“Investir na saúde é oportunidade para o Brasil sair da crise”

Fiocruz Brasília 11 de dezembro de 2017


A saúde induz o desenvolvimento econômico e nacional a longo prazo e é elemento vital de equidade social e regional do país. A afirmação foi feita pelo coordenador das Ações de Prospecção da Fiocruz, Carlos Gadelha durante a 300ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde, realizado no dia 8 de dezembro, em Brasília. De acordo com o economista e pesquisador, o setor gera emprego, investimento, inovação e melhoria da qualidade de vida da população. 

Para o desenvolvimento do país, portanto, é preciso investir na geração de conhecimento e produção de inovações em saúde. No entanto, atualmente a propriedade intelectual se concentra nos Estados Unidos, Europa Ocidental e China e a capacidade tecnológica do Brasil é considerada precária em relação à global. O país ocupa o 14ª lugar no ranking mundial de produção científica (publicações em revistas), apresentando avanços nos últimos anos, mas ainda não tem capacidade produtiva de transformar conhecimento em inovação. Grande parte dos produtos utilizados aqui são exportados da União Europeia e da China. 

O Brasil precisa fortalecer a capacidade de ciência e tecnologia e inovação e a sua base produtiva no complexo industrial da saúde, é o que defende Gadelha. Para ele, sem isso não há ciência, tecnologia e inovação que contribua com a população. “Hoje somos apenas consumidores e reprodutores de inovações e conhecimentos que são absorvidos, se transformam em riqueza e geram emprego nos países desenvolvidos. Precisamos participar ativamente do desenvolvimento nacional e global em saúde. Se não temos projeto de desenvolvimento, não temos programa e não temos ação. Em momentos de crise é mais importante ainda a gente pensar em projetos de futuro”, explicou. 

O pesquisador defende a ciência, tecnologia e inovação em saúde como eixo estratégico da Política Nacional de Saúde. Para Gadelha, é preciso mostrar para a sociedade que a ciência não é uma invenção inacessível, mas pode ser encontrada no dia a dia, em vacinas, medicamentos, próteses, hospitais e serviços de diagnósticos. 

A saúde está presente em todas as tecnologias do futuro e lidera as áreas da biotecnologia, nanotecnologia, uso da informação da tecnologia e big data. As tecnologias de futuro são as ferramentas que podem revolucionar a vida da sociedade. Para o pesquisador, é preciso aproveitar o espaço para construir um modelo de sociedade que garanta os direitos e o acesso universal à saúde e ao bem estar e fortalecer a ciência e tecnologia para que não retroceda para níveis anteriores.  

O orçamento da saúde também foi destaque. O valor previsto para o próximo ano é de apenas 25% do disponível em 2010, há oito anos atrás. Gadelha destaca que a saúde cabe no Produto Interno Bruto brasileiro, já que o complexo industrial utiliza apenas 10% do PIB. “Não é um gasto, é investimento. Temos que avançar. Ciência e tecnologia é SUS”, ressaltou. A Fiocruz está em consonância, com um projeto de futuro vinculado ao projeto de desenvolvimento do país que envolve inovação, equidade e sustentabilidade. 

Além dos conselheiros de saúde, participaram da Reunião do Conselho Nacional de Saúde  o Vice-Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Reinaldo Guimarães, o diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde (Deciis/STCIE) do Ministério da Saúde , Rodrigo Gomes Silvestre e o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira. Os palestrantes defenderam que ciência e tecnologia precisa ser uma política de estado, que deve ser fortalecida e assumida. Outro ponto destacado e criticado foi o corte a Emenda Constitucional 95/2016, que cria um teto para os gastos públicos da União pelos próximos 20 anos.

Para Reinaldo Guimarães, a emenda é uma regressão nas atividades gerais de pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Há 20 anos não tínhamos uma massa crítica que faz pesquisa científica e tecnológica como a que temos hoje. O que conquistamos está em risco. Sem os recursos, haverá deterioração das instituições, centros de pesquisa e universidades, com efeitos sobre a política de saúde”, finalizou. 

 

Fotos por Conselho Nacional de Saúde.