Inclusão como compromisso coletivo e não luta individual

Nathállia Gameiro 5 de dezembro de 2022


Capacitismo e inclusão foram temas debatidos durante o TransformArte: Futuro, Política e Arte, evento realizado no dia 1º de dezembro pelo Comitê de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência da Fiocruz Brasília, em alusão ao Dia Internacional da Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado dia 3 de dezembro.

“Devido ao preconceito e falta de acessibilidade, a deficiência acaba se tornando a soma das oportunidades perdidas. A acessibilidade é um direito e instrumento fundamental. É preciso ainda um olhar amplo de que não é só a acessibilidade que precisamos, mas da inclusão como um compromisso coletivo e não uma luta individual. Quantas pessoas com deficiência são impedidas de sair de casa?”, indagou Vitória Bernardes, representante da organização Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME) no Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Ela criticou ainda a falta de dados específicos de pessoas com deficiência e classificou como “mais um dos inúmeros apagamentos da história sobre nossos corpos”, destacando que o futuro deve ser pensado com participação política das pessoas com deficiência, já que o capacitismo naturaliza a exclusão. Capacitismo que se multiplica a cada dia, segundo Fábio Barcelos, representante do Comitê de Acessibilidade da Fiocruz Brasília. Para ele, eventos como esse fortalecem a agenda da pessoa com deficiência na instituição.


A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, afirmou que além de celebrar, é preciso reconhecer os desafios e criar espaços de integração e sustentação de direitos para todos. “É por meio da política que sustentamos direitos, garantindo a visibilidade de todas as questões, por isso a necessidade de pensar em políticas estruturantes para pessoas com deficiência”, disse. Ela destacou o esforço da unidade em fazer com que a agenda seja permanente, sempre ancorada nos princípios e diretrizes da Fundação, buscando construir dia a dia um caminho mais inclusivo, integrado e digno para todas as pessoas. “Esperamos que lidar com a diversidade seja uma realidade presente no cotidiano, criando espaços de luta e construção coletiva para que a vida possa ocorrer com mais dignidade”, completou.

 

Luciana Sepúlveda, coordenadora do Coletivo de Acessibilidade da unidade e diretora da Escola de Governo da Fiocruz Brasília falou sobre o trabalho da Fiocruz na criação de uma cultura de inclusão, reconhecimento da diversidade, acolhimento de todos e da não opressão à diferença. “Essa luta é no dia a dia, por isso a importância de conviver com pessoas com deficiência e conhecer as histórias, corpos e questões no cotidiano. Vamos construindo um caminho em direção a uma Fiocruz mais acessível, mais inclusiva, onde a gente contribua com a sociedade na perspectiva dos direitos de cidadania de cada um de nós”, destacou. 

Preconceito histórico

A representante do Instituto Baresi (Fórum Nacional para Associações de Pessoas com Doenças Raras, Deficiências e outros grupos de minoria) e do Mangata (Coletivo Brasileiro de Pesquisadoras e Pesquisadores dos Estudos da Deficiência), Adriana Dias, lembrou do histórico de violência contra pessoas com deficiência, com a Lei dos indesejáveis da época da ditadura Vargas. A legislação da década de 40 fazia seleção de imigrantes e negros, japoneses, judeus, idosos e pessoas com deficiência, acusados de não estarem nos padrões estabelecidos e recusados como “indesejáveis”.

“Anos depois estamos aqui para dizer que não somos indesejáveis, somos pessoas que podem estudar, trabalhar, escrever livros, fazer uma exposição… Enfrentamos muitos momentos históricos. Quando as pessoas vão saber a experiência de habitar um corpo de uma pessoa com deficiência?”, questionou lembrando do poder de transformação da sociedade pela arte, que fez parte de todos os momentos do evento.

Iniciando com o recital de poesia da Anna Carolina e apresentação de dança do Street Cadeirante, grupo de bailarinas e bailarinos formado por cadeirantes e não cadeirantes. Os integrantes compartilharam suas histórias e falaram sobre a superação de medos e obstáculos e a importância de pessoas com deficiência participarem ativamente de atividades comuns a todos. Os cinco dançarinos não cadeirantes destacaram que participar do grupo aguçou o olhar sobre a acessibilidade em todos os locais que frequentam.

 

Durante o evento foram expostos ainda trabalhos de artesãos em macramê barbante e corda de sisal e imagens feitas na Argentina pela fotógrafa Jéssica Mendes, nascida com síndrome de Down. Os participantes puderam também brincar em uma máquina de fliperama feita de materiais reaproveitados de lixo eletrônico.

O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube da Fiocruz Brasília e pode ser assistido aqui.

Confira o álbum com as fotos 

 

 

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