Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)
Entre os dias 28 de novembro a 3 de dezembro de 2025, em Brasília (DF), aconteceu o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Abrascão, considerado o maior encontro da área que reúne movimentos sociais, pesquisadores (as), profissionais da saúde, gestores (as) e estudantes para debater os rumos da saúde pública no Brasil. E o Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília marcou sua presença com força nas atividades.
Na etapa do pré-congresso do Abrascão, o PSAT realizou a oficina “Entre territórios, sujeitas(os) e resistências: a potência da formação-ação em saúde”, reunindo diferentes sujeitos coletivos para a troca de experiências sobre ações territoriais, promoção da saúde e participação social. O encontro promoveu um espaço potente de escuta, diálogo e construção coletiva, fortalecendo redes e estratégias de atuação nos territórios.
Para André Fenner, coordenador do PSAT e pesquisador da Fiocruz, o Abrascão é um espaço estratégico para dar visibilidade às múltiplas dimensões da política pública de saúde no Brasil.
Ele destacou que essas iniciativas juntos aos territórios é o que possibilita estar no congresso com maior aprofundamento, uma vez que, é a partir das ações concretas que se elabora sobre as experiências para que se compartilhe em um espaço de debate e pesquisa.
“O Abrascão traz a dimensão de todos os aspectos da política pública de saúde no Brasil. É um congresso que traz questões importantes e elementos fundamentais, principalmente dedicados para processos em que o PSAT fez uma colaboração, uma inserção e participação. Que são as oficinas de territórios, seja na questão da saúde integral das mulheres, das práticas integrativas e complementares em saúde, mas também sobre as experiências territoriais do projeto de Territórios de Cuidado, mas também nas diversas formações que o Programa vem trabalhando”, ressaltou.
Fenner deu destaque para o lançamento do livro “Territórios Saudáveis e Sustentáveis na região do Semiárido Brasileiro”, fruto da parceria entre o PSAT e o Laboratório de Saúde, Ambiente e Trabalho (LASAT) , do Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz Pernambuco. Segundo o pesquisador, a obra reúne experiências e práticas que reafirmam o compromisso com territórios vivos, dignos e produtivos.
Lançamento histórico: mulheres das águas em destaque
Um dos momentos mais marcantes nessa perspectiva foi o lançamento do livro “Meu nome é pescadora artesanal – Duas décadas de luta da Articulação das Pescadoras da Bahia no enfrentamento da invisibilidade e defesa dos direitos das mulheres das águas”.
A mesa contou com a participação de Elionice Sacramento e Andréa Souza, organizadoras da obra, além de Karine Nicolau e Luiza Garnelo, que contribuíram para o debate sobre o protagonismo das mulheres pescadoras. A publicação é um marco de memória, resistência e afirmação política das mulheres das águas.
A obra, inspirada no pensamento da historiadora, professora, roteirista, poeta e ativista brasileira pelos direitos humanos de negros e mulheres, Beatriz do Nascimento, e foi construída por mulheres negras pescadoras que escrevem sua própria história no bojo das celebrações dos 20 anos da Articulação Nacional das Mulheres Pescadoras (ANP–Bahia). Mesmo com o desejo inicial de realizar o primeiro lançamento nas baías, as águas levaram as vozes das pescadoras ao Cerrado, fazendo ecoar, em primeira mão, esse marco no maior Congresso de Saúde Coletiva do país.
O PSAT também participou da mesa do Colaboratório com Elas – Pelo Fim do Feminicídio no Distrito Federal. Representado por Virgínia Corrêa, que socializou metodologias e práticas intersetoriais no enfrentamento à violência contra as mulheres, o espaço demonstrou o quanto uma iniciativa inovadora que une poder público, academia e sociedade civil é necessário para combater o feminicídio e construir uma articulação de políticas públicas, pesquisa, formação e ações diretas, junto aos movimentos e territórios para construir soluções efetivas e promover a proteção das mulheres.
Nesse sentido, o ciclo de formação-ação perpassa por criar o máximo de diálogos intersetoriais possíveis. É caminhando com esse horizonte que outras elaborações sistematizaram contribuições sobre esses processos. É o caso do trabalho “Promoção da saúde das mulheres e formação-ação: a experiência do PSAT/Fiocruz Brasília na defesa de direitos, equidade e justiça social”, apresentado por Luiza Garcia. E também do pôster eletrônico “Difusão da técnica de redução de estresse no SUS/DF”, apresentado por Yasmin Cruz.
Por fim, na perspectiva de fortalecer as mulheres periféricas e o protagonismo dos territórios, o PSAT seguiu com forte atuação, participando da mesa “Vivência de mulheres periféricas na promoção da saúde”, que trouxe a experiência da comunidade de Peixinhos, em Olinda (PE). O diálogo destacou práticas de cuidado construídas nos territórios, com mulheres como protagonistas dos processos de promoção da saúde.
Fotos: Luara Dal Chiavon