Fiocruz reforça protagonismo em cooperação Brasil-Nigéria

Nathállia Gameiro 26 de agosto de 2025


Durante a visita oficial do presidente da Nigéria, Bola Tinubu, a Brasília, nesta segunda-feira (25/8), a Fiocruz esteve presente em agendas bilaterais que reforçam a aproximação entre Brasil e Nigéria no campo da saúde e da inovação. A comitiva do governo brasileiro contou com a presença do presidente da Fundação, Mario Moreira, no Palácio do Planalto, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros de Estado, para recepcionar a delegação nigeriana.

Durante a manhã, foram realizadas reunião ministerial e ampliada. A agenda resultou na formalização de novos acordos bilaterais, ampliando a cooperação entre os países nos campos econômico, político, cultural e tecnológico.

“Estou muito honrado de ter participado da recepção ao presidente Bola Tinubu e poder colaborar para a ampliação das relações entre Brasil e Nigéria. A saúde é uma área estratégica importante de cooperação entre os países e a Fiocruz está inserida nos esforços para que haja cada vez mais parcerias nesse sentido, especialmente diante do atual cenário global. A Nigéria, enquanto país parceiro do Brics, é um aliado fundamental”, afirmou o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. 

Em junho, durante a reunião dos ministros da Saúde dos Brics, Moreira acompanhou o ministro Alexandre Padilha em reuniões bilaterais com a Nigéria. Antes, em janeiro, o presidente esteve na Nigéria em missão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) no país, com o objetivo de estreitar os laços comerciais de cooperação tecnológica. A saúde foi um dos setores em destaque, com perspectiva de colaboração com o Ministério da Saúde nigeriano na área de diagnóstico, medicamentos, formação em saúde pública e outros temas de interesse.

A Fiocruz e o país africano têm interesses de cooperação em áreas como vacina, tecnológica, doenças tropicais negligenciadas e saúde pública.  

Fórum Empresarial Brasil–Nigéria

A agenda envolvendo a recepção do presidente nigeriando incluiu também o Fórum Empresarial Brasil–Nigéria, na sede do Sebrae Nacional. O evento teve a participação de ministros, autoridades e empresários dos dois países e representantes da Fiocruz. O assessor da presidência para assuntos internacionais, João Miguel Estephanio, o assessor da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Ramon Lemos, e a pesquisadora do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), Cíntia Costa, estiveram no encontro e nas discussões. 

O evento buscou ampliar a cooperação e o comércio entre os dois países, em sintonia com a estratégia do governo brasileiro de diversificar a pauta de exportações e fortalecer a aproximação com o continente africano. 

Durante painel sobre Novas Indústrias e Transição Energética, Estephanio destacou a relevância da saúde como área estratégica de cooperação bilateral. Ele lembrou que a Fiocruz atua de forma integrada à política externa do governo brasileiro e que essa aproximação com a Nigéria permitirá a concretização de parcerias e de negócios. 

Ele explicou que a Fiocruz enxerga a saúde de forma ampliada, como direito universal e dever do Estado, conectada a temas como fome, pobreza, mudanças climáticas, saneamento básico e economia. Ele lembrou que a instituição, criada em 1900, é hoje uma das maiores indústrias farmacêuticas do Brasil, e cumpre também a função de implementar políticas públicas. 

João detalhou ainda a importância das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), política pública que fomenta colaborações entre instituições públicas e empresas privadas, com transferência de tecnologia e produção local. Essa estratégia não só fomenta a produção local no Brasil, como garante o fornecimento de medicamentos e vacinas para o Sistema Único de Saúde, sendo que, a Fiocruz é responsável por parte expressiva dessas parcerias, recebendo cerca de 37% do montante de recursos destinados à compra de medicamentos e vacinas por essa política.

O assessor reforçou a disposição da instituição em ampliar a cooperação com a Nigéria. “A Fiocruz está muito aberta ao estabelecimento de parcerias. Desde a nossa criação, em 1900, trabalhamos com parcerias para desenvolver o Sistema Único de Saúde e agora é a nossa vez de fazer o mesmo. Estamos abertos a cooperar com as agências e empresas nigerianas de saúde para fazer transferência de tecnologia e apoiar a Nigéria. A grande capacidade que o Brasil tem em termos de prover produção local pode apoiar a Nigéria a se consolidar como ator importante na economia africana, fortalecendo políticas públicas e melhorando a atenção à população nigeriana”, destacou.

O protagonismo da Fiocruz na pesquisa de doenças tropicais negligenciadas foi destacado durante o painel. “No Brasil, realizamos pesquisa em doenças tropicais que nenhum outro país do mundo faz, porque são doenças dos trópicos. A Fiocruz faz pesquisas, desenvolve produtos, produz medicamentos, vacinas, diagnósticos e biofármacos, focados em doenças que não têm o interesse das grandes indústrias multinacionais porque são doenças negligenciadas”, explicou. 

A instituição também mantém cooperação direta com o África CDC (Africa Centres for Disease Control and Prevention), centro africano de controle e prevenção de doenças, por meio de memorando de entendimento que prevê não apenas a transferência de tecnologia, mas também o treinamento de pessoal e o fomento à autonomia local para pesquisar, produzir e fornecer a saúde que as populações precisam. De acordo com João, em breve será possível anunciar produtos da Fiocruz disponíveis no mercado nigeriano, resultado direto desse movimento de cooperação.


Fotos: Ricardo Stuckert/PR e Adrielly Reis/Fiocruz Brasília