Formação dos profissionais do SUS é tema de debate

Fiocruz Brasília 26 de novembro de 2015


Mesas de debates reúnem pesquisadores, docentes e estudantes durante o PesquisaSUS

Uma escola plural, engajada e comprometida com mudanças, que interage com o SUS nas suas diferentes políticas e que faz do trabalho um lugar de problematização e aprendizagem. Estas devem ser algumas das orientações que pautam escolas que preparam pessoas para atuar no SUS.  A observação foi feita por Tânia Celeste, assessora da Vice- Presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, no I PesquisaSUS – Encontro Científico de Pesquisas Aplicadas às Políticas Públicas em Saúde.

A pesquisadora participou da mesa redonda “Diálogo entre ciência, formação, inovação e sociedade” que reuniu Armando Raggio, diretor executivo da Fepecs – Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do DF, Debora Dupas, pesquisadora da Fiocruz Mato Grosso do Sul e a coordenadora da Escola Fiocruz de Governo, Fabiana Damásio. A importância do aprendizado estar pari passu com o serviço foi destacada por todos.

Raggio disse que no Brasil prevalece a cultura do oficialato – formar médicos esquecendo da importância da enfermagem, da odontologia, dos técnicos de laboratório, radiologia enfermagem e outros. Para ele, é fundamental admitir que professores – de faculdades ou de escolas técnicas – possam ser recrutados entre os que têm a prática do serviço. Observou que a Faculdade Federal do Sul da Bahia está sendo construída com uma visão inovadora, pois o ingresso é na área da saúde e posteriormente opta-se por um curso específico.  Debora Dupas relatou o processo de construção dos cursos da unidade, suas parcerias e objetivos futuros.

Implementação de Políticas Públicas
A segunda mesa, com o tema “Acompanhando a implementação de Políticas Públicas em Saúde”, contou com a presença de Jorge Barreto, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz e colaborador da Rede de Políticas Informadas por Evidência – EVIPNet Brasil; Nathan Mendes 

Souza, professor da Escola de Medicina da UFOP e Unifenas/MG; e Evelina Chapman, facilitadora da EVIPNet América e consultora nacional da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Evelina falou sobre a experiência do Programa Mais Médicos, do monitoramento e avaliação do desempenho dos médicos cubanos e suas condições de trabalho.

Nathan fez um resgate histórico da saúde baseada em evidências, passando pela tradução do conhecimento e pelas políticas formadas em evidências. De acordo com o professor, o objetivo da saúde baseada em evidências é a integração de conhecimentos e pesquisas para oferecer a melhor informação disponível para a tomada de decisão nesse campo e que a prática profissional esteja baseada na solidez das evidências.

“Este tema é central para todos os desafios da nossa sociedade. Hoje temos leis bem elaboradas e quando implementadas em contextos heterogêneos, percebemos contextos e desfechos diferenciados. Precisamos entender o contexto da implementação, campo que está emergindo muito fortemente”, afirmou.

Um dos grandes desafios enfrentados é que a pesquisa compete com outros fatores, sofrendo a influência de grupos de interesse e de pressão de valores sociais e sobre o que a população pensa sobre determinados assuntos. Outra barreira é que a pesquisa não é valorizada. “Tem barreiras individuais (das pessoas e pacientes), dos profissionais de saúde, do ponto de vista organizacional e do sistema de saúde. São múltiplos níveis de barreiras que a estratégia de implementação tem que enfrentar para que tenha o resultado desejado

Nathan reforça que o intercâmbio entre todos os atores envolvidos é importante para que a produção do conhecimento esteja alinhada ao modo da formulação e implementação das políticas. A interação pode ser de forma dissociada entre quem produz e quem usa, pode ter um encontro ou as pessoas se conhecem e trocam ideias, encomenda pesquisas e analisa resultados.

O professor ressalta ainda a necessidade de monitorar e avaliar os impactos de estratégias de políticas, programas e serviços, para ter comparações, objetivos, o cálculo de magnitude, a diversidade de impactos, estimativas precisas dos efeitos e fatores de conclusão. O monitoramento é a coleta sistemática, de tempos em tempos, de dados para avaliar produtos intermediários.

Para ele, até mesmo o que funciona precisa ser monitorado para detectar e avaliar a efetividade, eficiência, implementação, orientar se está na direção correta ou não, adaptar o rumo da direção de um determinado programa, corrigir erros, por questão de transparência e determinar o valor do processo entregue. Logo após o debate, o livro Psicologia e Políticas Públicas na Saúde: experiências, reflexões, interfaces e desafios, de Larissa Polejack, foi lançado na Fiocruz Brasília.