Aluna de iniciação científica da Fiocruz Brasília concorre a prêmio

Fernanda Marques 26 de maio de 2023


A Fiocruz selecionou três de seus estudantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) para concorrerem ao 20º Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Entre os indicados está a jovem Débora Ribeiro Rezende, orientada pela pesquisadora Flávia Elias, do Programa de Evidências para Políticas e Tecnologias de Saúde (Pepts) da Fiocruz Brasília. Intitulado “Necessidades e estratégias para atender pessoas com deficiência em períodos de emergência em saúde pública, em especial a pandemia do Covid-19”, o projeto de Débora consistiu na elaboração de uma síntese de evidências e na realização de um diálogo deliberativo, e concorre ao Prêmio na categoria Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. “O projeto foi selecionado por sua relevância, qualidade e inovação nessa área do conhecimento”, celebra a orientadora.

 

“É difícil falar do maior aprendizado em meio a tantos que tive nesse um ano de atuação como aluna de iniciação científica da Fiocruz”, conta Débora, estudante de graduação em biotecnologia da Universidade de Brasília (UnB), que valoriza ter aprendido novas formas de compreender a saúde a partir dos determinantes sociais. “Hoje, o conhecimento adquirido na Fiocruz se tornou essencial não somente para que eu pudesse atuar dentro da instituição, mas também para que eu fosse capaz de ampliar a minha visão de sociedade, aplicando-a, por exemplo, ao meu fazer político”, acrescenta a jovem.

 

O principal objetivo da pesquisa de Débora era identificar estratégias de atenção às pessoas com deficiência no contexto da pandemia de Covid-19, com vistas a orientar políticas públicas com ações realizáveis e que promovam a equidade no acesso à saúde em situações de emergência sanitária. Para alcançar esse objetivo, foi elaborada uma síntese de evidências, que consiste em uma busca estruturada da literatura científica sobre o tema. Utilizando nove diferentes bases de dados, foram identificados quase 1.600 estudos e, destes, 36 foram incluídos na síntese – a maioria deles (6) dos Estados Unidos. Dois estudos eram do Brasil.

 

Os estudos incluídos na síntese continham 49 estratégias para atender pessoas com deficiência durante os períodos de emergência em saúde pública. Participação de pessoas com deficiência na elaboração de planos de contingência, medidas para a garantia da dignidade financeira e da segurança laboral, fomento ao teletrabalho, alfabetização em informática, transporte especial e controle das pessoas com deficiência sobre suas próprias decisões em saúde são alguns exemplos dessas estratégias. A educação permanente de profissionais da saúde para um melhor atendimento às pessoas com deficiência e o fortalecimento de redes de apoio foram temas recorrentes na literatura, que também sinalizou a importância de medidas de atenção voltadas também aos cuidadores. As estratégias identificadas foram divididas em oito categorias: habitação, mobilidade e infraestrutura; trabalho, ocupação e renda; planejamento e gestão; assistência social; teleatendimento; comunicação; atenção integral à saúde; e educação para pessoa com deficiência.

 

A síntese de evidências foi, então, compartilhada com atores-chave relacionados à temática, incluindo pessoas com deficiência e/ou cuidadores, familiares, profissionais, gestores e pesquisadores. O método utilizado, chamado diálogo deliberativo, permitiu a coleta de opiniões sobre as estratégias identificadas na literatura científica e sobre as possíveis barreiras para sua implementação prática, além de possibilitar a contextualização dos resultados à luz da realidade brasileira.

 

O diálogo deliberativo foi realizado de forma online e síncrona. Os participantes consideraram essenciais questões como a priorização da autonomia e do empoderamento da pessoa com deficiência, assegurando sua participação nos processos de criação, concretização e avaliação de políticas públicas. Eles também destacaram a importância da construção de protocolos para situações de emergência sanitária, de modo a facilitar a atuação dos profissionais da saúde e da assistência social no atendimento às pessoas com deficiência.

 

Os atores-chave consultados apontaram, ainda, que muitas dessas pessoas vivenciam vulnerabilidades sociais, como insegurança alimentar, moradia precária, baixa renda, barreiras educacionais, dificuldade de inserção no mercado de trabalho e dependência de ações promovidas por ONGs. Entre as sugestões apresentadas, destacam-se aprofundar o conhecimento sobre saúde mental das pessoas com deficiência e violências sofridas por elas; categorizar as estratégias por temporalidade (antes, durante ou depois da crise), efetividade e contexto; e pensar a acessibilidade da cidade, a formação dos profissionais contra o capacitismo e a inclusão tecnológica das pessoas com deficiência. Outro apontamento dos participantes foi que várias das estratégias identificadas podem e devem ser realizadas não só nos momentos de emergência, como também de forma regular, nos períodos de ‘normalidade’.  

 

“A organização do diálogo deliberativo foi uma experiência especialmente rica e gratificante. Reunir diferentes atores-chave da sociedade, permitindo que as evidências de pesquisa fossem consideradas juntamente com as visões, experiências e conhecimento tácito dessas pessoas, que estão envolvidas ou são afetadas pela questão, foi algo muito marcante na minha trajetória de pesquisa”, avalia Débora. “Construir evidências para políticas públicas com participação ativa da sociedade, em um exercício de fortalecimento da democracia participativa, foi um aprendizado extremamente valioso”, completa a jovem pesquisadora, que está agora trabalhando na divulgação dos resultados obtidos.

 

Um infográfico sobre a síntese de evidências e a relatoria do diálogo deliberativo estão disponíveis no Arca, o repositório institucional da Fiocruz.

 

Débora também já iniciou outro projeto, intitulado “Papel da produção familiar agroecológica feminina na promoção da saúde alimentar e nutricional em comunidades rurais”. “A escolha do novo tema se deu pela recente retomada de um ambiente político institucional e popular favorável à criação de políticas públicas de combate à insegurança alimentar e nutricional, que consolida a necessidade de organização das evidências científicas da área”, defende a estudante de iniciação científica. 

 

O resultado do Prêmio será divulgado pelo CNPq até 30 de junho de 2023.