Ascom/Ministério da Saúde
A criação de um grupo de trabalho (GT) reunindo integrantes do Ministério da Saúde (MS) e representantes de movimentos sociais e comunicadores que atuam nos territórios, nas chamadas mídias não hegemônicas, foi um dos encaminhamentos da Oficina Nacional de Comunicação para o Fortalecimento da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNPSIPN). O evento foi realizado pela Assessoria Especial para Promoção da Equidade Racial em Saúde do Ministério e a Fiocruz, nos dias 22 e 23 de janeiro, em Brasília. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, foi uma das convidadas da mesa de abertura, juntamente com Luis Eduardo Batista, da Assessoria Especial de Promoção da Equidade Racial em Saúde do Ministério da Saúde.
A atividade buscou mobilizar comunicadores e comunicadoras da sociedade civil para apoiar o enfrentamento do racismo na saúde e a promoção da equidade racial e, ainda, fazer um levantamento de sugestões e demandas para a formulação de um plano operativo de comunicação em torno da PNPSIPN.
A abertura do evento contou com as presenças do assessor para Equidade Racial em Saúde, Luís Eduardo Batista e da assessora especial de Comunicação, Myrian Pereira, ambos do Ministério e da chefe da Assessoria de Comunicação do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Juliana Romão, com mediação do pesquisador da Fiocruz Brasília, Andrey Lemos.
Representantes de 27 organizações de todas as regiões do Brasil participaram da programação que incluiu paineis com especialistas em comunicação e em políticas públicas, debates e oficinas de trabalho. A iniciativa foi festejada pela jornalista Nara Lacerda, de São Paulo, pela possibilidade de colocar frente a frente comunicadores e o Governo Federal.
“Posso dizer que a gente estava esperando ansiosamente esse chamado. A oficina possibilitou que os participantes sugerissem como intensificar o trabalho de informar e de comunicar o Sistema Único de Saúde (SUS) para a nossa população, se constituindo no início de uma ponte”, disse.
De jovens repórteres que atuam em favelas de João Pessoa/PB ao presidente de uma associação que reúne mais de 800 rádios comunitárias, os participantes compartilharam as dificuldades de colaborar para aproximar a população, em uma perspectiva étnico-racial, dos serviços prestados pelo SUS.
“A comunicação tem que estar onde a pessoa estiver. No mercado, na igreja, na rodoviária”, enfatiza Matheus de Souza Magalhães, da Bem TV, experiência de mais de três décadas de comunicação popular, de Niterói/RJ.
Apesar dos desafios, os comunicadores também partilharam sobre o potencial de cada um em transformar informações mais complexas em mensagens simples e diretas com a garantia de que cheguem às pessoas usuárias do sistema, por meio de canais tão variados quanto cartazes espalhados pelas ruas e mensagens via Redes Sociais.
Para a integrante do movimento Hip Hop e apresentadora do programa Conexão Periferia, no YouTube, Alyne Sakura, uma caixa de som circulando em uma bicicleta pode ser a forma mais efetiva de se comunicar nas quebradas. “A fofoca é o melhor meio de comunicação”, brincou, para reforçar que o tom de conversa e intimidade, com termos e gírias conhecidos localmente é uma boa receita para fazer circular uma informação nos territórios, levando em consideração o compromisso com os fatos reais, checados e baseados na ciência.
Contribuição
Foram muitas as sugestões para contribuir com o bem-viver da população negra e com o enfrentamento ao racismo, tendo como meta fortalecer a PNPSIPN. Os participantes citaram iniciativas que envolvem trabalhadores em saúde e até mudanças nos canais de comunicação do próprio Ministério. “É preciso traduzir os dados do Boletim Epidemiológico da Saúde da População Negra”, exemplificou Nara Lacerda. E completou: “Nós podemos ajudar o MS.
A criação de um manual de redação e estilo, a publicação de um edital para mídias negras e a sociedade civil, a formalização de um Conselho de Comunicação e Saúde, a criação de núcleos de comunicação nas gestões municipais e estaduais do SUS, formação antirracista para profissionais de saúde, criação de jogos e aplicativos, foram outras alternativas citadas.
A desburocratização de normas governamentais para garantir o acesso das mídias alternativas a investimentos de publicidade e mais proximidade com fontes e porta-vozes do ministério também foram reivindicados.
Em resposta às reinvindicações, o Ministério da Saúde e a Fiocruz se comprometeram em discutir cada uma e propor um cronograma de respostas, variando de trinta a noventa dias.
A metodologia da oficina agradou o coordenador do programa de Rádio de Comunicação e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Rogério Lannes Rocha, editor-chefe da Revista RADIS Comunicação e Saúde. “Eu gostei da postura do ministério em relação à comunicação, já que não foi a de olhar essas pessoas que vêm dos territórios, que trabalham uma comunicação contra-hegemônica, crítica, como se fossem apenas instrumentos de propagar informação. Foi muito respeitoso esse acolhimento no sentido de quem vai construir alguma coisa que, de fato, fortaleça a política pública.
Brasil Saudável
O diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Draurio Barreira, do Ministério da Saúde, apresentou o programa Brasil Saudável, instituído pelo Decreto nº 11.908, de 6 de fevereiro de 2024. Ele solicitou a parceria dos comunicadores para ajudar a erradicar do Brasil algumas das doenças determinadas socialmente, que afetam mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social. que ainda persistem no país, como hanseníase e tuberculose. “Temos onze delas”, alertou.
O programa se alinha às diretrizes e metas da Agenda 2030 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas e à iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a eliminação de doenças nas Américas.
Realização
A realização da Oficina Nacional está inserida no Projeto de Fortalecimento da Política de Saúde Integral da População Negra, que propõe o fomento às estratégias de comunicação para a promoção da equidade racial. Também está alinhada ao compromisso firmado na gestão da ministra Nísia Trindade, que reconhece o racismo como determinante da saúde e se compromete a priorizar o seu combate e a promoção da saúde da população negra. Segue ainda o que preconiza o Eixo IV – Amanhã vai ser outro dia para todas as pessoas, da Conferência Nacional Livre de Saúde da População Negra e as deliberações da 17º Conferência Nacional de Saúde.
Confira a galeria de imagens da oficina.