Projeto Territórios de Cuidado: Cachoeira recebe Oficina de Articulação Territorial

Fiocruz Brasília 15 de setembro de 2025


Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)

 

Na última terça-feira, 09, o município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, recebeu a Oficina de Articulação Territorial do Projeto Territórios de Cuidado, uma iniciativa da Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (Psat), em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde (Deppros), da Secretaria de Atenção Primária à Saúde.

 

A atividade teve como objetivo central, apresentar o projeto para os movimentos sociais atuantes no Território do Recôncavo, estimular momentos de debate sobre os temas que guiam a iniciativa, além de garantir a intervenção direta das pessoas participantes possibilitando, assim, um espaço de diálogo com representações das gestões, municipal e estadual.

 

André Fenner, coordenador do Projeto e Pesquisador da Fiocruz, comenta que o projeto já tem uma trajetória percorrida e segue com o papel de fortalecer o diálogo e participação social no tema da saúde entre movimentos e gestores.

 

“O projeto Territórios de Cuidado está em sua quarta edição na cidade de Cachoeira fazendo o lançamento da Oficina de Articulação para um público de mais de 70 pessoas envolvidas, seja de movimentos sociais, de gestores do estado e de municípios que abordam diversas cidades que estão envolvidas no Polo de Cachoeira”, ressalta.

 

No sentido da construção de diálogos, Elionice Sacramento, da Associação Nacional de Mulheres Pescadoras (ANP) lembra que o território do Recôncavo é um grande Quilombo e que quando se debate promoção da saúde, é preciso reconhecer os conhecimentos e práticas populares desenvolvidas nestes territórios.

 

“A nossa luta é para não adoecer, mas não podemos fechar os olhos para as questões de gestões que existem e são complexas. [Precisamos] nos atentar para a práticas de cuidados que existem em nossos territórios. Precisamos fazer as denúncias, mas também os anúncios, é como dizia minha mãe: enquanto reza, vai fazendo”, salienta.

 

Elionice nos convida ainda a refletir sobre a realidade das comunidades que participarão deste projeto e as muitas dificuldades que encontram para acessar os aparelhos públicos de saúde. E reforça, que é preciso desvendar as armadilhas que fazem parte de um esforço intencional para que essas populações desacreditem do SUS, pois isso favorece os diversos processos de privatização da saúde pública já em andamento.

 

Zelando pelo diálogo entre movimentos e gestores no tema da Promoção da Saúde e Participação Social, o espaço contou com representações da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI), da Bahia Pesca – Empresa pública do governo da Bahia ligada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (SEAGRI), da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECULT) de Cachoeira e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

 

A consultora técnica da Coordenação de Alimentação e Nutrição do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde (Deppros/Ministério da Saúde), Indira Gomes, abordou a concepção da temática a partir do reconhecimento de que a saúde não se constrói apenas nos serviços e políticas, mas também nas práticas comunitárias, nas formas de solidariedade e nos vínculos que se tecem entre pessoas, grupos e instituições.

“A participação social não pode ser vista como ato pontual ou formalidade, mas como processo contínuo que gera aprendizado e transformação. São os ‘bons encontros’, de escuta e diálogo, que fortalecem a autonomia e criam novas formas de viver e cuidar. Participar é parte essencial do próprio processo de saúde”, ressalta.

 

No território, essa escuta e diálogo é parte do modo de vida das pessoas e é também uma forma de mobilizar e transformar realidades. No entanto, esses saberes e vivências têm sido constantemente ameaçados pelos impactos dos inúmeros empreendimentos do capital na região, que tem afetado diretamente a vida dessas comunidades, seja destruindo o meio ambiente e o modo de vida delas, seja promovendo adoecimentos sistêmicos provenientes deste processo.

 

No mesmo passo em que fortalece o racismo histórico que violenta os povos tradicionais e restringe seus direitos básicos, como o acesso à saúde e à educação. Além de promover um epistemicídio, uma vez que tais empreendimentos têm sido implementados em antigos engenhos coloniais, fortalecendo a lógica de conhecimento colonizador que obviamente não cabe a existência e saberes desses povos.

 

O próximo passo do projeto é o Curso de Formação-ação previsto para acontecer no município de Santo Amaro em três módulos presenciais, intercalados com um intervalo de atividades do Tempo Comunidade nos Territórios. A expectativa é que durante esse processo, a partir da articulação dos movimentos, com formação e a comunicação nos Territórios, possa criar e fortalecer a resistência e organização popular na promoção da saúde.


Confira o álbum de fotos

 

Fotos: Luara Dal Chiavon (Psat/Fiocruz Brasília)