Panorama da fome no Brasil é apresentado durante seminário

Fiocruz Brasília 30 de novembro de 2016


O Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares lançou site que reúne textos sobre nutrição, alimentação, saúde, cultura e saberes populares. A página traz também informações sobre pesquisas, projetos e as atividades desenvolvidas. O tema tratado nas matérias este mês é a Geografia da Fome, obra de Josué de Castro, o mesmo abordado durante seminário em comemoração aos 70 anos do livro.

O evento, realizado na última terça-feira (29 de novembro) na Fiocruz Brasília, reuniu pesquisadores, nutricionistas e profissionais da área da saúde, que ressaltaram a importância das políticas públicas de alimentação e nutrição no Brasil e a contemporaneidade do tema.

A coordenadora de Estudos de Responsabilidade Social do IPEA, Anna Peliano traçou a trajetória da nutrição no país do início dos anos 40 até os dias de hoje, destacando os estudos na área, a associação entre condições de vida e condições de alimentação, a mobilização popular e a garantia constitucional do direito à alimentação.

Em 1946, Josué de Castro realizou o estudo que define o conceito da fome, tratando como fenômeno social e dividindo o país em cinco regiões alimentares: área Amazônica, área do Nordeste Açucareiro, área do Sertão Nordestino e as Áreas de Subnutrição: Centro e  Sul. O autor considera área de fome aquelas que pelo menos metade da população apresenta carências nutricionais, sejam permanentes (áreas de fomes endêmicas), ou transitórias (áreas de epidemia de fome), que prejudicam o desenvolvimento social e econômico da população.  

De acordo com Anna Peliano, Josué colocou a fome na agenda do Brasil ao perceber que era um problema coletivo, definindo um plano econômico de alimentação. Ela destacou que o problema ainda é atual, já que o número de pessoas extremamente pobres é alto. “Não existe nenhuma panaceia que pode curar o enfrentamento de problemas estruturais. O tema é relevante hoje, pois o país ainda enfrenta grandes desigualdades. Não há motivos para acomodação, avançamos muito, mas ainda temos o que progredir”, ressaltou.

O diretor do Centro de Excelência Contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas, Daniel Balaban, afirmou que todos deveriam ler o livro de Josué de Castro para se instruir e não repetir erros do passado. “Não precisamos passar por temas que já passamos e superamos”, disse. Para ele, o problema da fome é uma questão política que depende do interesse dos governantes para ser superado. Balaban explicou que o Brasil reconheceu o problema e hoje fornece conhecimento para que outros países passem a criar suas próprias políticas nacionais, sem depender de organismos internos. Destacou programas brasileiros como o Fome Zero.

A assessora da Fiocruz Brasília Tereza Campelo concorda com Balaban. Para ela, o desafio é a má distribuição de alimento e a má decisão política. Destacou a importância de um observatório na área de segurança alimentar e nutricional para acompanhar os avanços no enfrentamento ao problema da fome e espera que sirva como exemplo para outros países. “A fome não é natural e não vai ser naturalmente que vamos alterar esse padrão de subalimentação. É com ação política”, opina.

Campelo apresentou os programas federais que existem no país com o objetivo de aumentas condições de bem-estar da população e que impactam a alimentação e nutrição. A partir de 2003, houve diminuição de 46% da mortalidade por diarreia e a redução de 51% de doenças crônicas. “Essas políticas são conquistas da população brasileira. São ganhos extremamente importantes e servem para que vários países do mundo combatam a pobreza e a desigualdade em suas regiões. Temos que nos orgulhar disso”, ressaltou. Tereza afirmou ainda que o direito a uma alimentação de qualidade é um desafio e não pode ter retrocessos.

O vídeo do debate será disponibilizado no site do OBHA.

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