Conversas sobre saúde, cultura e direitos humanos

Fiocruz Brasília 21 de dezembro de 2022


Direitos humanos importam
Que seja pra mim, que seja pra ti
Que seja pros manos
Eu quero bem, eu quero direito
Eu quero saúde, quero vida e liberdade
Comida na barriga
E, na cabeça, muita arte
Arte pra mim, arte pra ti
Arte e direito pra todos os manos
Porque vida sem arte é vida sem mim
Arte é amor
E viver sem amor é puro pavor
É fria
Então, que a arte inunde o mundo
Como o fogo do sol
Que rasga a noite e cospe o dia
Pra nós e pra todos os manos

 

Os versos acima foram apresentados pela promotora Rosana Viegas, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), na mesa de encerramento de um evento realizado na Fiocruz Brasília em 7 de dezembro. Eles foram escritos por Rosana durante uma oficina de rap da qual a promotora participou junto com adolescentes acolhidos em instituições da assistência social do DF. Assim como outras atividades culturais, jogos e roda de conversa, a oficina fez parte de um encontro promovido pelo projeto “Territórios da Construção de Si: processos de desinstitucionalização de jovens e adolescentes pela maioridade”, desenvolvido desde dezembro de 2020 pela Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad), em parceria com o MPDFT, por meio da Promotoria de Justiça Cível e de Defesa dos Direitos Individuais, Difusos e Coletivos da Infância e da Juventude (PJIJ). 

 

Nesse dia, dezenas de adolescentes estiveram na Fiocruz Brasília para participar de uma programação que combinou ciência, cultura e arte com vistas à ampliação da garantia dos direitos infantojuvenis. O evento celebrou a Semana Internacional de Direitos Humanos e marcou o início da pesquisa de campo com “escutas territoriais” dos jovens, com idades entre 14 e 18 anos, que vivem em abrigos localizados em Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas e Brazlândia.

 

“Ao longo do dia um dos principais objetivos foi estimular a compreensão de que o sonho é um direito humano que se constrói tanto individualmente como de forma coletiva”, contou Fernanda Severo, pesquisadora do Nusmad e coordenadora da ação, que contou com o apoio da Assessoria de Comunicação (Ascom) e da Assessoria Pedagógica da Escola de Governo Fiocruz – Brasília. Parte desse grupo de adolescentes participou das etapas regionais do DF das Conferências de Saúde Mental e, no mês de novembro, da Conferência da Criança e do Adolescente. “Nossa expectativa é ampliar o chão do cotidiano dos adolescentes pelos diferentes territórios da cidade, em prol do fortalecimento do direito à saúde, do direito à cidade e do protagonismo juvenil nessas agendas políticas”, completou Fernanda.


Para André Guerrero, coordenador do Nusmad, o encontro foi uma oportunidade de ampliar a reflexão sobre temas que os adolescentes discutiram nas oficinas do projeto, uma agenda importante para a construção de políticas públicas. “Acreditamos que oportunizar esses diálogos em espaços públicos é fortalecer a construção da cidadania”, destacou. 


A programação contou com uma oficina de comunicação comunitária com rap, coordenada por Fernando Rocha, assistente social, especialista em saúde coletiva, rapper e integrante do Movimento Lazer, Esporte e Cultura (MoLEC), coletivo que promove ações de arte urbana e educação. Foram realizadas também partidas dos jogos “Passa ou repassa” e “Fato ou fake?”, com a equipe da Ascom, trazendo questões sobre saúde mental, vacinas e vacinação, e enfrentamento das fake news. Seguindo o fio da ludicidade e do direito de sonhar com territórios de inclusão e cidadania, as atividades buscaram discutir futuros possíveis por meio de música, dança, conteúdo científico e muito diálogo político – um caminho interdisciplinar que estimula o pensamento crítico e a autonomia como direitos humanos.

 

A última atividade do dia foi o painel “Escuta territorial: direito à vida”, com Jorge e Emília Broide, psicanalistas especializados em prática clínica em espaços públicos. Os palestrantes defenderam a ideia de que é na pulsação do território que emerge o sujeito de desejos, incentivando os adolescentes e os trabalhadores das instituições a reconhecerem seus territórios e refletirem sobre seus cotidianos para encontrar onde pulsam seus sonhos e seus direitos. Além de Rosana, Fernanda e André, também participaram da mesa a promotora Luisa de Marillac, do MPDFT, e Txai Staerke, do Comitê Consultivo de Adolescentes do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do DF (CDCA-DF).