Saiba mais sobre as palestras do seminário de transformação digital em saúde

Fiocruz Brasília 30 de outubro de 2021


Heloisa Caixeta

 

“A transformação digital é inevitável”: este foi o tema da palestra de abertura do seminário Transformação Digital em Saúde – Desafios para os Princípios e Diretrizes do SUS, no dia 28 de outubro, apresentada por Joselio Emar de Araujo, assessor da Coordenação Geral de Inovação em Sistemas Digitais do Datasus. O especialista comentou as estratégias do Governo Federal para a saúde digital no país. “Para além de inevitável, a transformação digital é aconselhável, recomendada, necessária e já é uma realidade”, afirmou Araujo.

 

O palestrante falou sobre a Estratégia Digital para o Brasil 2020-2028 e sobre o ConecteSUS, programa que potencializa a troca de informações de saúde entre todos os pontos da rede de atenção, permitindo a transição e a continuidade do cuidado. Também foi apresentada a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que conecta atores e dados em saúde de todo o país, com base no conceito de Plataforma Nacional de Inovação, Informação e Serviços Digitais em Saúde. 

 

Na palestra seguinte, Ricardo Ferreira de Godoi, coordenador geral de Planejamento da Fiocruz, abordou o tema “A Fiocruz do futuro – a ciência digital para a promoção da vida”. Godoi falou sobre aspectos da transformação digital na pesquisa, no desenvolvimento tecnológico e na inovação em saúde para a promoção da vida. “Quando falamos em transformação digital, devemos ter esta pergunta em mente: ‘O que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em saúde são capazes de entregar para a sociedade e como melhorar os resultados?’”, refletiu o palestrante.

 

Na sequência, o médico sanitarista Adriano Massuda falou sobre “A integralidade do SUS na era digital”. “Temos que olhar para os desafios e as ameaças que a era digital traz para a vida contemporânea”, afirmou. Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil tem contribuído com importantes reflexões sobre a integralidade, não só para a organização dos sistemas de saúde, mas também para as necessidades e práticas de saúde e de gestão. O palestrante destacou os avanços ao longo dos 30 anos do SUS, mas também comentou as fragilidades estruturais, além das ameaças e retrocessos que afetam a capacidade de promover a integralidade e de implementar tecnologia digitais.

 

Já na palestra “Como manter a acessibilidade e a universalidade pela telemedicina? ”, o consultor sênior da Fiocruz Luiz Lobo mostrou como algumas transformações na área da telemedicina têm impacto na ponta, ou seja, no trato com os pacientes. Lobo lembrou que, embora a automatização seja necessária para atendimentos mais rápidos, a relação humana é indispensável. Ele trouxe o exemplo da foto de uma lesão de pele, que pode ser analisada por uma máquina e classificada como uma hemorragia subcutânea. “O reconhecimento de padrões pode dizer o que é, mas caberá sempre ao médico discutir e orientar o paciente”, disse.

 

O uso de dados em saúde é para o benefício do paciente. Os centros de prontuários médicos existem há décadas. E a digitalização do mundo gerou uma capacidade imensa de reservar estes dados e recuperá-los com facilidade. Foi o que explicou Mauricio Barreto, pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), durante a palestra “O uso de big data para maior precisão na saúde pública”. “Nós precisamos de rapidez na busca de soluções para a saúde da população, temos que resolver problemas com efetividade. O surgimento do mundo digital abriu novas possibilidades de pensar transformações. Isso tem pontos positivos e, evidentemente, grandes desafios”, avaliou.

 

O segundo dia do seminário, 29 de outubro, contou com mais cinco palestras. “Desafios éticos e legais no uso das tecnologias digitais em saúde” foi o tema abordado pelo professor Natan Monsores, da Universidade de Brasília (UnB). “Recentemente, acompanhamos uma série de questões éticas, deslizes e complicações que tivemos dentro do panorama de desenvolvimento de estratégias contra a Covid-19”, afirmou. Existe hoje um grande volume de dados sobre muitas coisas sendo produzidos simultaneamente, inclusive em saúde. De acordo com Monsores, não vai demorar para que boa parte das tecnologias ‘dialoguem’ entre si. “Um exemplo são os celulares e smartwatches que coletam dados de saúde dos usuários. Isso gera um grande volume de dados que, hoje, são analisados pela empresa que os produziu. Em um futuro próximo, eles poderiam ser compartilhados com o setor público, para a tomada de decisão baseada nessas informações”, avaliou.

 

Contudo, o professor fez um alerta ético sobre a convergência de tecnologias e a tendência de estruturar grandes sistemas de coleta de informação. Para lidar com esses dados, é necessário um sistema de governança compartilhada entre empresas privadas e governos, e legislação. Apenas assim seria possível avançar de forma ética e adequada nessa negociação. Monsores comentou também o fato de que o SUS, muitas vezes, se baseia em dados passados. “O nosso sistema de internação hospitalar tem sempre um delay na informação, e as grandes corporações têm o registro em tempo real da vida das pessoas. Esse é o outro ponto ético importante. Dentro da gestão do SUS, para a saúde digital, vamos precisar confrontar essas duas perspectivas”, afirmou.

 

Na sequência, Gilmar dos Santos Marques, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) falou sobre “A indução de inovações digitais para o SUS pelo fomento do estado”. O palestrante falou sobre previsões para a gestão de demandas. Segundo Marques, o mundo sabia que uma pandemia era inevitável, mas ninguém sabia como e quando ela iria acontecer. “Se nós tivéssemos informação instantânea para trabalhar com gestão de demandas na área de saúde, muito provavelmente haveria uma estrutura para ajudar no enfrentamento da pandemia”, disse. “As máscaras, por exemplo, foram o nosso primeiro gargalo. Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores mundiais de celulose, matéria-prima utilizada nas máscaras, nós não temos tecnologia para produzi-las”, exemplificou.

 

Na sequência, o professor Carlos Alberto Gurgel, do Parque Científico e Tecnológico (PCTec) da UnB, falou o setor saúde como promotor de inovação. Ele apresentou as áreas que mais têm atraído a atenção das startups em saúde no mundo: inteligência artificial, telemedicina e tecnologia imersiva. Ele comentou o caso da Biontech, empresa responsável por uma das vacinas contra a Covid-19 disponíveis no mundo. “A Biontech, por ser uma startup, não tinha condições de desenvolver o produto, tampouco o negócio. Por outro lado, a Pfizer não tinha o domínio da tecnologia, nem patente na área. Então, ela fez parceria com a Biontech, colocou recursos na pesquisa e no desenvolvimento tecnológico e do produto”, contou. Gurgel também apresentou a estrutura do PCTec/UnB e como ele pode auxiliar na área de inovação em saúde no Distrito Federal.

 

A seguir, Carlos Venicius Frees, vice-presidente executivo da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas (RBCIH), trouxe o tema das conexões vivas e dos territórios inteligentes e centrados nos indivíduos. “Quando falamos de territórios e cidades inteligentes, tudo depende de um projeto muito bem estruturado. Depende de conhecimento, adoção de estratégias, algo que tenha começo, meio e fim, considerando os recursos disponíveis para desenvolver as ações”, afirmou. Segundo o palestrante, as decisões hoje não são propriamente de um gestor: há milhares de pessoas tomando decisões e, a partir delas, vem um posicionamento de fato. Dessa forma, os indivíduos têm um papel crucial.

 

Um dos exemplos apresentados foi o aplicativo ConecteSUS do Ministério da Saúde. A plataforma concentra informações na mão do usuário, como exames, vacinas, dispensação de medicamentos e localização de estabelecimentos de saúde. “Se o meu prontuário de saúde aparece no aplicativo, não é necessário repetir a mesma informação cada vez que eu for fazer uma consulta em um médico diferente, em uma estrutura diferente”, comentou.

 

Por fim, Odorico Monteiro, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Fiocruz, palestrou sobre como a Covid-19 acelerou a transformação digital na saúde. “A pandemia gerou um cenário de crise sanitária, mas nós ainda enfrentamos crise econômica, política e institucional”, disse. Contudo, houve também avanço: pela primeira vez a humanidade conseguiu desenvolver e produzir uma nova vacina em praticamente um ano. Além disso, hoje a prática da telemedicina é uma realidade.

 

Leia mais

Seminário debate os desafios do uso de tecnologias digitais em saúde

Hackatona: Fiocruz lança chamada pública para selecionar projetos com foco em saúde digital e enfrentamento da Covid-19 e suas consequências