Ana Paula Blower (Agência Fiocruz de Notícias)
Em mais uma agenda no âmbito da Saúde Global e da cooperação internacional, a Fiocruz participou, nesta terça-feira (17/6), da 15ª Reunião de Ministros da Saúde do Brics, realizada em Brasília e liderada pelo Ministério da Saúde (MS). Enquanto instituição estratégica do Estado brasileiro, a Fundação coordena três dos oito temas prioritários destacados na Declaração dos Ministros da Saúde do bloco, assinada durante a reunião e voltada para pesquisa e desenvolvimento de vacinas, além da cooperação técnica e científica para ampliar a solidariedade entre os países-membros. Um balanço dessas três iniciativas, que incluem ações em vacinas, foi apresentado no encontro por representantes da Fiocruz.
“Tenho certeza de que essa plataforma (Declaração) dos ministros da saúde dos Brics se consolida como um espaço muito importante para estimular a reorganização das cadeias globais de produção, uma das grandes demandas no período pós-pandêmico”, afirmou o ministro da Saúde brasileiro, Alexandre Padilha. “Os Brics têm sido um fórum fundamental para essa articulação, para o reforço das parcerias estratégicas e bilaterais. A reunião de hoje consolida essas iniciativas, um centro de pesquisa, desenvolvimento e produção conjunta de vacinas, uma estratégia no âmbito dos Brics de cooperação de seus institutos nacionais de saúde, como a Fiocruz aqui no Brasil, com outros institutos nacionais”. Sobre os esforços do Brasil pela reorganização da produção de vacinas, Padilha também lembrou da parceria para produção de vacinas RNA mensageiro.
O ministro ressaltou que hoje o Brasil lidera três processos internacionais: o do Brics; uma parceria União Europeia e Mercosul, à medida que o país assume a presidência do bloco da América do Sul a partir de julho; e o fato de o Brasil ter lançado na Assembleia Mundial da Saúde, como fruto da presidência do G20, a Coalizão Internacional das 20 nações mais ricas do mundo para produção local de vacinas. “O Brasil assumiu a presidência por dois anos dessa Coalizão e nós já indicamos a Fiocruz para ser a secretaria executiva de forma permanente”, pontuou Padilha.
Os eixos coordenados pela Fiocruz são o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas dos Brics, que tem a missão de ampliar a capacidade regional e global de inovação, produção e acesso equitativo a vacinas; o aprofundamento da Rede de Pesquisa em Saúde Pública e Sistemas de Saúde do Brics; e a criação da Conferência de Institutos Nacionais de Saúde do Brics, cujas recomendações ajudarão a avançar o conhecimento sobre questões de saúde pública e apoiar os processos de tomada de decisão.
Como uma das ações principais presentes na Declaração, está também a recomendação conjunta dos ministros de uma parceria inédita para a eliminação de doenças socialmente determinadas. Em 2025, o Brasil assumiu a presidência rotativa do Brics, sob o tema central Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável. Dentro das prioridades definidas pelo governo, a cooperação em saúde global foi a primeira. O Brics é formado por 11 países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Multilateralismo e ampliação do acesso
Presidente da Fiocruz, Mario Moreira enfatizou durante a reunião a importância do multilateralismo para a redução das inequidades na promoção da saúde e o papel da Fundação para garantir e dar bases para o avanço das políticas públicas definidas pelo Governo Federal. “Em um momento em que o mundo testemunha uma crescente resistência ao multilateralismo, nós, como Brics, precisamos nos unir. Precisamos ser uma voz forte em defesa da cooperação — em defesa da vida”, ressaltou. “A Fiocruz acredita firmemente que os países do Brics, caminhando lado a lado, têm o poder de contribuir para transformar a ordem mundial em algo mais inclusivo, mais justo e verdadeiramente focado nas reais necessidades dos nossos povos”.
Também na reunião, o diretor de Inovação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), Ricardo De Godoi, destacou os avanços do Centro de P&D em Vacinas sob a presidência brasileira. O centro foi inaugurado em 2022 para fortalecer a cooperação em inovação, produção local e acesso equitativo a vacinas. Neste ano, o Brasil, por meio de Bio-Manguinhos,/Fiocruz promoveu três encontros estratégicos, marcando a ampliação do grupo com a inclusão de novos parceiros: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Entre as prioridades de 2025, destacam-se a consolidação de parcerias estratégicas em P&D em saúde, com foco em doenças de alto impacto, a articulação com outras redes e centros do Brics, sobretudo com o Novo Banco de Desenvolvimento, promovendo projetos integrados em inovação e transferência tecnológica e o avanço na criação do Repositório Eletrônico de P&D, proposto pela Rússia em 2024 e estruturado em 2025 como instrumento de integração científica e compartilhamento ágil de informações.
“O Centro de P&D de Vacinas é um instrumento estratégico para garantir que nossos países estejam preparados, com soluções autônomas, acessíveis e alinhadas a uma agenda que integra ciência, produção e políticas públicas”, afirmou De Godoi.
Co-coordenadora da Rede de Pesquisa em Saúde Pública e Sistemas de Saúde dos Brics, a pesquisadora da Fiocruz Adelyne Mendes também trouxe um balanço de resultados. Segundo ela, em 2025, o objetivo central da iniciativa é fortalecer os sistemas de saúde dos países do Brics. Nesse sentido, o Brasil, por meio da Fiocruz, desenvolveu um programa de trabalho baseado em três frentes: cooperação técnica, formação de quadros; e pesquisa em sistemas de saúde. Foram realizadas duas reuniões com foco no diálogo e na cooperação do Brics em áreas prioritárias, com a identificação de desafios comuns e possibilidades de ação conjunta.
A Rede oferecerá os seguintes produtos: uma “cesta” de boas práticas e políticas prioritárias em sistemas de saúde – importante base para a cooperação técnica entre os Ministérios da Saúde dos Brics; um Livro sobre os sistemas de saúde dos Brics – de autoria de cada país; uma pesquisa conjunta em termas de interesse dos países e formação de quadros em áreas prioritárias para os países Brics.
“A cooperação em saúde dos Brics é estratégica para o enfrentamento das desigualdades estruturais e de saúde no Sul global. Sistemas de saúde pública robustos podem gerar melhorias sociais e econômicas”, concluiu Adelyne, que é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). A pesquisadora do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) Claudia Horisch também coordena a Rede pelo Brasil.
Ainda entre as ações destacadas no encontro sob coordenação da Fundação está a Conferência de Institutos Nacionais de Saúde do Brics, prevista para acontecer em setembro de 2025 no Rio de Janeiro com o objetivo de fortalecer os sistemas de saúde dos países-membros por meio da cooperação técnica e científica.
Conselho permanente dos ministros da Saúde do Brics
Ao destacar o potencial de cooperação entre os países que compõe o Brics, Mario Moreira expressou seu apoio à recomendação do Conselho de Think Tanks do Brics para a criação de um Conselho Permanente dos Ministros da Saúde do Brics, junto com os mecanismos necessários para garantir seu pleno funcionamento. “Acreditamos que um engajamento contínuo e permanente entre nossos países pode desbloquear todo o nosso potencial coletivo e abrir caminhos para parcerias concretas e significativas — mostrando ao mundo que a cooperação Sul-Sul pode ser uma poderosa ferramenta para impulsionar o desenvolvimento de nossos países”, concluiu o presidente da Fiocruz.
Ao longo do dia, ele, Ricardo de Godoi e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais João Miguel Estephanio acompanharam o ministro Alexandre Padilha em reuniões bilaterais com a China, Cuba e Nigéria.
No período da tarde, foi realizado um evento de Alto Nível sobre Promoção de Práticas Alimentares Adequadas e Saudáveis e suas contribuições para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. O pesquisador da Fiocruz Brasília Eduardo Nilson participou pontuando a necessidade de substituir alimentos ultraprocessados na dieta da população, como forma de prevenção de doenças não transmissíveis.
Fotos: João Risi/MS
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