Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz inaugura oficinas pedagógicas em formato online

Nathállia Gameiro 25 de junho de 2020


Promoção da saúde em tempos de pandemia pauta primeiro dia (25/6), com o tema “Saúde e Meio Ambiente na Escolas”

 

Nayane Taniguchi

 

Em uma iniciativa inédita, a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz (Obsma) promove, nesta quinta e sexta-feira (25 e 26/6), a Oficina Pedagógica Online “Saúde e Meio Ambiente na Escolas”, das 10h às 12h. O novo formato, pensado como estratégia para continuidade das ações da Olimpíada no contexto da pandemia, possibilitou a participação de educadores de todo o país. O primeiro dia reuniu mais de 100 pessoas e, dada a intensa procura, foi transmitido também no Facebook da Obsma.

 

A coordenadora nacional da Obsma, Cristina Araripe, nomeou a oficina online, antes presencial e realizada por regiões, como “ensino remoto emergencial”. Durante a abertura, ressaltou os desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus, como a manutenção das ações do projeto educativo, os 20 anos da Olimpíada, que está em sua 10ª edição com inscrições abertas, e os 120 anos da Fiocruz. “Gostaríamos de estar comemorando em grande estilo, mas com a grave situação que estamos vivendo no país com a pandemia, vamos marcar esse momento nos dedicando à nossa missão, que é estar a serviço da saúde pública, da população brasileira, atentos e cuidadosos às desigualdades sociais do nosso país. A Olimpíada é uma síntese desse enorme desafio, que envolve colegas da Fiocruz de todo o país, do Amazonas ao Paraná”, afirmou. Cristina também ressaltou a atuação da Fiocruz na área da pesquisa, nas epidemias do final do século XIX e começo do século XX, no início da instituição, que 120 anos depois atua no enfrentamento da atual pandemia, com a enorme responsabilidade de manter-se junto à população brasileira. 

 

Os objetivos da Olimpíada, entre eles o estímulo ao trabalho integrado entre estudantes e professores, além dos desafios e perspectivas na Educação Básica, foram comentados pela coordenadora. A Obsma é um projeto educativo bienal voltado aos alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio, no qual os professores participam como responsáveis pedagógicos pelas propostas e projetos relacionados ao tema saúde e meio ambiente.

 

“Promoção da saúde em tempos de pandemia” foi o tema do primeiro dia de Oficina, que contou com a participação da pesquisadora do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz Brasília (Palin) e coordenadora do Curso de Especialização em Saúde Coletiva da Fiocruz Brasília, Danielle Cabrini, da secretária de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Danielle Cruz, e da coordenadora da Regional Centro-Oeste da Obsma e diretora-executiva da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, Luciana Sepúlveda, na mediação.

 

Luciana, que acompanha a Obsma desde sua criação, iniciou sua fala saudando especialmente os professores, reconhecendo as dificuldades de participação nessas ações pelas diferentes realidades vividas no ambiente escolar. A coordenadora regional propôs uma reflexão, questionando se a promoção da saúde está relacionada à educação. “Vamos refletir sobre a importância de se falar sobre promoção da saúde no ambiente da escola, as estratégias para se fazer isso e o papel do professor, além de compartilhar e conhecer boas experiências hoje”, disse. Para Luciana, promover saúde na escola é pensar no bem-estar, que é promotor do próprio sucesso escolar e de uma educação de qualidade, abordando “temas da vida e do território que fazem sentido para os alunos dentro das disciplinas, dinamizando a nossa prática”. “A promoção da saúde deve atuar na vida e relações dentro da escola, na possibilidade de escutar os alunos, promover escolhas, criar laços, sentimento de corresponsabilidade, respeito ao outro e à diversidade. Dentro da promoção da saúde tem um pilar fundamental, que é a participação, estruturante na discussão da promoção da saúde”, acrescentou.

 

Ao falar sobre “A escola como espaço de promoção da saúde”, Danielle Cabrini introduziu conceitos sobre saúde, destacou os determinantes sociais da saúde e falou ainda sobre a escola como espaço de promoção da saúde. “Faço um convite para conversarmos e pensarmos em escola como espaço de promoção da saúde, trazendo mais perguntas que respostas para termos uma conversa entre colegas professores. Temos muito a compartilhar, conversar e construir um caminho que promova saúde no ambiente escolar e que nos inclua como professores, partícipes e pessoas que vão usufruir desse bem-estar e promoção da saúde na escola”, afirmou.

 

Durante a apresentação, a pesquisadora também comentou sobre temas prioritários da promoção da saúde, presentes na Política Nacional de Promoção da Saúde (2014), como formação e educação permanente; alimentação saudável e adequada; práticas corporais e atividade física; enfrentamento do uso do tabaco e seus derivados; enfrentamento do uso abusivo de álcool; promoção da mobilidade segura e sustentável; promoção da cultura da paz e de direitos humanos; e promoção do desenvolvimento sustentável. Dois vídeos foram apresentados, sobre a percepção da saúde pela população, ilustrando o conceito ampliado de saúde e os determinantes sociais da saúde.

 

“Por muitas vezes entendemos a promoção da saúde no espaço escolar como sendo a presença do profissional de saúde, mas convido a ampliar o olhar. A saúde está presente quando organizamos uma horta na escola, quando envolvemos pais, tios e vizinhos nas atividades escolares, quando pensamos na arte, na cultura e em trazer isso para o cotidiano. Isso é potência de vida e de saúde. Qualquer promoção artística é também promoção da saúde”, acrescentou Danielle.

 

Ao comentar sobre os conceitos de pedagogia engajada da educadora Bel Hooks, a pesquisadora ressaltou o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem, “espaço de partilha do conhecimento que não é disciplinar, mas de como viver esse mundo complexo”, conforme Danielle. Para a pesquisadora da Fiocruz Brasília, promover saúde em ambiente escolar é “promover saúde no nosso ambiente de trabalho, nas nossas condições de vida e de trabalho, acolhendo a diversidade, prestando atenção na questão da acessibilidade, promovendo trocas entre gerações, em que a gente se coloca também na condição de aprendizagem”, complementou.

 

Ao abordar “A Saúde na trilha da Educação – Itinerário formativo Trilha da Saúde”, Danielle Cruz falou sobre arranjos institucionais como promotores de encontros de saúde e educação, iniciativas voltadas para essa articulação entre os dois setores, além de exemplificar ações feitas em âmbito federal que promovem pontos de intersecção entre saúde e a educação, como o Saber Saúde, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Educanvisa, coordenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e o Saúde na Escola, sob a responsabilidade dos Ministérios da Saúde e da Educação. “Esses programas têm em comum a articulação entre atores da saúde e educação para o desenvolvimento de iniciativas da saúde na comunidade escolar. Quando a gente pensa na linha da promoção da saúde, temos que pensar também nas intencionalidades e na concatenação das intencionalidades da saúde e da educação”, explicou, afirmando ainda que a promoção da saúde é um campo de convergência onde saúde e educação se integram.

O primeiro dia de Oficina também contou com debate e relatos, em vídeo, de professores que participaram das edições anteriores da Obsma. “Educação em Tempos de Pandemia” é o tema a ser abordado no segundo dia da oficina (26/6), que contará com a professora do Departamento de Didática da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jacqueline Girão, a coordenadora da Seção de Formação do Serviço de Educação do Museu da Vida da Casa de Oswado Cruz (COC/Fiocruz), Hilda da Silva Gomes, e a coordenadora Regional Sudeste da Obsma e pesquisadora da Fiocruz, Ana Lucia Soutto Mayor.

 

Obmsa está com inscrições abertas

As inscrições da 10ª edição da Obsma foram prorrogadas. A expectativa, conforme a coordenadora nacional da Olimpíada, Cristina Araripe, é aumentar a participação em 50%, mas, devido à pandemia, outras estratégias estão sendo definidas para estimular a o engajamento dos professores. “As oficinas neste formato online têm também o objetivo de chegar a mais professores”, comentou. Desde a primeira edição, a Olimpíada contou com a participação de 25,8 mil professores e de mais de 350 mil alunos, resultando em cerca de 6,5 mil trabalhos inscritos. Para esta edição, os trabalhos devem ser realizados em 2019 e 2020. Serão aceitos, também, trabalhos de participação remota, nas três categorias – produção audiovisual, produção de textos e projetos de ciências. Os projetos serão avaliados no início de 2021.