Territórios de Cuidado: Formação-ação aprofunda debate sobre SUS e comunicação popular em Marabá

Fiocruz Brasília 19 de dezembro de 2025


Íris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)

 

Entre os dias 15 e 17 de dezembro, Marabá (PA) sediou o terceiro e último módulo do Curso de Formação-Ação em Saúde e Participação Social, reunindo lideranças de movimentos sociais de diversos segmentos dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins para refletir sobre políticas públicas, promoção da saúde e valorização dos saberes locais.

 

O primeiro dia foi dedicado a um mergulho na construção histórica do Sistema Único de Saúde (SUS), destacando a importância de compreender os caminhos que levaram à criação dessa política pública fundamental para garantir o direito à saúde no Brasil. As atividades também abordaram as políticas públicas de saúde que impactam diretamente o cotidiano das populações, além de debates sobre promoção da saúde, compreendida como qualidade de vida, autonomia e cuidado com o território.

 

Para a professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Ana Claudeise, o momento foi essencial para ampliar a compreensão sobre o sistema de saúde brasileiro. “Logo pela manhã, falamos de toda essa construção histórica do SUS, de como se chegou a essa política pública tão importante para nós. Também trabalhamos as políticas públicas de saúde que impactam diretamente a nossa vida e que, muitas vezes, não conhecemos ou não sabemos exatamente qual é o seu objetivo, ou mesmo se chegam aos territórios onde vivemos”, destacou.

 

A pesquisadora colaboradora do Programa em Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat) da Fiocruz Brasília, Missifany Silveira, ressaltou o compromisso de formação do ensino e da pesquisa que a Fiocruz tem e a importância de ver os resultados das ações realizadas junto aos territórios.

 

“A Fiocruz tem esse compromisso de formação. Falamos muito sobre território aqui e ficou muito claro como esse território é potente. Uma feira que é simples na nossa cabeça, mas quando o que sai dali é uma coisa que vocês constroem e tiram desse chão, dessa terra. Falamos também de política pública e essas políticas só foram construídas porque vocês lutaram para que elas acontecessem”, ressaltou.

 

Além das aulas expositivas, a metodologia de ensino foi diversificada e contou com várias oficinas práticas para fortalecer o aprendizado. É o que o educador popular João Paulo, do Maranhão, ressaltou.

 

“Foi um momento de troca, aprendizado e muita esperança na construção de um sistema mais justo e humano. As oficinas reforçaram ainda mais as práticas de saúde que já existem em nossos territórios e que podem continuar, como os boletins, podcasts e vídeos, fortalecendo a comunidade com incentivo da Fiocruz”, afirmou.

 

Comunicação como cuidado e saberes locais como potência

 

No segundo dia do módulo, o foco foi para “a comunicação como remédio, a saúde como direito: reflexões e saberes nos territórios de cuidado”, que evidenciou como a articulação entre comunicação popular e promoção da saúde pode gerar transformações concretas nos territórios.

 

Pela manhã, os participantes apresentaram os trabalhos desenvolvidos durante o Tempo Comunidade, com destaque para produções de comunicação popular — como boletins, podcasts e vídeos — e para a socialização de receitas afetivas, que expressam saberes tradicionais ressignificados com afeto, cultura e nutrição. O momento foi marcado pela partilha coletiva das experiências construídas nos territórios.

 

Nesse sentido, a educadora popular do Tocantins, Elizangela Mendes, destacou a relevância da formação para qualificar esses saberes já existentes nas comunidades. “A importância dessa formação está no fato de podermos nos qualificar. Temos muito a saber dentro do contexto comunitário, mas muitas vezes não sabemos como sistematizá-lo nas plataformas digitais e devolver esse conhecimento para a própria comunidade”, explicou.

 

Por fim, para encerrar o momento, o espaço formativo se transformou na Feira de Saberes e Sabores, reunindo alimentos, receitas e práticas culturais trazidas pelos diferentes territórios. A atividade promoveu o diálogo sobre a alimentação como ato político e cultural, a importância das feiras como espaços de economia solidária e acesso a alimentos saudáveis, além da valorização dos saberes tradicionais.

 

O momento também destacou o papel fundamental das mulheres na agricultura familiar, na preservação da cultura alimentar e no cuidado com a vida, reforçando a alimentação saudável como eixo central da promoção da saúde nos territórios. Em 2023, dos 81 mil produtores familiares registrados no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), 50.153 eram mulheres.

 

Dessa forma, a jornada em Marabá se encerra com o entendimento de que a formação-ação realizada juntos aos movimentos sociais cumpriu seu papel de fortalecer a participação social, valorizar os saberes populares e construir, de forma coletiva, caminhos para um sistema de saúde mais democrático, humano e enraizado nos territórios.

 

Fotos: Elitiel Guedes