Tuberculose nas Américas: Necessidade de avanços e o Poder da Genômica

Fiocruz Brasília 1 de outubro de 2025


A tuberculose (TB) ainda mata. E muito. Apesar de ser uma doença antiga, tratável (gratuito em diversos locais) e evitável, ela continua a fazer vítimas silenciosas nas Américas, especialmente entre os mais vulneráveis, dentre eles destacamos: pessoas em situação de rua, indígenas, migrantes e encarcerados. O que é mais alarmante, porém, é que estamos perdendo uma batalha que poderíamos vencer — e um dos principais motivos é a falta de investimento em vigilância genômica.

 

O que é vigilância genômica e por que ela importa?

A vigilância genômica é uma ferramenta poderosa que permite identificar mutações do Mycobacterium tuberculosis, especialmente aquelas que tornam os tratamentos menos eficazes, e possibilita a identificação precisa de variantes genéticas, incluindo mutações associadas à resistência a fármacos como rifampicina e isoniazida. Com ela, é possível rastrear surtos, entender como a cadeia de transmissão ocorre e agir rapidamente para conter novas infecções.

 

No entanto, nos dias de hoje, a maioria dos países das Américas ainda não possui infraestrutura adequada para aplicar essa tecnologia em larga escala. Além da necessidade ampliação do investimento, capacitação técnica e, principalmente, vontade política para implantação da vigilância.

 

A pandemia piorou tudo

Durante a COVID-19, os sistemas de saúde foram sobrecarregados causando a redução de diagnósticos de outros agravos. Diagnósticos de TB foram reduzidos, tratamentos não iniciados, e muitos casos passaram despercebidos dos serviços públicos. Agora, com a retomada das atividades, enfrentamos um grave cenário com aumento do número de pessoas infectadas e não tratadas, menos controle sobre a disseminação e um risco crescente de cepas resistentes.

 

O que está em jogo?

Sem vigilância genômica, a luta contra a TB segue com os olhos vendados. Não sabemos quais variantes estão circulando, onde estão cada uma delas, nem como adaptar os tratamentos. É como tentar apagar um incêndio sem saber onde e qual o melhor método de apagar o fogo.

 

E as soluções?

O artigo publicado na The Lancet Regional Health – Americas (Afrânio Lineu Kritski et al.) propõe caminhos importantes: investir em laboratórios, formar profissionais capacitados e criar redes de colaboração entre países. Tudo isso é essencial — mas não suficiente.

 

Precisamos também discutir como implementar essas soluções em países com poucos recursos. Como garantir que a genômica não seja privilégio de poucos? Como proteger os dados genéticos das populações mais vulneráveis? Como transformar ciência em política pública?

 

A tuberculose não escolhe suas vítimas. Mas nós escolhemos como combatê-la.

A vigilância genômica fortalece a capacidade de resposta frente a emergências sanitárias, ao oferecer subsídios para a modelagem preditiva da disseminação da doença e para o monitoramento da eficácia das intervenções. Sua integração aos sistemas de informação em saúde contribui para a construção de uma rede de vigilância mais robusta, ágil e orientada por evidências, alinhada aos princípios da saúde pública de precisão.

 

Ignorar a vigilância genômica é aceitar que milhares de pessoas continuem morrendo de uma doença que já deveríamos ter controlado. É hora de agir com inteligência, solidariedade e coragem. A ciência está pronta. Falta o mundo acompanhar.

 

Referência: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(25)00277-7/fulltext