As vozes, formatos, meios e possibilidades de divulgação científica

Fiocruz Brasília 13 de março de 2018


As diversas possibilidades de se fazer divulgação científica nortearam o início das reflexões propostas pela I Semana de Divulgação Científica, promovida pela Fiocruz Brasília, por meio da Comissão de Divulgação Científica, na tarde desta segunda-feira (12). A roda de conversa contou com a participação do coordenador do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida da Fiocruz, Luís Amorim, e da Pesquisadora do Laboratório de Estudos da Unicamp (Labjor), Simone Pallone.

A atividade, realizada no dia anterior à abertura oficial da primeira edição da Semana, levantou questões importantes acerca dos formatos, dos meios e do uso das mídias sociais na divulgação científica, além de destacarem de que forma estes contribuem e desafiam a divulgação da ciência no Brasil. Entre outras questões, foram abordadas as oportunidades e desafios que surgem no contexto das mídias sociais e da web para a divulgação científica pelas instituições de Ensino e Pesquisa. 

A partir da apresentação de iniciativas, projetos e publicações voltadas para a divulgação científica e de pesquisas sobre a ciência nas mídias sociais, Amorim e Pallone também mencionaram formas de divulgar a ciência, e exemplificaram, a partir das atuações das instituições que representam, formas de estimular a leitura e o acesso ao conteúdo científico, por parte do público, e de buscar o diálogo com a sociedade, envolvendo-a no processo de divulgação da ciência. Também foram citados os novos espaços para divulgação da ciência (webrádio, podcasts, por exemplo), e as mídias sociais (Facebook, Youtube, Twitter, entre outros).

Repercussão
A relevância da discussão sobre os desafios da divulgação científica traduz-se pela representatividade do público presente na primeira edição da Semana. Jornalistas, cientistas, acadêmicos, educadores, representantes de instituições como CNPq, Fiocruz, Ministério da Saúde, Centro de Integração de Dados e Conhecimentos Para Saúde (Cidacs), Embrapa, entre outros, lotaram o auditório interno da Escola Fiocruz de Governo (EFG), com a presença de mais de 80 pessoas. Para os três dias de atividade, o evento conta com mais de 300 inscritos.

“Admiro muito o trabalho da Fiocruz, que tem incentivado muito a divulgação científica, também em relação à comunicação e formação de recursos humanos. Participei há alguns dias de uma atividade sobre o tema no Museu da Vida [Fiocruz-RJ] e agora deste evento realizado pela Fiocruz Brasília”, ressaltou Pallone.

O coordenador da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília (Ascom), Wagner Vasconcelos, mediador da roda de conversa, ressaltou a importância da atuação da Comissão de Divulgação Científica da instituição: “a partir da atuação da Comissão, em 2015, já foi possível identificar lacunas que temos no campo da divulgação científica, inclusive no âmbito interno. A realização dessa primeira edição da Semana de Divulgação Científica é resultado das atividades desempenhadas ao longo desse período por esta Comissão”.

“A divulgação é a chave para a divulgação científica”
“Divulgação é o ponto chave. A divulgação da divulgação científica. Se não divulgarmos uma nova edição, um novo episódio do nosso programa de webrádio, ele não é visto e acessado. Não adianta só fazer a divulgação científica, sem estar associada à divulgação nas redes sociais, redes de contato, nos veículos institucionais, por exemplo”, destacou Simone Pallone.

Para a pesquisadora, a distância entre os criadores do conhecimento e a opinião pública é reduzida pela própria divulgação científica. “Esse é o meio de reduzir esse espaço existente, seja pelo jornalismo científico, pelo teatro, cinema, literatura, exposições em museus, trazendo o que se faz em Ciência nas instituições para o público em geral”, afirma.

Simone apresentou algumas atuações do Labjor em divulgação científica desenvolvidas pelo Laboratório, e destacou, entre elas, a formação de divulgadores científicos no país. Em quase 10 anos de atuação, mais de 300 profissionais, entre jornalistas e cientistas, já foram formados. Outra iniciativa é a realização de eventos, palestras e apresentação de trabalhos.

Ao apresentar as experiências do Labjor, como a Revista eletrônica Comciência, Simone ressaltou algumas de suas características, e vantagens dos formatos adotados, como facilidade de produção, formato e o baixo custo, além de boa avaliação pela Capes e as várias formas de acesso. A pesquisadora ressaltou, ainda, as estratégias de divulgação, como importante ferramenta para a divulgação científica. “Lançamos boletim para divulgar as novas edições, e divulgamos a revista nas redes sociais, onde conseguimos muitos acessos via Facebook e Twitter”, exemplificou. Outra iniciativa é o programa de webrádio e podcast Oxigênio, na qual a pesquisadora destacou o formato dos programas, que unem jornalismo e entretenimento. “Buscamos fazer avaliações periódicas, e, como temos possibilidade de mudar, considero interessante mudar o formato de acordo com o que as pessoas querem fazer. Não devemos ser estanques”, diz. 

“O meio que encontramos para divulgar a ciência foi pelo jornalismo, o jornalismo científico, como deve ser. Buscando sempre ouvir o outro lado, ou várias fontes, investigar, e não ser só porta voz do cientista e da ciência. Abordamos controvérsias científica e estimulamos o debate”, complementa. “É um desafio para quem trabalha com a divulgação tentar mostrar para o público geral o que a ciência tem a ver com o seu cotidiano”, acrescentou a pesquisadora do Labjor (Unicamp), visto que em todo o cotidiano vivido pela sociedade há um trabalho científico por traz.

Fazer mais uso de linguagens, formatos e recursos diferentes. Ampliar o acesso dos conteúdos de divulgação científica aos mais diversos públicos da sociedade. “Nossa  revista científica online não está disponível a todos, porque nem todos tem acesso à internet. Já a nossa webrádio, acredito que alcança mais a sociedade que outros veículos. Temos que desenvolver mais produtos que alcancem outros rincões”, complementa Simone, ao refletir sobre como fortalecer a divulgação da ciência no país.

Teoria, prática e diálogo: “divulgar ciência por que, para que e para quem?”
Ao discorrer sobre aspectos teóricos da divulgação da ciência, Luis Amorim ressaltou a importância do diálogo que se deve ter entre os profissionais que atuam na divulgação científica e o público, estimulando seu engajamento e participação. “A melhor forma de se fazer a divulgação científica é pelo diálogo. Voltando aos modelos sobre formas de se fazer divulgação que comentei [déficit, contextual, engajamento público e expertise leiga], precisamos que as pessoas conheçam e entendam melhor a ciência. Isso gente faz não com uma simples palestra, não só de uma forma, mas de muitas formas. Empoderar, discutir políticas públicas e formas de recurso são aspectos importantes para a gente fortalecer a divulgação científica”.

Amorim destacou ainda a atuação do Museu da Vida tanto na capacitação de recursos humanos na área quanto na divulgação da ciência para diferentes públicos, com a realização de exposições interativas, atrativas e tecnológicas. “Também atuamos na parte da Comunicação do Museu da Vida, com site, inserção das mídias sociais, como Facebook, Twitter, Instagram, Flickr e Youtube. Temos o Blog do Explorador Mirim e o Informativo mensal Ciência e Sociedade”, elencou.

“Trouxe alguns exemplos para pensarmos em uma comunicação mais dialógica, e temos isso com a web 2.0., caracterizada por não haver hierarquia entre os polos”, afirmou. Segundo os dados apresentados por Luis, no Brasil, 120 milhões de pessoas estão conectadas a Internet; 62 milhões acessam diariamente o Facebook, que possui 117 milhões de usuários no país; os brasileiros são líderes no tempo gasto nas redes sociais, correspondendo a 60% maior que a média mundial; o Youtube tem mais de um bilhão de usuários (um terço da Internet). 85 milhões de brasileiros assistem a vídeos online; destes, 82 milhões assistem pelo Youtube. Para Amorim, o número de pesquisa que aborda a ciência nas redes sociais ainda é muito pequeno, apesar do atual contexto. 

Ao apresentar algumas dessas pesquisas realizadas nos últimos anos, sobre os temas: centros de ciência no Facebook: como o Jardim Botânico, Mast, MCV e Planetário dialogam com seu público por esta rede social; Zika e microcefalia na página da Fiocruz no Facebook; e Fosfoetanolamina sintética: a repercussão da pílula do câncer no Youtube, o pesquisador ressaltou a importância de se “pensar, também, nos usos dos recursos disponibilizados por essas mídias como forma de estimular o engajamento nas redes sociais”, como as postagens que associam imagens a textos, e que alcançam mais público que as postagens que apresentam apenas textos. 

A interação do público foi outro aspecto ressaltado por Amorim, acerca do seu comportamento das instituições diante dos comentários. “De que forma as instituições tem buscado empoderar o visitante online”, provocou. “Apesar de a web 2.0. preconizar a interação com o público, as pesquisas mostram que as instituições não têm se comportado dessa forma. Fazer isso não é simples”, disse. 

Ao encerrar suas colocações, Amorim enfatizou: “temos que pensar em alguns desafios,. como essa questão de como fazer engajamento público e ciência, nós temos que pensar em novos modelos, mas saber das dificuldades. Alguns dos projetos que apresentei foram apoiados por recursos externos, e são muito caros. Esse é um desafio. E também como fazer a divulgação científica com o uso das tecnologias sociais, como as mídias sociais utilizadas pelos adolescentes, entre elas Snapchat e Whatsapp, são desafios tanto para pesquisa quanto para divulgação científica”. Entre outros desafios apontados estão as questões orçamentárias, recursos, pelos cortes na área da divulgação científica e da ciência e tecnologia, à nacionalização da divulgação científica, ainda muito concentrada nas regiões sul e sudeste, assim como acontece com os museus, concentrados nesses mesmos locais. “Temos que pensar, também, nas questões de políticas públicas em termos da divulgação científica”, pontuou. 

Dê voz ao seu artigo
A I Semana de Divulgação Científica estimula os participantes a divulgarem seus artigos, pesquisas e trabalhos. A proposta é desafiar os participantes a exporem, em formato de vídeo, em uma linguagem informal, sua pesquisa. 

Abertura
“Ciência para além dos muros” é o tema do painel de abertura, que será ministrado pelo reitor da Universidade Estadual de Campinas, Marcelo Knobel, que abordará os desafios, impactos e prospecções da ciência no Brasil, destacando experiências de divulgação científica. A cerimônia será realizada no dia 13 de março, às 9h30, no Auditório Externo da Fiocruz Brasília. A abertura será transmitida em tempo real, por meio da Página Oficial da Fiocruz Brasília no Facebook (acesse). A I Semana de Divulgação Científica é realizada pela Comissão de Divulgação Científica da Fiocruz Brasília e financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). A hashtag oficial do evento é #divulgacienciafiocruzbsb

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