Covid-19 e as condições de trabalho

Fernando Pinto 25 de fevereiro de 2025


A pandemia de covid-19 agravou as condições históricas de trabalho dos profissionais de enfermagem no Brasil, resultando em um grande aumento da demanda e da sobrecarga laboral. Isso gerou prejuízos que afetaram desde os horários de alimentação e descanso até a falta de apoio psicológico e financeiro, além da redução no número de funcionários nas escalas dos plantões.

 

De acordo com dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), entre abril de 2020 e janeiro de 2022, foram registrados no Brasil 833 óbitos de profissionais de enfermagem devido à covid-19. O país acumula o maior número de mortes entre profissionais de enfermagem no mundo, segundo o Cofen.

 

Além de intensificar a precarização do trabalho, a pandemia também agravou o sofrimento mental desses trabalhadores. Foi com o intuito de analisar essas condições que o enfermeiro Fagner Arruda, egresso do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, apresentou sua dissertação. O objetivo do estudo foi analisar as condições de trabalho e seus reflexos na saúde dos trabalhadores enfermeiros no estado de Pernambuco durante a pandemia de covid-19.

 

Os dados foram apresentados por meio de análise de conteúdo e, com base nas informações coletadas, foi elaborado também um Guia Prático para a melhoria das condições de trabalho dos enfermeiros no contexto pandêmico. Os resultados dessa pesquisa podem ser conferidos na nova entrevista da coluna de divulgação científica “Fala aê, mestre”.

 

Qual foi o principal desafio para a execução do seu estudo?
O maior desafio foi compreender e analisar a realidade dos enfermeiros durante a pandemia, especialmente diante da sobrecarga de trabalho e da pressão emocional. Além disso, a obtenção de depoimentos detalhados exigiu sensibilidade, pois muitos profissionais vivenciaram situações traumáticas.

 

Quais foram os métodos utilizados para coleta e análise dos dados no estudo?
O estudo adotou uma abordagem quanti-qualitativa, com entrevistas semiestruturadas para entender a percepção dos enfermeiros. As falas foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo, o que permitiu identificar padrões e sentimentos expressos pelos participantes.

 

Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros durante a pandemia?
Os enfermeiros enfrentaram sobrecarga de trabalho, falta de equipamentos de proteção adequados e ausência de suporte psicológico. Além disso, a infraestrutura precária nos hospitais, como a falta de locais adequados para descanso e higiene, agravou ainda mais o cenário.

 

De que maneira a pressão psicológica e a sobrecarga afetaram a saúde mental desses profissionais?
A pressão psicológica e a carga excessiva de trabalho levaram muitos enfermeiros a desenvolverem transtornos como ansiedade e depressão. Além disso, relatos apontam casos de estresse severo, hipertensão e até a necessidade de uso de medicação para lidar com as exigências diárias.

 

Qual foi a conclusão do estudo em relação ao impacto da pandemia nas condições de trabalho e saúde dos enfermeiros?
O estudo concluiu que a pandemia evidenciou a precariedade das condições de trabalho dos enfermeiros, com falta de reconhecimento e infraestrutura inadequada. Também ressaltou a necessidade de suporte psicológico contínuo e melhores políticas de valorização da categoria.

 

O seu estudo resultou em um Guia Prático para a melhoria das condições de trabalho dos enfermeiros no contexto pandêmico. Pode falar um pouco mais sobre esse guia?
O guia traz recomendações práticas para melhorar as condições de trabalho dos enfermeiros, com foco em três áreas: suporte psicológico e financeiro, infraestrutura e recursos, e desenvolvimento profissional. Ele foi baseado nos relatos dos profissionais e busca orientar gestores e instituições de saúde na criação de um ambiente mais seguro e acolhedor​.

 

Fagner Arruda de Lima é autor da dissertação intitulada “Condições de trabalho e seus reflexos na saúde de (as) enfermeiros (as) durante a pandemia de covid-19”, aprovada em 09 de setembro de 2024 no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, sob a orientação do professor Bruno Leonardo Alves de Andrade.

 

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