Uma escola com muitas vozes

Fiocruz Brasília 11 de janeiro de 2018


A Escola de Governo da Fiocruz Brasília foi inicialmente concebida como Núcleo Federal de Ensino, tendo por objetivo a formação de quadros, produção de conhecimento e apoio técnico para a gestão do SUS. Em 2011, o núcleo foi ampliado e denominado Escola Fiocruz de Governo (EFG). Sua proposta é estruturar a formação e a educação permanente de gestores públicos em saúde, incorporando as características da moderna gestão de sistemas, serviços, organizações e programas. A construção de processos de educação permanente, a aliança entre trabalho e formação e a consolidação de redes de cooperação são seus principais objetivos. A história da Fiocruz Brasília é, portanto, fortemente associada à educação.

A EFG em Brasília vem lançando mão de estratégias inovadoras e coletivas. Durante o segundo semestre de 2016, por exemplo, colaboradores de diversas áreas da instituição se reuniram para elaborar conjuntamente seu projeto político-pedagógico e os professores se organizaram para realizar de modo coletivo a revisão do projeto pedagógico do curso de Especialização em Saúde Coletiva. Todo esse movimento foi e é guiado pela atuação da Escola em prol da reflexão sobre as políticas públicas, bem como pelo seu compromisso com o fortalecimento do SUS.

Até mesmo os jardins da instituição foram utilizados para que os trabalhadores se encontrassem para debater, compartilhar e trocar ideias sobre temas relacionados à Escola. Antes de um encontro, em setembro de 2016, foram espalhados quadros pela instituição, por meio dos quais se coletaram ideias e impressões sobre o conceito da Escola. Questionamentos como “a Escola que queremos precisa ter…” e “a Escola que queremos é ideal para…” estimulavam as pessoas a participar do processo. Trabalhadores falaram sobre o fortalecimento do SUS, participação dos estudantes e investimento em tecnologias como forma de ampliar a atuação da EFG. Foram realizados seis encontros temáticos até o mês de novembro, com o propósito de refletir sobre o papel da Escola de Governo e conceitos como território, extensão e mediações tecnológicas. A EFG atende à demanda de formação continuada, capacitação e aperfeiçoamento de profissionais e trabalhadores da área da saúde, contribuindo para o Sistema Único de Saúde (SUS). São diversos cursos oferecidos: de curta duração, de atualização, especialização, pós-graduação lato e stricto sensu, presenciais e a distância. A escola faz parceiras com outras unidades da Fiocruz.

A diretora-executiva da EFG, Fabiana Damásio, [atualmente, Fabiana é diretora da Fiocruz Brasília] ressalta a importância do processo de construção coletiva. Para ela, a identidade da Escola se constrói a partir da experiência das pessoas que fazem parte do corpo de trabalho da instituição, assim como do objetivo principal de educação da Escola: formar trabalhadores que atuam nas políticas públicas. “Temos que refletir de modo coletivo sobre as nossas práticas em sala de aula e pesquisas e a partir disso, desenhar as perspectivas mais colaborativas e que atendam as demandas da saúde pública”, explica. “As ações da Escola Fiocruz de Governo são o reconhecimento da educação como ação transformadora de uma realidade que muitas vezes é adversa”, afirma Fabiana.

“Olhamos para a realidade e identificamos como a Fiocruz pode contribuir para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas favoráveis para o SUS”, explica Damásio. Para se ter uma ideia de como essa iniciativa trabalha para o SUS, durante oito anos, a Escola ofereceu o curso de especialização em Vigilância Sanitária para mais de 450 funcionários da Anvisa, de 2006 a 2013. A Escola Fiocruz de Governo foi inicialmente concebida como Núcleo Federal de Ensino, em 2006, para a formação de quadros, produção de conhecimento e apoio técnico para a gestão do SUS. Os cursos são promovidos em articulação com outras unidades da Fiocruz, universidades públicas e parceiros externos, como os ministérios. O Núcleo Federal de Ensino, a partir de 2011, foi ampliado e foi denominado Escola Fiocruz de Governo.

Desde a sua criação até junho deste ano, a escola já ofereceu 283 cursos e emitiu 25.864 certificados, que englobam todas as atividades de formação ali realizadas. São diversas áreas de conhecimento: cooperação internacional, ética e bioética, gestão e planejamento em saúde, comunicação em saúde, análise de dados, epidemiologia, promoção da saúde e intersetorialidade, paradoxos da cooperação sul-sul, mediação sanitária, lei de acesso à informação e direito. Além de especialização em promoção e vigilância em saúde, ambiente e trabalho, direito sanitário, saúde coletiva e vigilância sanitária e o mestrado profissional em políticas públicas em saúde.

A Escola busca mobilizar profissionais de saúde e trazer reflexões políticas para os espaços da sala de aula, com a possibilidade de não ofertar só pós-graduação, mas identificar o que emerge como necessidade de formação imediata. Exemplos disso são os Ciclos de Debates realizados mensalmente pelo Núcleo de Estudo sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis), cursos de atualização e cursos livres. Esta é uma forma de se construírem estratégias de formação pontual e abrangente e atender demandas, viabilizando espaços de debates sobre políticas públicas e iniciativas de melhorias da saúde. Os cursos de especialização em saúde coletiva e o mestrado profissional em políticas públicas de saúde, ofertados desde 2015, possibilitam que trabalhadores externos, com diferentes perfis e inserções no território, possam participar do processo seletivo e cursar disciplinas do curso.

O mestrado, construído coletivamente a partir de 2011, tem duas linhas de pesquisas: Saúde e Justiça Social e Vigilância e Gestão em Saúde. O curso capacita profissionais para promover a necessária articulação entre a produção intelectual e a aplicação do conhecimento na área da saúde, além de buscar o diálogo intersetorial para a solução de problemas no SUS. A primeira turma, iniciada em 2015 com 20 alunos, foi concluída em 2017, sem nenhuma desistência. O edital 2017 para nova turma foi includente, assegurando vagas a indígenas, negros e deficientes físicos. Este ano iniciou-se uma parceria inovadora com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal na oferta de residência multiprofissional em gestão de políticas públicas para a saúde, visando o aprofundamento da interlocução entre ensino e serviço.

A Escola em Brasília tem articulado diversas ações em parceria com a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), na elaboração de materiais didáticos, como vídeo-aulas, videoconferências e filmes utilizados pelos docentes, produção e oferta de cursos a distância e apoiando soluções educacionais de metodologias mistas, em processos de apoio ao presencial. Esta é uma forma de ampliar o acesso e a oportunidade de educação permanente a profissionais da saúde, usando tecnologias educacionais e outros recursos digitais. Ainda em 2017, as iniciativas em educação a distância incluem cursos relacionados à formação de tutores, e eventos nacionais e internacionais. Está previsto ainda para este ano uma formação com sobre zika vírus, juntamente com a London School of Hygiene and Tropical Medicine, voltado para profissionais de saúde.

* Com o credenciamento pelo MEC, passou-se a usar a denominação Escola de Governo da Fiocruz para a instituição como um todo sem, no entanto, perder de vista a diversidade das ofertas educacionais de cada unidade. Está ainda em discussão a denominação da Escola de Governo para cada unidade/escritório da Fiocruz.

** Matéria retirada da edição de novembro de 2017 da Revista de Manguinhos. Confira a edição completa