficácia na vacinação heteróloga?

Por vacinação heteróloga entende-se que, na primeira e na segunda doses do esquema primário de vacinação, são usadas vacinas diferentes. Isto pode ser necessário por questões de disponibilidade das vacinas, ou quando a pessoa vacinada apresenta uma reação adversa à primeira vacina que contraindica o seu uso numa segunda dose. Portanto, não se propõe uma vacinação heteróloga por se desejar que ela funcione melhor que a vacinação homóloga (que é quando se utilizam duas doses da mesma vacina), mas por necessidade. Além da vacinação heteróloga, há também o chamado reforço heterólogo, quando, numa terceira dose (dose de reforço), se administra uma vacina de plataforma tecnológica diferente da que foi usada no esquema primário de vacinação (isto é, na primeira e segunda doses). Há estudos que mostram que as respostas imunológicas humoral (produção de anticorpos) e celular a determinadas combinações e sequências de vacinação heteróloga são maiores do que as observadas na vacinação homóloga com uma das vacinas. Esse achado não implica, necessariamente, que quem recebeu a vacinação heteróloga vá estar mais protegido, ou por tempo mais prolongado, pois isso não foi demonstrado. Talvez seja mais importante destacar que a vacinação heteróloga, quando indicada, não parece ser inferior à vacinação homóloga.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 13/04/2022.

 

Minha mãe tomou a vacina e teve inchaço abaixo da axila, próximo aos seios, e também ficou roxo do lado que ela tomou. Esse é um efeito colateral normal? Ou significa algum tipo de alergia? Qual a recomendação na próxima vez que ela for se vacinar?

Pela descrição, presume-se que se trata de linfadenopatia axilar, ou seja, inchaço de um ou mais linfonodos (ou gânglios linfáticos) na região da axila do mesmo braço onde foi administrada a vacina por via intramuscular. Nesse caso, trata-se de uma reação adversa bastante conhecida, quase sempre benigna e autolimitada. É considerada uma reação imunológica à vacina, mas não de natureza alérgica. De acordo com as bulas das vacinas, a linfadenopatia é considerada incomum ou rara. A ocorrência de linfadenopatia não contraindica uma segunda dose ou dose de reforço da mesma ou de outra vacina contra a Covid-19.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 08/04/2022.

 

Se testei positivo para Covid-19, quantos dias devo aguardar para tomar a dose de reforço?

De acordo com as orientações do Ministério da Saúde, todo caso confirmado ou suspeito de Covid-19 deve esperar 4 semanas (30 dias), após o desaparecimento dos sintomas da fase aguda da doença, para tomar a dose de reforço ou completar o esquema vacinal contra a Covid-19.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 08/04/2022.

 

A vacina pode fazer evoluir para alguma doença?

Até o início de março de 2022, mais 468 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 já haviam sido distribuídas no Brasil, e mais de 91% da população de 12 anos ou mais já havia recebido pelo menos uma dose de uma dessas vacinas. Considerados esses números, não é de se estranhar que, em parte das pessoas vacinadas, a administração da vacina seja seguida pelo surgimento de sintomas e sinais de doença coincidentes, não necessariamente provocados pela vacina. A vigilância de eventos adversos pós-vacinação (EAPV) é realizada para contabilizar e investigar esses casos, particularmente os inesperados e os de maior gravidade, e analisar se existe uma relação causal entre eles. Isso vale para todos os eventos adversos (“efeitos colaterais”) às vacinas, incluindo o desencadeamento de doenças, que seria como o disparo de um gatilho que as desencadearia em pessoas já propensas a elas, ou a piora de uma doença já instalada. Na literatura médica, há alguns relatos de casos que sugerem que isso poderia acontecer. Porém, essa determinação da causalidade não é simples de se fazer, e ela não está estabelecida de forma inequívoca nesses casos. Nas bulas das vacinas contra a Covid-19 autorizadas para uso no Brasil, não há menção a desencadeamento ou piora de doença pelo uso da vacina.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 08/04/2022.

 

Existe relação entre a vacina de Covid-19 e a redução do número de plaquetas no sangue?

Plaquetopenia ocorre quando a contagem de plaquetas no sangue é inferior a 150.000 por mm³. Casos leves de plaquetopenia podem não ser detectados, por não causarem sangramentos ou lesões de pele (conhecidas como petéquias ou púrpura). Plaquetopenia grave ocorre quando a contagem de plaquetas é menor do que 10.000 por mm3, e pode haver sangramento espontâneo. Existem muitas causas para a plaquetopenia, que, às vezes, é apenas uma entre várias manifestações de certas doenças. A própria Covid-19 pode cursar com plaquetopenia. Ela é relativamente frequente em pessoas que adquirem Covid-19, podendo ser acentuada nos casos mais graves desta doença. A plaquetopenia pode ser observada após vacinação contra a Covid-19, mas isso não é observado com frequência, e não necessariamente tem relação causal com a vacina. Casos leves de plaquetopenia, temporalmente associados à vacinação, normalmente não são detectados porque não há necessidade de exame de contagem de plaquetas após a vacinação: são eventos de curta duração e sem repercussão clínica. Casos potencialmente graves de evento adverso à vacinação com plaquetopenia associada são muito raros.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS), e publicada em 28/03/2022.

 

Algumas pessoas têm afirmado que gostariam de escolher qual vacina contra Covid-19 vão tomar. Por que esse tipo de comportamento não é justificável e por que tomar a vacina disponível, seja ela qual for, quando chegar a sua vez de ser vacinado, é tão importante?

No caso das vacinas contra Covid-19, os resultados iniciais dos estudos clínicos, com acompanhamento dos pacientes durante poucos meses, mostram algumas diferenças de eficácia entre as vacinas, o que, à primeira vista, poderia induzir uma pessoa a manifestar uma preferência, caso tivesse essa opção. Outro motivo que poderia levar alguém a demonstrar preferência por uma vacina é o receio de ter algum evento adverso raro associado a outra vacina. Porém, a comparação entre as diferentes vacinas não é direta, pois os estudos são diferentes, em populações diferentes, com critérios diferentes. Por isso, é preciso cuidado ao interpretar as diferenças observadas nos resultados. Não se sabe, por exemplo, se essas diferenças de eficácia vão se manter ao longo do tempo. Além disso, o possível surgimento de variantes preocupantes do vírus torna ainda mais incerto afirmar que uma vacina é superior à outra. Embora a eficácia das diferentes vacinas contra Covid-19 não seja idêntica, todas conferem proteção e são seguras. Quanto à segurança, há que se levar em conta que eventos adversos raros são detectados quando as vacinas estão sendo mais utilizadas, e os eventos até agora relatados não alteram a razão benefício/risco, que permanece muito favorável a todas as vacinas contra Covid-19 atualmente em uso. Na atual situação da pandemia no Brasil e no mundo, é fundamental conseguir vacinar toda a população no menor tempo possível, ou seja, é preciso que todos se imunizem com as vacinas aprovadas que estiverem disponíveis na sua vez. Isso do ponto de vista coletivo. Do ponto de vista individual, uma pessoa não se vacinar na sua vez para esperar uma vacina que ela acredita ser melhor não é uma boa ideia, porque, nesse tempo de espera, ela pode se expor ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), se infectar, adoecer e, ainda, transmitir o vírus para familiares e amigos.

Esta resposta faz parte de uma entrevista com o pesquisador Sérgio Nishioka. Leia mais

 

Por que, mesmo após a vacinação, a pessoa deve continuar com as medidas de proteção não farmacológicas, como uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social?

Sérgio Nishioka: Porque nenhuma das vacinas confere proteção total (de 100%), de forma que mesmo pessoas vacinadas podem adquirir Covid-19 e até apresentar formas graves da doença. A probabilidade de isso acontecer é bem baixa em comparação com pessoas não vacinadas, mas ela existe. Outro motivo importante é que não se sabe ao certo se as pessoas vacinadas estão protegidas contra a infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), e é muito provável que pelo menos parte delas não esteja. Assim, uma pessoa vacinada poderia se infectar pelo vírus sem apresentar sintomas, e transmiti-lo para outras pessoas com quem tiver contato. Essa transmissão seria facilitada se a pessoa não adotasse as medidas de proteção não farmacológicas.

Esta resposta faz parte de uma entrevista com o pesquisador Sérgio Nishioka. Leia mais

 

Por que apenas massificar mensagens como “fique em casa”, “lave as mãos” e “use máscara” não é suficiente para engajar as pessoas na prevenção à Covid-19?

A área da saúde, em geral, ainda tem esse viés institucional de uma ação prescritiva, às vezes até imperial, de receitar para as pessoas o que elas devem ou não fazer. Na pandemia, temos falado muito da importância de escutar a ciência, mas ainda produzimos e reproduzimos uma ciência que não se conecta com a população. O cuidado pessoal é relacionado com as situações de vida. Se a ciência produz uma prescrição que não está contextualizada, ela não terá efeito e, às vezes, pode ocorrer uma rejeição da informação científica. Se a mensagem não dialoga com o contexto de vida das pessoas e elas percebem que não conseguem alcançar aquele ideal recomendado, elas vão em busca de alternativas mais fáceis, dentro das suas possibilidades, o que pode torná-las vulneráveis a informações que não são corretas. Existem outras formas de comunicar. No Brasil, existe toda uma discussão da educação popular em geral e da educação popular em saúde. Temos a pedagogia contextualizada e emancipatória, de Paulo Freire, e toda uma construção de informação e formação que é dialogada. Existe uma política de educação popular em saúde, que deveria estar sendo mais acionada neste momento. A pedagogia do cuidado é resultado dessa reflexão, uma forma de olhar e construir medidas de proteção com a educação popular, a ciência e uma epidemiologia comunitária. São medidas construídas de forma compartilhada, a partir de uma informação epidemiológica voltada para uma ação de cuidado, ancorada na realidade local, na dinâmica da doença naquele território, sua transmissão, riscos e situações críticas na comunidade.

Esta resposta faz parte de uma entrevista com o pesquisador Jorge Machado. Leia mais

 

Como lidar, por exemplo, com a situação de pessoas que precisam sair de casa para trabalhar?

Temos que olhar cada caso e ir integrando as ações. Se as pessoas têm que sair de casa para trabalhar, é preciso discutir a trajetória até o trabalho, e construir uma proteção no transporte público, considerando o pulsar da cidade e a circulação das pessoas, algo central na transmissão da doença. Uma epidemiologia do cuidado deve organizar uma ação de proteção e de redução da transmissão que considere a necessidade de circulação das pessoas. Tem que haver medidas de proteção no transporte público, como, por exemplo, aumentar a quantidade de ônibus e metrô, e fazer a testagem de motoristas e cobradores. Mas o que vimos, em alguns lugares, foi o contrário: redução da frota, demissão de trabalhadores e pessoas indo trabalhar doentes, sem direito à quarentena. Essa discussão sobre proteção social precisa ser feita. Principalmente nos terminais rodoviários, onde existe grande concentração de pessoas indo e vindo, pode-se distribuir máscaras, instalar pontos de lavagem das mãos e ofertar produtos de higiene. Se a pessoa não tem dinheiro para adquirir esses produtos, eles podem ser distribuídos pelo poder público, inclusive a partir de uma produção que estimule a economia popular, gerando renda nas periferias. Houve iniciativas assim em vários locais, em um processo articulado entre proteção e ação social.

Esta resposta faz parte de uma entrevista com o pesquisador Jorge Machado. Leia mais

 

O consumo de bebidas alcoólicas prejudica a eficácia da vacina contra Covid-19? [pergunta recebida em nossas mídias sociais]

O uso crônico de bebidas alcoólicas está associado à queda de resposta imune, o que se reflete em maior risco de indivíduos nessa condição adquirirem diversas infecções ou desenvolverem formas mais graves das mesmas. O uso moderado de bebidas alcoólicas não tem esse efeito prejudicial sobre a imunidade. Contudo, o fato de uma pessoa consumir cronicamente grandes quantidades de álcool não é uma contraindicação para que ela seja vacinada contra a Covid-19, mesmo que ela possa vir a ter uma resposta imune menor à vacina, se comparada a pessoas que não consomem bebidas alcoólicas.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS).

 

É verdade que se deve evitar o consumo de álcool durante 15 dias depois de se vacinar? [pergunta recebida em nossas mídias sociais]

Quanto ao consumo de bebida alcoólica no mesmo dia da vacinação contra a Covid-19, ou nos dias que precedem ou sucedem a mesma, não há evidências de que o consumo agudo de álcool altere a resposta imune à vacina, mas isso não é usualmente estudado nos ensaios clínicos, e não costuma ser mencionado nas bulas de vacinas. Recomenda-se não vacinar alguém que chegue alcoolizado à sala de vacinação, e evitar a ingestão de bebidas alcoólicas em grande quantidade no dia da vacinação e nos dias subsequentes a ela, pois eventuais sintomas decorrentes da intoxicação alcoólica podem se somar ou se confundir com eventuais reações adversas à vacina. A orientação de não ingerir bebida alcoólica por 15 dias antes e três semanas após a vacinação contra a Covid-19 foi dada por uma autoridade russa, com referência a uma vacina em particular, e viralizou nas mídias sociais. Contudo, não há evidência científica que dê respaldo a tal recomendação para nenhuma vacina contra Covid-19.

Resposta elaborada pela equipe do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS).

 

As perguntas anteriormente respondidas pelos pesquisadores da Fiocruz Brasília, desde o início da pandemia, estão disponíveis aqui

 

Acesse também as perguntas e respostas do Portal Fiocruz