O Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom), do Ministério da Saúde, foi idealizado para o controle e a dispensação de medicamentos antirretrovirais para o tratamento do HIV/Aids por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, o estudo Avaliação da implantação do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos Siclom-HIV, da pesquisadora Danielle Amorim, mestre em Políticas Públicas em Saúde pela Escola de Governo Fiocruz-Brasília, dá conta de que existem entraves à implantação plena do Sistema, sobretudo nos estados com maior representatividade de Unidade Dispensadora de Medicamentos: Amazonas, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. A pesquisa abarca o período de 2018 a 2022, e expõe que os principais desafios estão relacionados à integração entre os módulos Operacional e Gerencial, indicando possíveis inconsistências dos dados logísticos, que podem impactar na gestão eficiente do estoque, no fluxo de informações e na previsão real de demanda dos medicamentos. A pesquisadora sugere melhorias, como treinamento permanente dos profissionais que operam o Siclom, visando à regularidade de preenchimento e à qualificação dos dados, garantindo a assistência e assegurando o acesso adequado ao tratamento.
Quais foram as principais divergências encontradas pelo estudo no Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom) para o tratamento da Aids, no período analisado de 2018 a 2022?
Danielle Amorim: O estudo identificou divergências significativas entre os registros do Siclom Operacional e o mapa mensal no Siclom Gerencial, principalmente nas categorias de Entrada MS [Ministério da Saúde] e Saída dispensação, indicando possíveis inconsistências na gestão das informações logísticas. Essas falhas comprometem a confiabilidade da série histórica de uso e consumo de antirretrovirais e impactam negativamente na gestão eficiente do estoque, no fluxo de informações e na previsão real de demanda dos medicamentos, sendo perceptível a necessidade de melhorias da qualidade dos dados para que não resulte em interrupções no tratamento e consequentes riscos à saúde dos pacientes.
Quais eram as funcionalidades originais propostas para o Sistema, principalmente quanto às categorias de Entrada MS e Saída dispensação, observadas pela pesquisa?
Danielle Amorim: O Siclom foi desenvolvido inicialmente para fins de gerenciamento logístico da distribuição de medicamentos antirretrovirais na rede de serviços do SUS, buscando garantir a rastreabilidade dos estoques e a dispensação adequada aos pacientes. Suas funcionalidades previam um fluxo eficiente de entrada de medicamentos, provenientes do Ministério da Saúde, e saída direcionada à dispensação.
Quais os principais entraves observados para a implantação integral do Siclom?
Danielle Amorim: Os principais desafios incluem falhas na integração entre os módulos Operacional e Gerencial, visto que, atualmente, os campos são editáveis e permitem interpretações ambíguas e/ou incompatibilidades nas informações geradas. A falta de um alinhamento estratégico entre os diferentes níveis de governança também dificulta a uniformização do uso da ferramenta e a consolidação de um fluxo de dados eficiente.
Quais foram as propostas de mudanças operacionais do estudo para o aprimoramento da qualidade das informações disponíveis no Siclom?
Danielle Amorim: Para aprimorar a qualidade das informações disponíveis no Sistema, o estudo propôs a implementação de um monitoramento contínuo da base de dados, a padronização dos registros de movimentação de medicamentos e a capacitação sistemática dos profissionais responsáveis pelo registro das informações. Essas medidas visam reduzir inconsistências e melhorar a confiabilidade dos dados para embasar tomadas de decisão mais assertivas na gestão da assistência farmacêutica.
O que é necessário para que o Siclom seja uma ferramenta mais efetiva no enfrentamento ao HIV/Aids e, consequentemente, para o fortalecimento do SUS?
Danielle Amorim: Para que o Siclom seja uma ferramenta mais efetiva no enfrentamento ao HIV/Aids e contribua para o fortalecimento do SUS, é essencial garantir a confiabilidade das informações, que haja uma intensificação na educação permanente dos profissionais que operam o sistema, visando a sensibilizá-los sobre a importância da regularidade do preenchimento e a qualificação dos dados em prol da saúde dos usuários que necessitam do serviço. A integração eficiente dos dados e a qualificação das equipes responsáveis pela gestão dos medicamentos são fatores determinantes para aprimorar a assistência e assegurar o acesso adequado ao tratamento, visando ao objetivo maior de eliminar o HIV/Aids como problema de saúde pública.
Danielle de Amorim Gomes Leite é autora da dissertação “Avaliação da implantação do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos Siclom-HIV”, defendida em 8 de maio de 2024, no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, sob orientação de Tainá Raiol Alencar.
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