Programa de Residência para o Campo debate saúde, diversidade e território

Fiocruz Brasília 30 de outubro de 2025


Iris Pacheco (Psat/Fiocruz Brasília)

 

Entre os dias 20 e 24 de outubro, os residentes da 6° turma do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase na Saúde da População do Campo (PRMSFCampo) participaram de mais um módulo de formação. Dessa vez, o debate esteve voltado à integração entre saúde, diversidade e território, com foco especial na saúde da população LGBTQIAPN+ e dos povos do campo, das águas e das florestas. O encontro reuniu residentes, docentes e representantes de movimentos sociais e do poder público em um espaço de diálogo sobre políticas públicas, identidade, autocuidado e luta coletiva.

 

No primeiro momento, as discussões giraram em torno da relação entre Estado e políticas públicas, com destaque para as políticas voltadas à população LGBTQIAPN+, abordadas sob um recorte racial. Já o segundo momento foi marcado pelo debate sobre a saúde indígena com a participação de Niotxaru Pataxó, natural da Bahia e, atualmente, atuante em Brasília, no Ministério dos Povos Indígenas (MPI).

 

A pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e professora do Ensino Fundamental da Escola Municipal Barro Branco (Duque de Caxias/ RJ), Anakeila de Barros Stauffer, acompanhou todo o debate e ressaltou a importância desse processo para pensar um SUS mais igualitário e equitativo.

 

“É importante que a população do campo fale, não um acadêmico. Pois essa população vai trazendo os seus desafios e as suas construções acerca da saúde. E, a partir daí, buscamos trabalhar com essa diversidade dos povos indígenas, quilombolas e do campo para pensar como a sociedade civil se organiza diante do Estado com suas reivindicações em políticas públicas.”

 

Para pensar políticas públicas nesse contexto, também é necessário refletir sobre o patriarcado, o capitalismo e seus modos de produção. Aline Luana, integrante do coletivo LGBTQIAPN+ do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contribuiu com esse debate, analisando como essas estruturas impactam a saúde e a vida das populações rurais. E destacou a necessidade de fortalecer as lutas coletivas para transformar as condições impostas pelo agronegócio e promover uma vida mais saudável no campo.

 

Durante o módulo, o grupo também realizou uma visita ao Núcleo de Atendimento Ambulatorial de Diversidade de Gênero, conhecido como Ambulatório Trans, em Brasília, onde conheceram experiências e desafios do atendimento especializado à população trans e travesti no SUS. O encontro proporcionou trocas sobre boas práticas e sobre os caminhos para um atendimento mais humano e inclusivo.

 

Criado em 2017, o Ambulatório Trans é referência no atendimento a essa população no DF e atende cerca de 200 pacientes em um único dia. A unidade funciona de segunda a sexta-feira e oferece suporte multidisciplinar de psicólogos, assistentes sociais, endocrinologistas, psiquiatras, entre outros.

 

Por fim, as atividades se encerraram com uma discussão sobre saúde mental da população LGBTQIAPN+, incluindo práticas de autocuidado e espaços de partilha. Cada grupo elaborou um estudo de caso e participou de uma avaliação coletiva do módulo. A partir das sugestões da turma anterior, o programa reformulou a etapa atual, incorporando debates sobre a população negra e suas interseções com gênero e território.

 

A cada módulo, fica perceptível como o debate também fortalece a compreensão de um SUS mais equitativo e democrático, em que a diversidade e a participação social são eixos fundamentais. Ao integrar a pluralidade de saberes, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase na Saúde da População do Campo contribui para a construção de políticas públicas mais justas e para o fortalecimento do controle social no sistema de saúde brasileiro.

 

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