Projeto apoiado pela Fiocruz Brasília concorre ao Prêmio APS Forte no Combate à Pandemia da OPAS/OMS

Nathállia Gameiro 3 de agosto de 2020


Nathállia Gameiro

 

A pandemia alterou a rotina de mães, pais, professores, trabalhadores de diversas áreas e especialmente de profissionais da saúde. “As mudanças e o impacto da covid-19 têm exigido muito que trabalhadores da atenção primária se reorganizem para atenderem a uma epidemia sem precedentes. Vemos muitos exemplos da versatilidade da APS na resposta a emergências”, afirmou a coordenadora de Capacidades Humanas e Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS Brasil, Mônica Padilla.

 

Algumas dessas experiências foram apresentadas durante o debate sobre a Reorganização da rede de Atenção Primária para enfrentamento da Covid-19, realizado na última quinta-feira, 30 de julho. Como a Estratégia de Apoio Psicológico online para trabalhadores da saúde do município de Goiás Velho/GO, que conta com a supervisão da Fiocruz Brasília. O município é uma cidade histórica e foi a primeira capital do estado, abrigando hoje uma população de 23 mil habitantes.

 

A experiência está concorrendo ao Prêmio APS Forte no Combate à Pandemia, promovida pela Organização Pan-Americana da Saúde e pelo Ministério da Saúde.

 

O psicólogo sanitarista e pesquisador do Núcleo de Pesquisa Pop Rua da Fiocruz Brasília Marcelo Pedra, falou sobre a iniciativa durante live. A proposta do projeto é oferecer atendimentos psicológicos a 350 profissionais de saúde. “O fato de os trabalhadores saberem a quem recorrer, já produz uma estabilidade emocional”, comentou Pedra.

 

Os atendimentos psicológicos aos trabalhadores da saúde estão sendo realizados duas vezes por semana, por telefone ou vídeochamada, com psicólogos e estagiários da área. “É um apoio psicológico que tem por objetivo a estabilidade emocional e reduzir o estresse agudo”, afirmou. Pedra destacou que esse tipo de tecnologia ajuda o monitoramento de famílias com casos de covid, e a APS como um todo, não apenas para a saúde mental.

 

Outra estratégia utilizada foi a produção de materiais informativos como flyers, vídeos e áudios para orientar a população sobre biossegurança, saúde mental, estigma, preconceito, discriminação e comunicação para fortalecer o laço do idoso com a família durante a pandemia, além do contato com rádios comunitárias, espaços culturais, Fóruns de Gestão de Políticas Públicas, órgãos públicos de diferentes setores, instituições religiosas, associações de moradores, sindicatos e cooperativas para a divulgação das informações.

 

De acordo com Marcelo, o projeto tem fortalecido o laço comunitário mobilizando instituições da sociedade civil com foco em questões de biossegurança e informações sobre onde encontrar apoio nas ofertas de serviços da rede.

 

Com a iniciativa, a equipe da atenção primária (equipes de Saúde da Família, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Serviço de Atendimento Domiciliar e do Centro de Atenção Psicossocial) foi qualificada, passando por capacitação que simulou as reações psicológicas esperadas para o momento do atendimento aos pacientes, utilizando técnicas de dramatização para convocar o profissional em formação a se posicionar, além de problematização com informações e estratégias para que a equipe possa ofertar os primeiros cuidados psicológicos e acolher situações de crise psicossocial que possam chegar no contexto da covid.

 

“Para esse atendimento foi muito importante pensar na psicoeducação e nas reações emocionais e físicas mais comuns esperadas durante a pandemia, como ansiedade, depressão, medo e estresse agudo, além demde os recursos pessoais e comunitários para lidar com o problema”, explicou o pesquisador.

 

Para Marcelo, a iniciativa auxiliou no fortalecimento e na promoção do auto cuidado.  Ajudou ainda a quebrar o tabu com relação aos atendimentos psicológicos, muitas vezes ligado à loucura ou casos graves de doença. “Ampliou a oferta de saúde mental na Atenção Primária. Agora fica uma questão: qual é a intensidade de sofrimento psíquico possível de ser acolhida, acompanhada e tratada na APS?”, indagou.

 

A equipe da Fiocruz Brasília foi procurada para integrar o projeto depois da oferta de apoio psicológico por telefone à população do Distrito Federal, do lançamento de 20 cartilhas sobre temas relacionados ao novo coronavírus e da realização do Curso Nacional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial na pandemia de covid-19, com 70 mil inscritos.

 

Além dessa experiência, foram apresentadas a reorganização das equipes de Consultórios na Rua de Maceió (AL) para o atendimento e cuidado de em situação de rua e das equipes de assistência odontológica do SUS de Araçatuba (SP) para enfrentar as dificuldades que surgiram com a pandemia. Para conhecer as iniciativas, assista à íntegra do debate.