Brasília enquanto território é destacado durante evento

Fiocruz Brasília 30 de maio de 2018


Os conceitos de território como debate político, teórico e cultural foram destacados no primeiro dia da Mostra Saúde É Meu Lugar, realizada nos dias 28 e 29 de maio, na Fiocruz Brasília. 

Para o coordenador do projeto, Caco Xavier, a oportunidade de trazer a Mostra para a Fiocruz Brasília, dando visibilidade às Redes Locais do Distrito Federal foi importante, pois o evento foi idealizado e construído a partir das realidades e necessidade locais. “É muito importante para a equipe da Mostra Saúde é Meu Lugar estar aqui nesta instituição que é referência e tratando dos assuntos desse local”, afirmou. 

A pesquisadora da Fiocruz Brasília Maria do Socorro de Souza enfatizou que o evento é uma oportunidade para a voz, fala e expressão da especificidade de Brasília. Para ela, pensar o território é um desafio, porque o planejamento sempre é feito a partir das grandes corporações nacionais que estão organizadas e representadas ou pela estrutura de como o Eestado se organiza com as administrações regionais. “Falar de território no DF é algo pouco comum. A gente dizia que Brasília sempre acolheu quem vem de outros estados e sempre tivemos a tarefa de mobilizar pessoas para somar-se a outras. Essa é uma oportunidade de pensar e entender melhor essa diversidade”, disse. 

O geógrafo, diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da Codeplan, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e cidadão honorário de Brasília, Aldo Paviani, apresentou características do território da Ccapital Ffederal. A cidade se consolidou entre as maiores do país, atrás de São Paulo e do Rio de Janeiro, com expansão populacional de 4.200.000 habitantes, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Brasília apresenta uma especificidade: é a única metrópole que não tem complexo industrial. 

O crescimento do número de moradores da capital federal é se dá pela imigração de habitantes de outras cidades. Os principais motivos para a mudança de cidade são para acompanhar parente (em 56% dos casos), procurar trabalho (em 29%) e ter acesso a serviços de saúde em (7% dos casos). 

Ao todo, 31 Regiões Administrativas (RAs) e sete Unidades de Planejamento Territorial (UPT) integram o território do Distrito Federal. As UPTs são categorizadas por sua posição geográfica: Central (Plano Piloto, Sudoeste/Octogonal, Cruzeiro e Candangolândia), Central-Adjacente 1 (Lago Sul, Lago Norte, Park Way e Varjão), Central-Adjacente 2 (Guará, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo, Águas Claras, Vicente Pires, SAI e Estrutural), Oeste (Taguatinga, Samambaia, Ceilândia e Brazlândia), Sul (Gama, Santa Maria, Recanto das Emas e Riacho Fundo II), Leste (Paranoá, Itapoã, São Sebastião e Jardim Botânico) e Norte (Sobradinho, Sobradinho II, Fercal e Planaltina). Os espaços podem ser conquistados com lutas sociais ou oferecidos pelo governo por benesses ou compensações.

O geógrafo destacou que as ações de saúde são indissociáveis do território. O crescimento populacional apresenta vulnerabilidades territoriais, como lacunas na oferta de trabalho, na saúde e na mobilidade. Esse aumento no número de habitantes também traz consequências no acesso ao serviços básicos como água e esgoto.  De acordo com dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), de 2015, 98% das casas são ligadas à rede de água e apenas 85% ligadas à rede de esgoto.  

Como soluções viáveis, o professor apresentou a descentralização de atividades econômicas, e o investimento em equipamentos de saúde ampliado, maior acesso à água tratada e esgotamento sanitário, acesso à educação em todos os níveis (fundamental, médio e superior), transporte público em massa e habitação digna. “Nunca se teve um plano de habitação para a população de baixa renda no Distrito Federal. E a habitação afeta diretamente a saúde pública. Que cidade queremos ao olhar para o futuro?”, completou questionou Paviani. 

O educador social Everardo Aguiar falou sobre sua chegada em a Brasília na década de 70 e de sua trajetória na cidade. Ele destacou sua paixão pela cidadepelo local, e que hoje considera sua inspiração. 
Aguiar falou sobre as redes sociais locais, que são formadas por pessoas, quque e se reúnem periodicamente para dialogar sobre seus territórios para a efetivação de políticas públicas, na busca da garantia de direitos e cidadania em todo o Distrito Federal. As redes são compostas por pessoas que vivem, atuam no território, e que representam alguns serviços públicos, como: saúde, assistência social, educação, segurança, cConselho Ttutelar, Mministério Ppúblico, entre outros, e pessoas que participam de conselhos de saúde, projetos sociais e culturais, associações, OnGs. 

“As redes sociais locais são ambientes afetivos para efetivar as políticas públicas, ela é objetiva. Não é um encontro para formular uma estratégia de segurança, cidadania ou saúde. Os encontro fazem com que a maioria das pessoas que mais precisam do Estado tenham acesso àquela política que é constitucional, fazendo aquele lugar de fala”, explicou Everardo. 

Para ele, ao invés de fazer articulação política, as redes sociais locais possibilitam que um se afete com o problema do outro, colocando a afetividade no lugar da articulação política.

Os conceitos de território nas áreas de geografia, ciência política, antropologia, sociologia e psicologia foram apresentados pela professora da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB Dais Gonçalves, destacando que a saúde transita em todos esses conceitos. Dais mostrou o trabalho que é desenvolvido pela universidade nos territórios, buscando agregar interesses e sentidos para a comunidade, ouvindo todos os segmentos envolvidos. Entre elas, o projeto Território Sustentável e Saudável, realizado em parceria com a Fiocruz. 

Em seguida, a rapper Thábata Lorena fez uma apresentação cultural com instrumentos musicais e letras que destacam o território, os elementos da natureza, a saúde e a diversidade.
 
Mostra Saúde é Meu Lugar
O projeto Saúde É Meu Lugar nasceu como um apoio à formação em atenção básica e uma parceria com a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde. O objetivo é dar mais voz e visibilidade e registro profissionais de saúde sobre a atuação das pessoas nos territórios. “O projeto é muito simples, você conta a sua história e a gente coloca no mundo”, explica o coordenador Caco Xavier, integrante da Rede Brasileira de Escola de Saúde Pública da Fiocruz. Os relatos podem ser enviados pelo whatsapp, e-mail ou pelo site, em formato não acadêmico, com fotos, vídeos, áudio e texto, e ficam armazenados na plataforma https://saudeemeulugar.com. O projeto também conta com mostras presenciais em todos os estados. Em 2017, foram realizadas no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. 

A Mostra Saúde É Meu Lugar integrou as comemorações do aniversário de 118 anos da Fiocruz. Confira como foi o segundo dia do evento.

Fotos: Sergio Velho Junior/ Fiocruz Brasília

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