Acolhimento Discente destaca Saúde Mental, Amorosidade e Solidariedade

Fernanda Marques 17 de agosto de 2021


Estamos vivendo um momento difícil, mas ele vai passar. E outros momentos difíceis virão. Por isso, precisamos nos preparar para lidar com eles – com conhecimento, aceitação, respeito e cuidado com nossa saúde mental, compreendida de forma ampla e integral. Se a dor é inevitável – porque não existe vida sem problemas –, a relação negativa e prolongada à dor pode ser enfrentada se conseguimos dimensionar o real tamanho dos problemas e construir novos e melhores caminhos. A reflexão foi feita pelo professor Fauzi Nelson Paranhos Lopes Mansur, coordenador de Desenvolvimento de Pessoas e Qualidade de Vida do Instituto Federal de Brasília (IFB), que participou do Acolhimento Discente deste 2º semestre da Escola de Governo Fiocruz (EGF) – Brasília.

 

Realizada de maneira virtual na manhã desta segunda-feira (16/8), a atividade teve como tema “Saúde Mental, Amorosidade e Solidariedade no Contexto da Pandemia”, dialogando com o Ciclo de Inspirações para o Futuro – série de atividades que marcam as comemorações dos 45 anos da Fiocruz Brasília.

 

Para colocar sua reflexão em prática, Fauzi propôs a regra dos 10/90 – 10% do tempo remoendo os problemas, contra 90% do tempo construindo alternativas e soluções. O professor lembrou, ainda, que a felicidade não é algo dado, porém construído. “Felicidade é uma produção que conduz ao bem-estar, um caminho que produzimos com lucidez. Nós precisamos ser os produtores da saída da dor e da não-permanência no sofrimento”, disse o palestrante, citando autores como Viktor Frankl e Carl Jung.

 

“Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.” Viktor Frankl

 

“Eu não sou o que me aconteceu; eu sou o que eu escolho me tornar.” Carl Jung

 

 

Para manter-se de pé em momentos difíceis, como na pandemia, é fundamental “sentir-se parte de um projeto, de um grupo, manter vínculos e afetos, exercer a solidariedade, colocar-se a serviço do outro, sair da condição de vítima e passar à agenda de transformação”, afirmou a professora Larissa Polejack Brambatti, diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária da Universidade de Brasília (UnB). A nossa presença afetiva e disponibilidade pode fazer a diferença na vida do outro, “inclusive na vida acadêmica e no processo ensino-aprendizagem”, destacou a palestrante, saudando os estudantes da EGF – Brasília, “que vêm para fortalecer o SUS e renovar nossas esperanças em relações mais horizontais”.

 

Ritmos excessivamente acelerados, medicalização da vida, violências, sofrimento psíquico, fraca rede de apoio, uso abusivo de álcool e outras drogas: essas questões já estavam presentes antes da Covid-19, mas a pandemia colocou uma lente de aumento sobre elas. “Existe hoje o fenômeno da solidão comunitária, em que as pessoas podem contar milhares de seguidores nas mídias sociais, mas não tem quem lhes dê um suporte quando precisam”, exemplificou Larissa, defendendo a promoção da saúde como um paradigma, que leva em conta os determinantes sociais da saúde e a articulação de saberes técnicos e populares, num sentido coletivo. A professora comentou, então, o movimento das Universidades Promotoras da Saúde, que assumem esse paradigma em suas práticas intra e extramuros, “com o objetivo comum de transformar a realidade que nos assola”, destacou.

 

Com inspiração em Paulo Freire e no princípio da amorosidade, a UnB tem realizado ações como as cartas solidárias – escritas pela comunidade universitária para os profissionais da linha de frente contra a Covid-19 –; confecção e distribuição de máscaras; arrecadação de computadores e tablets para alunos e famílias em situação de vulnerabilidade; terapia comunitária online; e técnicas de manejo do estresse. “Precisamos rever nossas normas e práticas pedagógicas, e continuar fortalecendo as práticas colaborativas e as redes de solidariedade, conjugando o verbo esperançar, que significa não esperar, não desistir”, concluiu.

 

Fortalecer as esperanças e energias diante dos desafios é um dos objetivos do Acolhimento Discente, que, mesmo ainda de modo inteiramente virtual, busca manter os vínculos da Comunidade Escola, com base em valores estruturantes para a atuação profissional e cidadã. “A gente avança quando se projeta para fora de si e pensa no outro. Solidariedade e amorosidade estão no DNA desta Escola e desta Unidade, como espaços de cuidado com o outro e também autocuidado, pois só assim é possível aprender e produzir conhecimentos”, ressaltou a diretora executiva da EGF – Brasília, Luciana Sepúlveda.

 

A representante discente Lauriana Vieira, da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo, reforçou que o cuidado com a saúde e a saúde mental, em especial, precisa ser “circular”: cuidar do outro e também de si. “Trago um convite à reflexão e à luta para que trabalhemos conjuntamente pela garantia do direito à saúde de todas e todos”, sintetizou a estudante, também representante do Fórum Nacional de Residentes em Saúde.

 

A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, comentou o importante papel de toda a equipe da instituição para que “a vida da Escola seja pulsante, mesmo online” e para manter “a esperança de, em breve, estarmos juntas e juntos nos jardins”. Fabiana lembrou também as comemorações dos 10 anos da EGF – Brasília e 45 anos da Fiocruz Brasília. “É o momento de celebrarmos a diversidade da Escola e seu compromisso com o enfrentamento das desigualdades sociais”, pontuou. “Se estamos aqui hoje, é porque existe uma história construída por muitos sanitaristas. Temos que olhar para o futuro honrando a história dos que nos antecederam, fazendo do presente um momento de consolidação do SUS”, completou, ao homenagear o professor Sebastião Loureiro, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), falecido no último domingo (15/8).

 

Vários docentes da EGF – Brasília participaram do Acolhimento, como Roberta de Freitas, coordenadora do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde, e Wagner Vasconcellos, coordenador da Especialização em Comunicação em Saúde. A atividade contou com a mediação de Jaqueline Tavares de Assis, do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad) da Fiocruz Brasília, que recheou o evento com reflexões e músicas, como “Amor Cinza”, de Mateus Aleluia, e “Maior”, de Dani Black e Milton Nascimento. A atividade contou também com apresentação cultural do ator e mímico Abder Paz. “O espetáculo da vida tem que continuar!”, sintetizou ele no final de sua intervenção artística.