Covid-19: “Acesso à informação atualizada é essencial para a tomada de decisões”

Fernanda Marques 13 de março de 2020


Fernanda Marques

 

Pense no seu dia a dia. Mesmo sem perceber, você passa a mão no rosto muitas vezes. Também encosta em superfícies como uma fechadura ou um corrimão, por exemplo. E cumprimenta pessoas com apertos de mãos, beijos ou abraços. Situações em que pode ocorrer a transmissão de agentes causadores de doenças, como o novo coronavírus. Evitar alguns comportamentos e tomar outras medidas de prevenção – como a correta e frequente higienização das mãos – é fundamental neste momento. Na tarde desta quinta-feira (12/3), trabalhadores da Fiocruz Brasília receberam esclarecimentos sobre a Covid-19 em diálogo com a diretora da unidade, Fabiana Damásio, e com o epidemiologista Cláudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS).

 

“A informação muda a cada dia e o acesso à informação atualizada é essencial para a tomada de decisões em questões práticas”, resumiu Fabiana. “Estamos acompanhando a situação desde o final de 2019, atentos a todas as ações internacionais e nacionais. Seguimos nossa agenda de trabalho com serenidade e transparência”, disse a diretora. A Fiocruz Brasília, por meio da Direção, do NEVS e de outras áreas, tem um grupo de condução sobre a temática, responsável não só pelo Plano de Contingência da unidade, como também trabalhando em rede com toda a Fiocruz e em estreita colaboração com o Ministério da Saúde, de modo a contribuir para o enfrentamento da situação no país.

 

De olho na prevenção

A transmissão da Covid-19 acontece, principalmente, por meio de gotículas de saliva, liberadas quando uma pessoa doente fala, tosse ou espirra. Essas gotículas podem ficar flutuando no ar por um tempo e depois se depositar sobre superfícies. Por isso, ao tossir ou espirrar, deve-se cobrir o rosto com um lenço de papel (descartado corretamente depois) ou com a parte interna do braço (porque é uma parte do corpo menos exposta ao contato físico, diferente das mãos). De modo geral, deve-se evitar o contato muito próximo com outras pessoas – mantendo-se uma distância de, pelo menos, um metro, sobretudo se elas apresentarem sintomas respiratórios.

 

São recomendações que valem para a prevenção do novo coronavírus e de vários outros vírus respiratórios transmitidos da mesma forma. “Vírus diferentes causam doenças parecidas, similares à gripe ‘comum’, com sintomas respiratórios não específicos, como tosse, dor de garganta, nariz escorrendo”, explicou Cláudio. Dentro da própria família dos coronavírus, já circulam coronavírus “comuns” e, eventualmente, acontece alguma mutação genética que gera um vírus “diferenciado”, provocando uma nova doença. Isso aconteceu, por exemplo, há cerca de 15 anos, na China; por volta de 2010, no Oriente Médio; e agora, no final de 2019, novamente na China, onde o novo coronavírus se espalhou de forma rápida e, hoje, diversos países apresentam a Covid-19, tendo sido declarada pandemia pela OMS.

 

A disseminação da doença

“Uma das principais razões das diferenças entre os países em relação a números de casos e mortes é a capacidade dos sistemas de saúde de enfrentar a situação”, disse Cláudio. No Brasil, pessoas retornando de viagens internacionais com sintomas foram identificadas, fizeram o teste e algumas foram diagnosticadas com Covid-19. “Mas um número maior pode ter chegado sem sintomas e transmitido a outras pessoas. Primeiro, a situação é restrita a quem chega de fora, mas depois isso muda e a doença se dissemina. Então, o foco é diminuir o risco de transmissão”, destacou. “No momento, informação e prevenção são fundamentais. Evitar aglomerações, suspender o que não for essencial, mas sem medidas drásticas”, acrescentou.

 

A letalidade da Covid-19 parece ser menor, se comparada às doenças causadas por outros coronavírus que já apareceram. Não há motivo para pânico, mas é preciso estar atento. “Estamos saindo do verão, vamos entrar em um período mais frio, em que a transmissão fica mais fácil e também aumentam outras doenças respiratórias, o que pode confundir os diagnósticos”, comentou Cláudio. “Mas o tratamento não muda. Não existe medicamento específico contra o novo coronavírus. Assim como não existe uma vacina. Existem grupos pesquisando, mas não teremos uma vacina agora, talvez nem no ano que vem. Porque o processo demora: após o desenvolvimento, são necessários vários testes”, acrescentou.

 

Saúde coletiva

De modo geral, tomar bastante líquido ajuda o sistema imunológico e, ao apresentar sintomas respiratórios, é recomendado fazer a lavagem frequente do nariz com soro fisiológico. “Aliás, se você estiver com sintomas, não vá trabalhar. O trabalhador que se ausenta nesses casos não é ‘preguiçoso’. Ele está, na verdade, protegendo os colegas. E também não vá a festas, a shows. Esse resguardo quando você está doente é uma medida de saúde pública a ser tomada sempre, em tempos de coronavírus ou não”, afirmou Cláudio. Se estiver doente e realmente precisar sair, o uso de máscara é recomendado. “Mas todo mundo usar máscara não faz sentido! Até porque o uso desnecessário pode fazer com que máscaras e outros itens faltem para quem realmente precisa, inclusive para os profissionais de saúde que cuidam dos pacientes”, alertou.

 

Cláudio também lembrou que os serviços de saúde ficam sobrecarregados devido não só à Covid-19, mas também a outras doenças, como a dengue. “Você deve procurar o posto de saúde quando, de fato, for necessário. Fique atento e busque atendimento se você estiver com sintomas respiratórios, muito cansaço, falta de ar, tontura. A ida desnecessária ao posto não só prejudica quem realmente precisa, como pode colocar a sua saúde em risco: são ambientes cheios, onde também pode ocorrer transmissão de doenças”, advertiu. Idosos e pessoas com alguma fragilidade – como aquelas com doenças crônicas – devem ser as mais protegidas da exposição ao vírus. A Covid-19 não tem se mostrado grave em crianças.

 

Fotos: Nayane Taniguchi