“Do Apiaí ao Paranoá”. Dois rios – o primeiro, paulista; o segundo goiano, que represado formou o Lago que banha Brasília, capital federal – emprestaram os nomes para o Memorial defendido ontem pelo sanitarista Armando Raggio, um dos históricos militantes e construtores do SUS. Aprovado, Raggio conquistou o segundo título de Notório Saber em Políticas Públicas em Saúde, conferido pela Escola Fiocruz de Governo, localizada na Fiocruz Brasília.
A banca externa, que recomendou transformar o memorial em um livro, para que esse material possa ganhar o mundo, aconteceu ontem (14/12). A banca foi constituída pelos professores João Batista de Souza e José Geraldo de Sousa Júnior, da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Carpel Narvai, da Universidade de São Paulo e José Agenor Álvares da Silva, do Ministério da Saúde. Maria Célia Delduque, coordenadora do Programa de Direito Sanitário da Fiocruz Brasília, foi orientadora do trabalho.
Com uma narrativa entremeada de “causos”, Armando Raggio contou de suas inquietações e caminhadas pelas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste sem perder de vista seus rios – o Iguaçu, São Francisco, Tietê, Paraíba do Sul, Itajaí-Açu …… Alma Ata, preconizando Saúde para Todos no ano 2000 e inspirando ações integradas de saúde, extensão de cobertura, atenção primária, SUS para todos. Raggio falou que de lá para cá nada de novo foi inventado, e disse da frustação de em 2000 constatar o não cumprimento da meta estabelecida pela OMS. Município, estado, governo federal, Raggio percorreu todas as instâncias de governo como gestor e profissional de saúde e participou ativamente de campanhas de saúde pública, de controle de doenças evitáveis por vacina, da concepção de programas como PREV Saúde que antecedeu o SUS e muito mais. Ele vaticinou a necessidade de sair do “mediquês” e falar direto com o povo, pois básico é o que acontece no cotidiano das pessoas. Observou que as NOBs e NOAs reafirmam o centralismo quando tentam unificar normas para regiões com características tão diversas como as do Brasil.
José Agenor Alvares observou que Raggio narrou a história da saúde pública como ator e testemunha. Disse da contradição que existe na função de gestor quando ele assume plenamente sua responsabilidade e busca resolver um determinado problema da população. Sanada a questão, pune-se com a redução de recursos quando deveria ser redirecionada para outro problema. Brincando, disse ter ouvido de Raggio diversas vezes que “somos os oleiros da saúde. Todos nós colocamos um tijolinho na construção do SUS”.
O professor Paulo Narvai orientou que na revisão do memorial, Raggio acrescentasse sua participação na construção do Cebes, no Paraná. O Professor José Geraldo disse ter encontrado “um cronista e um causista da saúde. Foi saboroso ler um memorial muito ajustado ao campo acadêmico que o acolher – uma escola de governo. O texto produz um diálogo entre o saber e o fazer”. O professor José Batista elogiou o memorial e observou que ele traz mais de uma tese e agradeceu a administração do Raggio no HUB – Hospital Universitário de Brasília.